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    Erika Hilton, em foto feita em 7 de junho: ela diz que foi “convocada” para a luta política, mas que esse não é seu único objetivo de vida. “Se eu não me reeleger, eu me reinvento” CRÉDITO: GIL INOUE_2024

vultos da república

A política pop de Erika Hilton

Como a menina da periferia se tornou uma das duas primeiras mulheres trans no Congresso

Lara Machado | 02 ago 2024_07h23
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Em 2022, pela primeira vez na história do país, duas mulheres transgênero foram eleitas para o cargo de deputada federal. Em São Paulo, Erika Hilton (Psol), hoje com 31 anos, foi a nona mais votada. Em Minas Gerais, Duda Salabert (PDT), de 43 anos, ficou em terceiro lugar. A eleição simultânea, em dois estados centrais, foi um acontecimento de forte significado para o Brasil, país que registra uma alta taxa de homicídio contra pessoas trans. Tanto Erika Hilton quanto Duda Salabert estão alinhadas à esquerda desde que se embrenharam na política – inicialmente levantando a bandeira dos direitos das pessoas trans, mas depois se envolvendo em diferentes causas.

O trajeto de Erika, porém, tem uma peculiaridade, que ela mesma explica qual é: “Eu sou uma política pop”, diz a deputada, de quem Lara Machado faz um perfil na edição deste mês da piauí. “Há uma cultura política que não cabe muito em um comportamento midiático público atual. E eu mesma não cheguei na política passando pela academia, mas porque sou uma travesti negra, crescida na periferia, que via a realidade brutal que a política impunha às pessoas e disse a mim mesma que, para transformar essa realidade, para transformar o nosso corpo e a nossa mente, eu precisava estar lá.”

Erika foi criada pela mãe, Rosemeire de Jesus Santos, que trabalhava como vendedora. Sua tia Luciana Neres, irmã de seu pai, conta que, durante a infância, a menina nunca foi “repreendida”. Se ela queria o sapato de salto alto da mãe ou brincar com a peruca, Santos a deixava usar. A situação mudou quando sua mãe se converteu a uma igreja pentecostal. Os conflitos aumentaram, e a menina acabou expulsa de casa. Aos 16 anos, longe da família e sem recursos para sobreviver, Erika passou a se prostituir como travesti em Itu, no interior paulista.

A reconciliação com a mãe a levou de volta para a casa da família e para longe da prostituição. Erika voltou a estudar e se engajou com a militância política. Aproximou-se do Psol e fez parte, em 2018, de um mandato coletivo de deputado para a Assembleia Legislativa de São Paulo. Em 2020, lançou candidatura própria como vereadora. Foi a sexta pessoa mais votada e a primeira mulher trans a ser eleita para a Câmara Municipal.

Nos intervalos da política, ela se aproximou do mundo da moda, participando de desfiles e editoriais fotográficos. Foi nos bastidores de uma sessão de fotos de moda que, em agosto de 2022, ela encontrou seu novo namorado, o fotógrafo Daniel Zezza, companheiro, que decidiu mergulhar de vez na transição de gênero: está em processo de hormonização e já fez a mastectomia.

No Congresso, onde é alvo constante de transfobia, ela agora atua como um híbrido de militante aguerrida e diva exuberante, capaz de associar as referências do universo pop aos debates políticos, com isso conquistando uma legião de fãs-eleitores, sobretudo jovens. “A política é o lugar onde eu precisei estar, onde é importante eu estar, para onde eu fui chamada, convocada. E, como boa soldada que sou, estou na luta e seguirei nela enquanto as pessoas quiserem”, diz a deputada.

Assinantes da revista podem ler a íntegra dos textos neste link.

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