Ilustração: Carvall
A ciranda tucana de traições
Os caminhos que levaram à implosão tragicômica da social-democracia brasileira
É uma história que se repete. Em 1987, o PMDB não conseguia chegar a um consenso sobre lançar ou não candidato às primeiras eleições diretas pós-ditadura – e quem seria o nome. Os insatisfeitos com esse impasse decidiram sair e criar sua própria sigla, cujo símbolo seria um tucano azul e amarelo, com Mário Covas como presidenciável. Passados 35 anos, agora é o PSDB quem, pela primeira vez, não terá candidato próprio numa eleição. Prepara-se para apoiar seu casulo, o MDB, na corrida presidencial. Tudo isso depois de uma guerra fratricida entre dirigentes tucanos, e de as prévias do partido entrarem para o anedotário de piadas da política nacional.
Se tudo correr conforme as expectativas, na reunião da Executiva Nacional marcada para esta quinta-feira (9), o PSDB decidirá apoiar a emedebista Simone Tebet para presidente e indicará o vice da chapa – as apostas recaem sobre o senador tucano Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará. A jogada permite que a legenda poupe recursos de uma candidatura presidencial e distribua maior volume aos deputados, além de fortalecer algumas candidaturas estaduais. Os tucanos pediram que, em troca do apoio, o MDB abrisse mão das candidaturas do Rio Grande do Sul, de Pernambuco e do Mato Grosso do Sul. Mas, dentro da cúpula, já é ponto pacífico que, se levarem ao menos o Rio Grande do Sul, o apoio a Tebet estará selado.
O deputado Aécio Neves (MG), renascido das cinzas em meio à disputa que dinamitou o partido em 2022, ainda defende uma candidatura própria. Por trás dessa estratégia – que, tudo indica, será derrotada – está sua busca por reeleição na Câmara. Já a candidatura a vice de Jereissati, que já havia antecipado este ano que deixaria a política, é, na visão de alguns tucanos, “uma saída honrosa” num pleito em que a chapa MDB-PSDB sairá como coadjuvante de uma disputa polarizada.
A deslealdade entre tucanos produziu muitas das guerras que culminaram no atual desfecho. A entrada do empresário João Doria no quadro de candidatos do partido, em 2016, coincidiu com uma sequência de brigas e traições que, vistas em perspectiva, culminaram no golpe interno desferido contra o próprio Doria este ano. O ex-governador venceu as prévias para disputar a eleição presidencial, mas terminou sem mandato, sem cargo e sem aliados.
Tudo começou em setembro de 2015, quando o ex-ministro da Justiça José Gregori resolveu apoiar o então pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Andrea Matarazzo, e organizou um jantar em apoio ao político sem pedir antes a bênção do governador Geraldo Alckmin. Em retaliação, Alckmin faltou ao evento e declarou apoio a Doria nas prévias para a prefeitura. O apoio foi visto como equívoco pelos tucanos fundadores, pelo fato de Doria, embora filiado, nunca ter participado da vida partidária. Eleito prefeito, Doria dizia informalmente que tinha o sonho de ser presidente. Mas o timing não poderia ser menos conveniente: tudo indicava que seu padrinho Alckmin, em seu quarto mandato governando São Paulo, seria o candidato natural.
As traições proliferaram nos idos de 2018. Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Aécio Neves (PSDB-MG) se engalfinhavam no Senado pelo controle do partido. Doria articulava para minar a candidatura de Alckmin e não via impedimento em trocar o prédio antigo do Banespa pelo Planalto em apenas dois anos de vida política. Mas Alckmin tinha o controle dos principais diretórios do partido, o que o blindava do fogo amigo do ex-pupilo, e saiu candidato.
A ciranda da traição continuou, com alguma dose de frieza. Primeiro, Alckmin convenceu Doria de que o caminho estava livre para que abandonasse a prefeitura e se candidatasse ao governo do estado. Mas, depois que Doria deixou o cargo, Alckmin trabalhou para que outros tucanos entrassem na disputa e, nos bastidores, trabalhou por Márcio França, do PSB. Doria revidou: não só tentou boicotar a candidatura de Alckmin como exibiu sua penugem para Jair Bolsonaro antes mesmo do primeiro turno presidencial – aquele em que Alckmin amargou menos de 5% dos votos.
Tucano mais jovem, da plumagem dos “cabeças-pretas”, Bruno Araújo foi ministro das Cidades de Michel Temer e, em 2018, saiu do governo para concorrer ao Senado por seu estado, Pernambuco. Uniu-se a Doria no alinhamento a Bolsonaro e amargou o quarto lugar na disputa pernambucana, ficando sem mandato. Araújo e Doria se conheciam de outros carnavais. Quando Doria ainda comandava o grupo empresarial Lide, Araújo costumava frequentar os eventos produzidos por ele. Antes disso, quando era um deputado sem muitos amigos em São Paulo, Araújo pedia para participar dos eventos do Lide no intuito de melhorar seu relacionamento com o meio empresarial, no que era frequentemente atendido por Doria. Antipetista e entusiasta dos “panelaços” contra Dilma Rousseff (PT), Araújo proferiu em 2016 o voto 342, que confirmou a admissibilidade do processo de impeachment de Dilma na Câmara.
Em 2022, foi ele quem deu o golpe de misericórdia no ex-amigo Doria.
Eleito governador de São Paulo, Doria achava que, tal como ocorrera com Alckmin, seu posto como presidenciável estava garantido. Caso não fosse alçado à vaga por aclamação, ganharia as prévias por governar o estado com o maior número de diretórios – sobre os quais ele próprio, por ser governador, tinha ingerência. Doria, de fato, ganhou as prévias. Mas a disputa contra Eduardo Leite, então governador do Rio Grande do Sul, foi repleta de tapetões e traições. A maior delas veio do próprio Leite, que, mesmo depois de derrotado, continuou articulando com os dirigentes tucanos para invalidar as prévias vencidas por Doria. Seu argumento era cartesiano: seu nome tinha muito menos rejeição do que o do paulista, segundo as pesquisas.
Em dezembro de 2021, um membro da equipe de Doria relatou estar animado com as perspectivas eleitorais. Tratava-se de puro otimismo, já que, segundo a pesquisa Ipespe, encomendada pela XP Investimentos, ele marcava módicos 3% em intenções de voto – patamar que nunca se alterou significativamente até a sua desistência, em maio. Mas o correligionário dizia acreditar que os números decolariam. “As qualis (pesquisas qualitativas) mostram que ele melhorou bem e vai melhorar mais, com as entregas que vai fazer no estado. E, conforme o [Sergio] Moro cresce, o desespero da classe política vai jogar essa eleição no colo do João”, disse o correligionário. Em janeiro, com a resistência ao seu nome crescendo dentro do partido mesmo depois das prévias, sua equipe já estava menos exultante. “Quem tem estrutura para se viabilizar é o João Doria. Se ele vai ser o candidato da terceira via, só Deus sabe. O mais provável é que não tenha opção. E, sem opção, vai vir todo mundo no colo do João”, me disse o mesmo aliado.
Em fevereiro deste ano, iniciou-se o choque de realidade. Um dos correligionários de Doria relatou ter presenciado uma reunião da bancada do partido na Câmara em que os deputados não demonstravam a menor intenção de dividir o fundo eleitoral de 314 milhões de reais com o presidenciável. “Fiquei mais de 3 horas com eles e em nenhum momento falamos de Brasil. Só falam em dinheiro, dinheiro. Deputado só pensa em dinheiro. E ainda falaram: ‘Ah, o João se vira’”, contou o aliado. “Somos um partido político. Partido político tem que ter candidato. O PSDB historicamente tem candidato a presidente e nós administramos esse país por oito anos”, disse o tucano, num misto entre indignação e exaltação. Outro tucano que ouviu a reunião e também falou sob a condição de não ter sua identidade revelada, disse que, se um diálogo da bancada do PSDB fosse gravado, haveria espanto, dado o “baixíssimo nível” da discussão e o “descomprometimento” com o país.
Naquele mesmo período, enquanto Doria queria crer que a resistência ao seu nome estava apenas na voracidade da bancada tucana e em alguns caciques, o senador Tasso Jereissati desabafou com um aliado. “Nós, os mais velhos, estamos sendo pressionados por todos os cantos. Os candidatos nos dizem que não têm condição de concorrer ao governo de braço dado com o Doria. E nos pressionam para que façamos algo. Estamos perdendo candidatos por causa dele. O Doria é muito pesado para carregar. As pessoas conversam com ele, mas ele é irredutível. Diz que ganhou as prévias e está montado nisso”, lamentou Jereissati. Diante da inviabilidade política de Doria, os caciques tucanos iniciaram conversas com o MDB sobre uma candidatura única capitaneada pela senadora Simone Tebet – uma ideia do próprio Jereissati, que avaliava que a senadora poderia perder, mas pelo menos não seria um peso para nenhum candidato. Tebet, Doria chegou a dizer, era a sua “vice dos sonhos”.
Também em fevereiro, num jantar na casa do ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB-MG), em Brasília, alguns tucanos se reuniram para debater o futuro do partido. Estavam nomes como Jereissati, José Aníbal e o próprio Eduardo Leite. Até Aécio Neves saíra das sombras para comparecer ao evento. Doria não fora convidado e apelidou o convescote de “jantar dos derrotados” em uma entrevista dada à Rádio Eldorado. Dias depois, um dos presentes contou ter ficado indignado com a reação do então governador. “Ao falar isso ele rompe justamente com quem poderia lhe dar algum apoio”, avaliou o cacique tucano naquele início de fevereiro. Desse momento em diante, a interlocução de Doria com a cúpula do partido passava de difícil a inexistente.
Em março, o caldo dava sinais mais claros de que iria entornar. O então vice-governador Rodrigo Garcia entrara no PSDB em maio de 2021 com a promessa de que seria apoiado como sucessor de Doria. Ficara toda a sua carreira política no DEM (hoje chamado de União Brasil), especialmente no grupo de Gilberto Kassab, quando este ainda não havia fundado o PSD. A aliança com Kassab se rompeu quando o então prefeito de São Paulo coletava assinaturas para a criação de seu partido. Na lista de assinantes, que fora descoberta pela imprensa, havia nomes de pessoas mortas. Kassab culpou Garcia pelo vazamento, alegando traição. Viraram ex-amigos.
Doria também passou a desconfiar de que Garcia não estava nada entusiasmado em apoiar sua candidatura. Mas não tardou em ouvir da boca do próprio vice a razão: Garcia disse abertamente ao então governador que sua candidatura era um obstáculo para que o PSDB triunfasse no estado, dada a sua alta rejeição. Aliados que sempre estavam presentes nas reuniões de pré-campanha de Doria passaram a faltar – e comparecer nos encontros organizados por Garcia. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) foi uma das maiores decepções, segundo fontes ouvidas pela piauí. Mas não foi o único. Uma reportagem da Folha de S.Paulo revelou que cerca de 500 milhões de reais em emendas do orçamento secreto foram repassados à bancada do PSDB, agraciando pelo menos dezenove dos 22 deputados – Sampaio incluído. Como a debandada tucana coincidiu com o período dos repasses, suspeitou-se que a estratégia levava a assinatura do governo, no intuito de inabilitar candidaturas da centro-direita.
Bruno Araújo, hoje presidente do PSDB e até então aliado de Doria, fora nomeado coordenador da pré-campanha à presidente. O movimento visava a delegar funções de campanha a Araújo para inibir que ele, como presidente, aderisse oficialmente ao grupo anti-Doria. A estratégia deu errado, já que Araújo coordenou, na verdade, o golpe que dinamitaria as ambições do então governador.
Ao final de março, Doria estava completamente isolado. Encalacrado com 2% nas pesquisas, via seu comitê de campanha se esvaziar. Sentia-se traído por Araújo e Garcia, que não se moviam para ajudá-lo a recuperar apoio no partido. Foi quando, na tarde do dia 30, decidiu trair Garcia e avisou-o que desistira de sair do governo de São Paulo. Assim, Garcia ficaria sem a candidatura estadual e Doria se blindaria de uma possível invalidação das prévias, mantendo-se no cargo e podendo se candidatar à reeleição. O vice ficou sem rumo, embora já viesse farejando o movimento algumas semanas antes. Chegou a relatar a Araújo o temor de que Doria desistisse de se desincompatibilizar. Em seu apartamento, localizado numa pequena rua a poucos passos do Parque do Povo, num bairro nobre da Zona Sul de São Paulo, o tempo fechou. Seu irmão, Lelo Garcia, foi chamado e, furioso, aconselhou Rodrigo a ameaçar Doria a resolver o caso “na bala”. Lelo Garcia foi condenado em segunda instância em 2018 a 16 anos de prisão em regime fechado, por ter integrado o esquema da “Máfia do ISS”, que cobrava propina de incorporadoras para auxiliá-las a sonegar o imposto municipal, durante a gestão de Kassab na prefeitura. Chegou a ser foragido, conseguiu um habeas corpus no STJ e seu caso ainda não transitou em julgado – por isso, está solto.
