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Copa do Mundo e sopa quente: a ambas se recomenda que se tomem pelas beiradas

Aqui no trabalho, logo que acabou Holanda e Espanha, tinha gente querendo dar a Copa por encerrada e entregar de uma vez o trofeu à seleção holandesa. Precipitação. A Holanda tem um bom time – sempre tem –, mas o que aconteceu sexta-feira em Salvador foi um despropósito. Coisa típica de um dia em que tudo dá certo para um lado e errado para o outro. Além disso, os italianos já nos ensinaram que Copa do Mundo deve ser tomada pelas beiradas, feito mineiro, sem alarde, sem chamar demais a atenção para si. Ganha-se de pouco e quando é preciso, empata-se quando é possível, vai-se levando na maciota e, quando os outros acordam, já era.

| 16 jun 2014_14h59
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Aqui no trabalho, logo que acabou Holanda e Espanha, tinha gente querendo dar a Copa por encerrada e entregar de uma vez o trofeu à seleção holandesa. Precipitação. A Holanda tem um bom time – sempre tem –, mas o que aconteceu sexta-feira em Salvador foi um despropósito. Coisa típica de um dia em que tudo dá certo para um lado e errado para o outro. Além disso, os italianos já nos ensinaram que Copa do Mundo deve ser tomada pelas beiradas, feito mineiro, sem alarde, sem chamar demais a atenção para si. Ganha-se de pouco e quando é preciso, empata-se quando é possível, vai-se levando na maciota e, quando os outros acordam, já era.

De todo modo, durante a partida ficou fácil constatar como estamos atrasados não apenas em nosso jeito de atuar, mas também na maneira de falar sobre o jogo.

Já houve um tempo em que a gente percebia claramente um time escalado no clássico quatro-dois-quatro. Quatro caras só defendiam, quatro só atacavam e dois se encarregavam de ligar uns aos outros.

Existe a lenda de que, na Copa de 58, na estreia contra a Áustria, enquanto Nilton Santos avançava com a bola, o treinador Vicente Feola gritava do banco: “Volta, Nilton! Volta, Nilton!” E quando Nilton Santos concluiu a jogada, fazendo dois a zero, Feola teria completado: “Boa, Nilton! Boa, Nilton!” Não dá para acreditar muito nela, mas a história é ótima. E exemplifica como era o futebol na metade do século passado.

Com esquemas rígidos e funções definidas, o jogo era estático e lento. Mudou demais, virou uma correria que cansa até quem assiste, mas continuamos tentando exprimir em números esquemas táticos que são, acima de tudo, dinâmicos. Mais: adoramos rótulos. Classificamos como retranqueiros os técnicos que preferem montar seus times com três zagueiros. E somos ingênuos. Achamos que, para aumentar a ofensividade, a solução é entrar com um monte de atacantes. Nem uma coisa, nem outra.

Três-cinco-dois, quatro-três-um-dois, quatro-um-quatro-um, isso só vale para os jogadores se espalharem em campo na hora do apito inicial. Depois, babau. Nos esquemas táticos modernos, os únicos a guardar posição costumam ser os zagueiros de área, e aos demais quase tudo é permitido. O que importa é como cada time procura aumentar os espaços para permitir suas jogadas de ataque, e reduzi-los para não dar chance ao adversário.

Para enfiar cinco gols numa das seleções mais temidas do mundo, a Holanda entrou em campo com três zagueiros-zagueiros, dois volantes à frente deles e, maravilha das maravilhas: sem um centroavante fixo. Pois é.
 

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