Foto: Agência Petrobras / Stéferson Faria
Corra, Parente, Corra
Pouco antes de tomar posse no comando da Petrobras, no início de junho, Pedro Parente se encontrou com o presidente Michel Temer para falar sobre o que o esperava, na empresa. Na conversa, que relatou a analistas em sua primeira reunião com representantes do mercado, Parente comparou o desafio da Petrobras ao que ele mesmo enfrentou em 2001, quando foi “ministro do apagão” no governo Fernando Henrique Cardoso. “Talvez estejamos diante de uma crise tão profunda quanto aquela”, ele se recordou de ter dito a Temer, no relato aos analistas.
Desde que se instalou no novo posto, no dia 2 de junho, a principal tarefa de Parente tem sido entender a exata dimensão do problema. As primeiras semanas foram dedicadas à troca de ideias com funcionários e a conversas reservadas com executivos do setor de petróleo e ex-dirigentes da estatal. Nos diálogos, Parente faz muitas perguntas e anotações, mas dá poucas pistas do que pretende fazer, e lembra sempre que ainda está elaborando o plano estratégico da companhia. Nos últimos dias, conversei com quatro desses interlocutores do novo presidente da Petrobras. Apesar de terem saído das conversas bem impressionados, certos de que ele é capaz de tirar a companhia do atoleiro, alguns ainda têm dúvidas quanto à possibilidade de Parente conseguir realizar, na velocidade necessária, todas as mudanças de que a companhia precisa.
Para sanar essas dúvidas, o novo presidente da Petrobras precisará deixar mais claro o que, exatamente, será feito – e, principalmente, quando. O principal problema é financeiro. A dívida da Petrobras é de mais de 500 bilhões de reais, dos quais 350 bilhões têm de ser pagos até 2020. Pelos cálculos do consultor Adriano Pires, um dos que acompanha a crise bem de perto, a estatal precisará investir 400 bilhões de reais apenas para que a produção continue no patamar atual, de 2,1 milhões de barris de petróleo por dia. Apesar de a extração no pré-sal estar em ascensão, ela vem caindo mais do que era esperado na Bacia de Campos. Até o mês passado, a empresa vendia gasolina com um prêmio sobre o valor do barril do petróleo no mercado internacional. A diferença ajudava a dar algum alívio aos cofres da Petrobras. Agora o preço já se equiparou. Só no preço do diesel ainda existe algum prêmio, de forma que o grosso do dinheiro extra, na prática, deixou de entrar no caixa. A previsão da empresa era arrecadar, com as vendas de ativos, em 2015 e 2016, 15 bilhões de dólares, mas não conseguiu ultrapassar a marca de 3,4 bilhões de dólares. Está em curso um programa de demissão voluntária e de redução da carga horária – que enfrenta a resistência dos sindicatos petroleiros.
Como já se declarou contra o socorro financeiro do governo federal, Parente vai ter de mostrar que sabe de onde tirar a enorme quantidade de recursos necessária para sanear a Petrobras. Uma de suas esperanças é conseguir aprovar mudanças regulatórias que diminuam as obrigações de investimento da estatal. Dada a profundidade da crise, o mais provável é que ele adote estratégia semelhante à da época do apagão, tomando várias providências ao mesmo tempo: alterar o esquema de venda de ativos, aumentar o preço dos combustíveis, cortar mais custos para tornar a empresa mais eficiente, buscar mudanças regulatórias que aliviem as finanças – como a lei que acaba com a obrigação de a estatal ser sócia em todos os campos de petróleo no pré-sal.
Por ora, a mudança visível foi no discurso. Além do repúdio a indicações políticas, o novo presidente tem ressaltado que, depois da obscuridade dos anos petistas, a companhia vai falar a verdade para o mercado. Na prática, porém, continuam em seus cargos todos os diretores da gestão anterior, de Aldemir Bendine. Escolhidos às pressas depois da renúncia coletiva da diretoria de Graça Foster, mais porque se dispunham a segurar o rojão do que por sua competência técnica, eram interinos, mas foram ficando. Entre os investidores faz sucesso a comparação com a estratégia da nova presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, que chegou trocando toda a diretoria, porque, segundo declarou, os problemas do banco demandavam atitudes urgentes. Embora a gestão Bendine tenha conseguido preservar o caixa da companhia, a venda dos ativos é lenta, a dívida continua do mesmo tamanho de antes, e até agora não foi estabelecida uma política de preços para os combustíveis. O aparelhamento político, disseminado na Petrobras, também não foi atacado. Em suma, Bendine manteve a companhia em ponto morto – algo que Parente não pode se dar ao luxo de fazer. Por seu próprio cronograma, ele tem quatro meses para determinar o que será a Petrobras do futuro. Ele tem crédito, e já mostrou que é capaz de enfrentar, com competência, problemas complexos, como no caso do apagão. Só não tem muito tempo. Na Petrobras, assim como na crise energética, o tempo é escasso, e o desafio, gigantesco.
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