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Dinheiro para tudo, menos para a arbitragem

    Árbitros em um treinamento promovido pela CBF, em junho. No Campeonato Brasileiro do ano passado, 110 deles foram afastados por falhas técnicas Foto: Rafael Ribeiro (@rafaelribeirorio) / CBF

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Dinheiro para tudo, menos para a arbitragem

Como o ex-presidente da CBF Ednaldo Rodrigues minou um projeto que poderia qualificar os juízes do futebol brasileiro

| 07 out 2025_12h37
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Os quatro anos da presidência de Ednaldo Rodrigues na CBF, de 2021 a 2025, foram repletos de extravagâncias. Recebendo 1 milhão de reais por mês, o cartola baiano foi generoso com os presidentes das confederações estaduais de futebol, que tiveram um aumento expressivo nos seus contracheques: de 50 mil reais, passaram a receber 215 mil, com direito a décimo sexto salário. Parentes e amigos de Rodrigues viajavam e se hospedavam em hotéis luxuosos, no Brasil e no exterior, tudo às custas da CBF – que, apesar de ter uma receita bilionária, acumulou uma dívida de mais de 2 milhões de reais. 

O dinheiro que sobrava na farra faltava para investir na profissionalização do futebol nacional, o que inclui o treinamento de juízes, como mostrou uma reportagem da piauí publicada em abril. A baixa qualidade da arbitragem no Brasil é um problema antigo, reconhecido por todos que atuam no meio. De tempos em tempos, vira o principal assunto da imprensa esportiva, como nos últimos dias, graças a uma sequência de decisões polêmicas – e erros flagrantes – de juízes no Campeonato Brasileiro masculino.

Em abril de 2022, quando assumiu a comissão de arbitragem da CBF, o ex-árbitro Wilson Luiz Seneme tentou mudar esse cenário. Defendeu a criação de um centro de treinamento exclusivo para juízes, nos moldes do que havia na sede da Conmebol, em Assunção, com refeitório, alojamento e campos de futebol, cercados por câmeras de vídeo para a simulação de lances. Seneme também sugeriu que fosse criada uma escola de arbitragem, para uniformizar a formação técnica dos juízes, cujo aprendizado se dá em cada federação, muitas vezes com metodologias distintas.

Ednaldo Rodrigues aprovou os dois projetos, com custo estimado em quase 60 milhões de reais. Enquanto cuidava da construção do centro de treinamento e da escola de arbitragem, Seneme determinou que todos os árbitros da série A do Campeonato Brasileiro fizessem quinzenalmente um treinamento e avaliação física em um clube privado do Rio de Janeiro. Até que, em agosto de 2024, alegando restrições orçamentárias, Rodrigues suspendeu todas as viagens aéreas e hospedagens na CBF, inviabilizando o projeto de Seneme.

Aquilo que poderia ser um passo importante na qualificação da arbitragem brasileira nunca foi para frente. O treinamento dos árbitros, daquele momento em diante, passou a ocorrer apenas por videoconferência. “É como se um clube contratasse um técnico europeu que ficasse treinando os jogadores lá da Europa. Não tem cabimento”, criticou um árbitro, ouvido pela piauí sob anonimato para evitar represálias. O resultado foi catastrófico. 

No Campeonato Brasileiro de 2024, 110 árbitros foram afastados por falhas técnicas. No ano anterior, haviam sido quarenta. Seneme, que durante a apuração da reportagem não quis dar entrevista à piauí, foi demitido em fevereiro deste ano. Em abril, depois de mais uma sequência de erros, a CBF anunciou treinamentos intensivos para os juízes da série A do Campeonato Brasileirão. A medida tem sido adotada esporadicamente na gestão do atual presidente, Samir Xaud, que assumiu o cargo em maio depois que Rodrigues foi afastado pela Justiça. 

Até agora, porém, o centro de treinamento de juízes e a escola de arbitragem não saíram do papel. Leia aqui a reportagem completa de Allan de Abreu, que fez uma radiografia da gestão de Rodrigues à frente da CBF e suas consequências para o futebol brasileiro.

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