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Agora é pra valer. Será?

Começa amanhã em Brasília – cidade de inestimáveis contribuições ao universo futebolístico, como provam o CEUB e o Brasiliense – a Copa das Confederações. Trata-se de uma Copa América com um número um pouco maior de idiomas envolvidos. Entretanto, precisamos reconhecer que, para nós, essa Copa das Confederações tem importância maior: por não participar das eliminatórias, desde a Copa de 2010 nossa seleção não disputa jogos oficiais em que seja testada pra valer. A hora é agora.

| 14 jun 2013_15h48
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Em 1989, Brasil e Argentina se enfrentaram no quadrangular final da Copa América. O Brasil venceu por dois a zero e, muito bem marcado, Maradona mal foi visto no Maracanã. Um ano depois, as duas seleções se encontraram novamente, nas oitavas de final da Copa do Mundo, em Turim. Com uma jogada genial, Maradona deixou Caniggia na cara do gol, nos mandou de volta para casa e declarou oficialmente instalada a Era Dunga. Teve seu lado bom: fez Sebastião Lazaroni engolir seu linguajar tão rebuscado quanto vazio. Na coletiva após o jogo, um repórter brasileiro perguntou mais ou menos assim a Maradona: “Ano passado, na Copa América, a zaga do Brasil conseguiu neutralizar você e o ataque argentino. Qual a diferença entre o que aconteceu no ano passado e o que houve no jogo de hoje?” Resposta de Maradona: “A diferença é que Copa América é Copa América, e Copa do Mundo é Copa do Mundo.”

Começa amanhã em Brasília – cidade de inestimáveis contribuições ao universo futebolístico, como provam o CEUB e o Brasiliense – a Copa das Confederações. Trata-se de uma Copa América com um número um pouco maior de idiomas envolvidos. Entretanto, precisamos reconhecer que, para nós, essa Copa das Confederações tem importância maior: por não participar das eliminatórias, desde a Copa de 2010 nossa seleção não disputa jogos oficiais em que seja testada pra valer. A hora é agora.

É bem verdade que, enquanto entramos com a obrigação de ganhar, os adversários vêm pra cá muito mais interessados em conhecer a vista do Corcovado. Mas, dentro do que se tem, é a melhor maneira para avaliar quem cresce e quem amarela, quem merece continuar e quem carimba na carteira de trabalho o registro de “jogador de clube”.

Além disso, teremos em campo uma seleção com mais tempo de treinamento, poderemos olhar melhor as variações táticas – não riam, por favor –  e vamos torcer para que tudo se acerte. Do contrário, corremos o risco do Felipão convocar Marcos Assunção para salvar a pátria na bola parada.

E se dentro de campo as coisas estão meio malparadas, do lado de fora o bicho também está pegando. Apesar do massacre da mídia e de todo o oba-oba habitual, é grande o número de pessoas que não está nada feliz com todo esse papo de superfaturamento, construção de estádios em locais onde o futebol passa longe, privatização do glorioso Maraca beneficiando uma das empresas que fez o que fez no Engenhão, melhorias prometidas e esquecidas nas cidades onde haverá jogos, enquadramento do torcedor em uma espécie de padrão Fifa de comportamento e a perspectiva de uma Copa que jogará o povão para escanteio.

Lembro de uma passagem muito bacana contada por Fernando Gabeira – se não me engano, na célebre entrevista que deu, ainda no exílio, ao jornal . Na noite anterior à final da Copa de 70, os exilados que viviam no México fizeram uma reunião para decidir se torceriam ou não pelo Brasil. Houve exposição de motivos, questões de ordem, debates. Partiu-se para a votação e aqueles que preferiam torcer contra ganharam de goleada. Quando o jogo começou, silêncio absoluto e tensão total diante da tevê, até que Pelé escorou de cabeça o cruzamento de Rivellino e abriu o placar. Pronto. Todos gritaram, pularam, se abraçaram e a decisão aprovada na noite anterior foi pro brejo.

O futebol tem essa força. Mas, do jeito que as manifestações estão encorpadas, nossa seleção vai ter que jogar muito.

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