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    Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

questões da política

Cabeçadas do PT no governo irritam e unem PMDB

Carol Pires | 19 fev 2016_19h12
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No momento em que o governo busca saídas para dirimir o tombo na economia, o PT vai atrás de sua própria agenda. Causou mal estar no Palácio do Planalto a decisão do vice-presidente do Senado, o petista Jorge Viana (AC), de inviabilizar o acordo feito pelos líderes da Casa de analisar o projeto do senador José Serra (PSDB-SP), que libera a Petrobras de ser operadora exclusiva do pré-sal. O projeto é bem visto pelo mercado, que passou a elogiar as iniciativas da presidente Dilma Rousseff de abraçá-lo.

No meio da tarde de quarta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros, entrou intempestivamente no gabinete do líder do partido, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que, dias antes, estivera com a presidente Dilma  para avisar que o Senado votaria o projeto de Serra. Calheiros reclamava do PT. O governo havia dado o sinal verde para a votação do projeto, com alterações para garantir que a estatal decida sobre sua participação nos próximos leilões. Um dia antes, terça-feira, Calheiros também se encontrou com Dilma no Palácio do Planalto para discutir a questão quando, do outro lado da rua, Viana fez a leitura, em plenário, de uma medida provisória que trancou a pauta de votações, o que inviabilizou o acordo feito pelos líderes de começar a discussão do projeto de Serra ainda naquela noite.

A posição do PT incomodou mais uma vez o PMDB. Mais uma vez o partido da presidente jogava contra. Passa por esses e outros trancos do partido da presidente a decisão dos caciques peemedebistas de voltarem às boas depois de dois últimos meses conturbados. Os dois lados – o dos alinhados com a oposição, próximos ao vice-presidente, Michel Temer, e os mais governistas, liderados por Renan Calheiros – chegaram à conclusão de que estão brigando para ajudar um governo que não se ajuda, num momento em que o PMDB martela na ideia de lançar um candidato próprio à presidência em 2018.

A briga entre os peemedebistas alinhados à oposição e os mais governistas  começou em meados de dezembro, depois que a Executiva Nacional do partido, presidida por Temer, decidiu filtrar todas as novas filiações. Nas palavras de um cacique, com essa medida, o vice-presidente “quebrou a lógica do partido”, onde “cada um é coronel na sua praia e ninguém é coronel de ninguém”.

A troca de farpas foi pública. Calheiros acusou Temer de agravar a crise política. O vice soltou nota, uma indireta a Calheiros, dizendo que o partido não tinha “donos nem coronéis”, e o senador chegou a se referir ao vice-presidente como “mordomo de filme de terror”. No auge da briga, o PMDB do Senado ameaçou lançar candidato contra a recondução de Temer à presidência do partido, onde ele está desde 2001.

Quem primeiro estendeu a mão foi Temer, que telefonou para o senador Eunício Oliveira convidando-o para um encontro. Apesar de ser do PMDB do Senado, Eunício foi três vezes deputado e é muito ligado a Temer. Os dois almoçaram numa quarta-feira, dia 27 de janeiro, no Palácio do Jaburu. Na semana seguinte, as peças voltariam a se acomodar no tabuleiro.

Eunício convenceu o senador Romero Jucá de que não havia por que “expor nossas vísceras em praça pública”, e que todos perderiam se impusessem uma derrota ao vice presidente. Mas também há outra razão que os senadores preferem não dizer em voz alta: com José Sarney adoentado, Romero Jucá e Renan Calheiros na Lava Jato, quem seria o candidato a disputar com Temer o controle do partido?

Na segunda-feira, dia 1º de fevereiro, Jucá e Eunício passaram boa parte da madrugada na casa de Calheiros. Na manhã seguinte, este último tomou café da manhã com Temer para selar as pazes. “Foram só declarações de amor”, comentou  o auxiliar do vice.

A convenção do partido que deve reconduzir Temer à presidência peemedebista foi antecipada para o dia 12 de março. Um membro da executiva disse que, depois do acerto, mais filiados se animaram a participar da convenção e o partido até reservou um salão maior. A chapa ainda não está fechada e discute-se a possibilidade de o senador Romero Jucá, o favorito, abrir mão de ser indicado à vice-presidência do partido em benefício de Renan Calheiros.

Com a ajuda do PT, a confraria de caciques está reconciliada. Pelo menos por ora.

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