A conversa entre Garcia e Doria foi tensa, mas não incluiu ameaça física. Enquanto Doria alvoroçava as penas tucanas ao ameaçar permanecer no governo, o vice-governador dormiu auxiliado por medicação ansiolítica, sem saber se assumiria como titular no dia seguinte – afinal, estava próxima a data-limite para a desincompatibilização.
Araújo entrou em campo para apagar o incêndio e redigiu uma carta se comprometendo a respeitar as prévias. Acreditava que, se Doria não deixasse o governo do estado naquele momento, a derrota do partido em São Paulo seria certa, dada sua enorme rejeição. Mas, no reino de traições tucanas, a validade do documento expirou em poucos dias. Num jantar com empresários no dia 11 de abril, Araújo contou outra história: que a candidatura de Doria só valeria se fosse escolhida pela coligação com o MDB e o Cidadania. Segundo a jornalista Julia Duailibi, da GloboNews, Araújo relatou a alguns presentes que Doria fez “chantagem” com ele. E que, ao ser indagado sobre a carta, sugeriu que Doria fizesse o seguinte: “Enquadra a carta e põe na cabeceira.” Dias depois do jantar, Doria destituiu Araújo da coordenação de sua pré-campanha. O tucano soube da notícia pela imprensa e respondeu em termos bélicos no Twitter: “Ufa! Comando que nunca fiz questão de exercer. Aliás, ele sabe as circunstâncias em que e o porque (sic) ‘aceitei’ à época. Aliás, objetivo cumprido!”, escreveu.
Diante do pandemônio que se armava no PSDB, o nome de Simone Tebet tornara-se o mais conveniente para os dirigentes de partidos simpáticos à cada vez mais esquálida “terceira via”. No campo das miudezas partidárias, a candidatura de Tebet permitiria que o MDB liquidasse seus gastos obrigatórios com candidatas femininas lançando praticamente só uma mulher. Tebet tampouco seria um fardo político para as demais candidaturas, dado o seu baixo índice de rejeição – e também de popularidade.
Àquela altura, embora em público dissessem o contrário, Doria e sua equipe sabiam que não haveria chance. Defendiam que concorrer e perder seria importante por duas razões: se ele saísse do primeiro turno com pelo menos 10% dos votos, teria algum capital político para pleitear a presidência do partido e não submergir politicamente por completo. Em outra frente, a campanha poderia ser usada como uma estratégia institucional de reafirmação das ideias da legenda. “Seria uma construção importantíssima da imagem do partido porque ninguém mais sabe o que é o PSDB hoje”, disse um integrante do núcleo mais próximo de Doria.
Faltou combinar o plano com Bruno Araújo e os demais dirigentes tucanos, que passaram a declarar abertamente apoio a Tebet. Araújo escalou o marqueteiro Paulo Guimarães para produzir uma pesquisa a toque de caixa sobre as possibilidades da terceira via. Como o pedido havia sido feito em cima da hora, não houve tempo de registrá-lo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que acabou causando desconforto para Guimarães, que poderia ser multado em até 200 mil reais caso os números vazassem.
Doria avaliou a encomenda como uma afronta e, num papel timbrado do escritório de seu advogado eleitoral, Arthur Rollo, despachou ameaças a Araújo. Escreveu que aquilo era uma “tentativa de golpe” e ameaçou judicializar as prévias, caso houvesse resistência do partido. A carta deu combustível para um contra-ataque e Araújo decidiu convocar uma reunião extraordinária da Executiva do partido para deliberar sobre a candidatura presidencial. Na terça-feira, 17 de maio, dos trinta membros da Executiva, apenas dez foram favoráveis ao paulista. Entre as traições mais doídas estavam a de Carlos Sampaio e do senador Izalci Lucas (PSDB-DF). “Nós jantávamos quase toda semana na casa do Izalci em Brasília”, lamentou um membro da equipe. “E, na hora da Executiva, ele foi contra.” O ex-governador Eduardo Azeredo, que viajou de Minas Gerais para o encontro, ponderou que parecia estranho estarem discutindo o futuro da candidatura presidencial num encontro sem a presença do pré-candidato.
