As salas de cinema do Brasil dão muito mais bilheteria para filmes estrangeiros do que para nacionais. De janeiro a setembro deste ano, a venda de ingressos de filmes estrangeiros somou 1,7 bilhão de reais; a de filmes brasileiros, só 22 milhões. O sucesso da vez foi Barbie, que em dezesseis dias de exibição arrecadou mais que o dobro que todos os filmes nacionais em 2022, somados. Em 2023, até setembro, 87% das sessões de cinema no Brasil passaram filmes estrangeiros. A última produção brasileira a ter a maior bilheteria do ano foi Minha Mãe é uma Peça 3, de 2020. O =igualdades mostra como se dá o consumo do cinema no Brasil.
Desde a primeira semana do ano, o topo da lista de filmes que geraram mais lucro no Brasil é ocupado por uma produção norte-americana. Já passaram por lá, nesta ordem: Avatar: o caminho da água, Gato de Botas 2, Super Mario Bros e Barbie. Até setembro, filmes estrangeiros já tinham arrecadado R$ 1,74 bilhão no Brasil, o equivalente a 98,7% de toda a bilheteria. A venda de ingressos para filmes brasileiros somou só R$ 22 milhões.
De janeiro a setembro, os cinemas brasileiros exibiram, em média, 84 sessões de filmes estrangeiros e 21 de filmes brasileiros por semana. Os estúdios internacionais, que têm porte para investir milhões em marketing e distribuição, dominam com folga as salas de exibição: das 71 mil sessões realizadas no país este ano, 62 mil foram de filmes estrangeiros.
Quem estava no Brasil na última semana de julho certamente soube da estreia do live-action de Barbie. O mundo cor-de-rosa da boneca tomou conta de redes sociais, shoppings, ruas e das bilheterias. Em dezesseis dias de exibição, o longa dirigido por Greta Gerwig arrecadou R$ 169,1 milhões, mais que o dobro de todos os filmes brasileiros somados em 2022. Nas semanas seguintes, a cifra continuou a engordar. Até o final de setembro, Barbie havia gerado R$ 205 milhões em bilheteria.
O último filme nacional a conquistar a maior bilheteria do ano foi Minha mãe é uma peça 3. O longa arrecadou R$ 138 milhões em 2020, com apenas 205 dias de exibição (as salas de cinema foram fechadas na pandemia). O sucesso de Dona Hermínia, interpretada por Paulo Gustavo, chegou a superar o da animação Frozen 2, segundo maior sucesso de bilheteria daquele ano. Para se ter uma ideia, o filme nacional mais assistido de 2023, até agora, arrecadou só R$ 7 milhões. Trata-se de Os Aventureiros – A Origem, estrelado por Luccas Neto.
Depois da pandemia, os serviços de streaming ganharam força no Brasil. Surgiram novas plataformas – Disney+, HBO Max, Paramount+, Starplus+ – e o catálogo de filmes produzidos exclusivamente para os serviços online cresceu. Isso talvez explique o fato de que, em 2022, as salas de cinema tiveram um público muito abaixo do que foi registrado em 2019. No último ano pré-pandemia, 172 milhões de brasileiros foram ao cinema. No ano passado, foram 95 milhões de espectadores – ou seja, praticamente a metade.
O Brasil nunca teve tantas salas de cinema quanto hoje, mas isso não significa que elas estejam disponíveis para todos. Apenas 7% dos municípios têm uma sala de exibição. Em termos populacionais, isso significa que 90 milhões de brasileiros vivem em cidades onde não há cinema. A cidade de Belford Roxo, por exemplo, na Baixada Fluminense, tem 515 mil moradores e nenhuma sala de exibição. Outros municípios populosos sem cinema são Ribeirão das Neves (MG), Parnamirim (RN), Viamão (RS) e Magé (RJ).
A indústria do cinema dos Estados Unidos também saiu da pandemia com prejuízos. O número de salas caiu de 41 mil, em 2019, para 39 mil, em 2022. Ainda assim, há uma discrepância quando se compara com o Brasil, que no ano passado tinha apenas 3,4 mil salas de cinema. Ou seja: há uma sala de cinema para cada 59 mil brasileiros, enquanto nos Estados Unidos a proporção é de uma sala a cada 8,5 mil pessoas.
Repórter da piauí
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno