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    Almeida e Anielle, numa reunião ministerial, em outubro de 2023: “Ela sabia que uma coisa dessas acabaria com a vida dele, por isso ela sinalizou para que ele parasse várias vezes” CREDITO: DUDA RODRIGUES/MDHC_2023

autos de denúncia

A anatomia do escândalo que derrubou Silvio Almeida

A reconstituição dos episódios que levaram a ministra Anielle Franco a acusar o ex-colega

Ana Clara Costa | 07 mar 2025_07h21
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Para dar as boas-vindas ao advogado Silvio Almeida, que assumiria o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, os integrantes do governo de transição se reuniram em Brasília num apartamento para comer uma pizza, na noite de 30 de dezembro de 2022. Como Al­meida era novato na gestão pública, o objetivo do encontro era integrá-lo a pessoas que conheciam o funciona­mento da pasta.

Almeida chegou ao jantar informal por volta de 21 horas, acompanhado de sua mulher e duas as­sessoras. Ficou cerca de uma hora e, nesse curto período, duas surpre­sas aconteceram. Ele contou aos presentes que sua esposa estava grá­vida do primeiro filho do casal. Poucos mi­nutos depois, Almeida e Anielle Franco – recém-nomeada ministra da Igualdade Racial – se cruzaram num dos dois ambientes da sala do apartamento. Estavam sozinhos ali. Travaram um diálogo banal, até que ele falou ao ouvido da colega: “Nossa, como você está linda e cheirosa hoje.” Sem entender a natureza da frase, Anielle disse “obri­gada”.

Quatro meses depois daquele jan­tar em Brasília, o palavreado de Al­meida desceu vários degraus. Ele e Anielle integraram a comitiva presi­dencial na primeira viagem de Lula à Europa depois da vitória. Entre uma reunião e outra em Lisboa, Almeida disparou frases que a deixaram parali­sada. Disse que, ao olhar seus ombros, sentia “tesão”, vontade de “morder” e “lamber”. E arrematou: “Desde a primeira vez em que te vi, te achei muito gostosa.”

Na piauí deste mês, Ana Clara Costa reconstitui em detalhes os acontecimentos que levaram com que Almeida, uma promissora liderança ne­gra que chegara ao governo a bordo das melhores expectativas, acabasse demitido pelo presidente Lula devido a suspeitas de assédio sexual. A reportagem ouviu 39 pessoas durante quatro meses, em Brasília e São Paulo. Todos acompanharam de per­to o desenrolar do escândalo sexual mais rumoroso do governo Lula, cujos estilhaços derrubaram Almeida, em setembro do ano passado. Para ouvir a defesa de Almeida, a piauí procurou doze amigos e pessoas que trabalharam diretamente com ele. Só cinco concordaram em falar, sob a condição de não terem seus nomes revelados.

Uma amiga de Anielle ouvida pela piauí sob condição de anonimato explicou a gravidade do impacto da acusação no movimento negro. “Para nós, acusar um homem negro é uma decisão muito difícil. A gente falou muito sobre isso. A mulher negra parece que fica sob constante tutela do homem negro. E, quando eles erram, a gente não pode expor esses erros porque a gente tem que cuidar deles. Somos ensinadas a ser assim, a tolerar o que o homem negro faz, a cuidar. Tudo em nome da causa. Por tudo o que o homem negro passa. Porque é a ministra de Igualdade Racial acusando um homem negro de um crime, sendo que a sociedade já criminaliza vidas negras de todas as formas.”

A interlocutores, Almeida afirmava que o episódio era uma “disputa corporativa”. Em mais de uma vez, ainda antes de o caso vir a público, falou em “se vingar” de quem estava cometendo tal injustiça contra ele. A piauí pediu entrevista ao ex-ministro ainda em janeiro, mas ele não quis falar. Ao UOL, em meados de fevereiro, ele negou peremptoriamente qualquer acusação de assédio sexual contra quem quer que seja. “Isso é um absurdo, isso é inaceitável, isso nunca aconteceu”, disse

Até agora, a Polícia Federal conta com o depoi­mento de cinco vítimas de Almeida, como apurou a piauí, e a expectativa é de que a investiga­ção resulte em indiciamento. Os advo­gados do ex-ministro passaram meses declarando à imprensa que o processo estaria contaminado porque ele não era procurado para depor. Mas Almeida foi convocado a dar sua versão no dia 25 de fevereiro passado. A pedido da PF, o ministro André Mendonça, do Supre­mo Tribunal Federal, prorrogou o pra­zo do inquérito até abril.

Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.

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