Diante da decisão dos caciques, as lideranças dos demais partidos da coligação – o MDB e o Cidadania – foram convocadas para um encontro no dia seguinte. Araújo mostrou os números obtidos por Guimarães: Doria estava acima de Tebet nas sondagens de intenção de voto (ambos seguiam próximos de zero), mas tinha rejeição bem maior – nada muito diferente do que já se sabia, mas o suficiente para sepultar o sonho presidencial do hoje ex-governador. “O Doria é o vencedor das prévias do PSDB. Mas a coligação não tem nenhum compromisso de respeitar as prévias de qualquer um dos partidos. O candidato presidencial é uma decisão dos membros da coligação”, vaticinou Roberto Freire, presidente do Cidadania, logo após a reunião.
Naquela mesma noite de quarta-feira, em São Paulo, mais frustrações. Doria compareceria a um jantar com empresários que, dias antes, se propuseram a declarar apoio ao seu nome. Conforme a data se aproximava, a pauta do jantar foi se transformando em debate de ideias e se distanciando da premissa eleitoral imaginada pelo tucano. Sem poder contar nem mesmo com o apoio público dos mais chegados, Doria não compareceu. No dia seguinte, quinta-feira, aceitou que era o fim da linha. Naquela manhã, o jornal O Estado de S. Paulo publicara uma entrevista com Rodrigo Garcia em que ele declarava que seu candidato seria aquele escolhido pela terceira via. “Aquela entrevista escancarou que nem São Paulo nós tínhamos mais”, afirmou um aliado de Doria. O irmão do ex-governador, Raul Doria, que acompanhou todo o processo de perto, avisara que a situação era inviável, entre outras coisas, porque não era possível arrecadar nenhuma doação para uma candidatura na qual ninguém confiava que fosse perdurar.
Na sexta-feira, 20, Doria convocou sua equipe para comparecer à sede da campanha, na Avenida Brasil, em São Paulo. Estavam presentes poucos remanescentes: a turma de comunicação, o deputado estadual Marco Vinholi, Raul Doria, o coordenador de campanha Antonio Imbassahy e o tesoureiro do partido, Cesar Gontijo. Ele antecipou que desistiria, mas que, antes de a decisão se tornar pública, precisaria definir como seria anunciada. No sábado, a mesma turma se reuniu em sua casa, no Jardim Europa, em torno de fornadas de pizza margherita – assadas no forno da recém-inaugurada área gourmet da mansão – com sucos e refrigerantes, nada de álcool. A estratégia de saída contemplava dois pontos: deixar claro que se tratava de um desfecho motivado pela cúpula partidária e atenuar qualquer mal-estar com Rodrigo Garcia, que, se eleito governador de São Paulo, teria poder de fogo junto ao PSDB e comandaria os diretórios de São Paulo. Seria, portanto, um aliado importante – não fosse o detalhe de que ele até agora tem só 6% das intenções de voto e está em quarto lugar nas pesquisas. No domingo, a conversa ocorreu no Palácio dos Bandeirantes, já com a presença de Garcia e Bruno Araújo. O discurso de desistência foi escrito naquela noite por Raul Doria e pelos marqueteiros Daniel Braga e Lula Guimarães.
Ao avaliar os últimos acontecimentos, um tucano que participou da fundação da legenda lamentou a que ponto as coisas chegaram. “Um partido pode não ser tão grande em número de parlamentares, mas pode ser grande em seu ideário. Esses últimos acontecimentos mostram que o PSDB não consegue mais ser grande em nada. Virou cabeça de chapa da série C. É uma pena”, disse o político, que pediu que seu nome não fosse revelado por não querer causar mais atrito em meio às guerras internas. Outro interlocutor histórico da legenda disse que a confusão de 2022 confirmou que o PSDB está em suas “exéquias” e cada vez mais “peemedebizado”. “O partido que se afirmou em 1989 ao lançar a candidatura presidencial de Mário Covas não existe mais. Dar mais importância aos estados e aos deputados sempre foi a estratégia do PMDB. Eu ouço a marcha fúnebre.”
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