A orquídea 'Cattleya dormaniana', endêmica da Serra dos Órgãos, é uma das espécies reencontradas pelo projeto Procura-se (foto: Dalton Holland Baptista – CC BY-SA 3.0)
Em busca das sumidas
Vinte espécies raras da flora fluminense foram reencontradas desde o ano passado
A edição de dezembro da piauí, atualmente nas bancas, conta a história da redescoberta da guarajuba, uma árvore que era considerada extinta na natureza desde 1998 (confira na reportagem “A volta das que não foram”). No que depender dos pesquisadores do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) responsáveis por reencontrar a espécie, ela não será a única.
Desde o ano passado, eles estão tocando o projeto Procura-se, que pretende coletar em campo amostras de plantas que, como a guarajuba, andavam sumidas dos registros botânicos. A iniciativa é voltada para as espécies endêmicas do estado do Rio, ou seja, encontradas só em território fluminense. A prioridade é ir atrás daquelas que não são registradas em expedições há pelo menos 30 anos e daquelas sobre as quais não há muita informação disponível.
O biólogo Caio Baez Gomes, um dos pesquisadores do JBRJ envolvidos no projeto Procura-se, contou ao blog numa entrevista recente que as expedições começaram em 2015 e se intensificaram neste ano. Planejadas com a ajuda de softwares que indicam as localidades onde será mais provável encontrar cada uma das espécies buscadas, as missões vêm obtendo resultados satisfatórios. “Reencontramos vinte das espécies consideradas prioritárias pelo projeto”, afirmou Gomes. “É um número bastante expressivo.”
Dentre as espécies reencontradas, estão a Gaylussacia pruinosa, uma planta que só havia sido coletada no século XIX pelo paisagista francês Auguste Glaziou, e o Banisteriopsis magdalenensis, um arbusto que havia sido registrado pela última vez em 1930. A lista inclui também a orquídea Cattleya dormaniana, encontrada na localidade de Macaé de Cima graças à indicação de um morador. “Encontramos um único exemplar dessa espécie”, contou Gomes. “Ela só existe ainda porque ocorre em áreas inacessíveis.”
Desde 2015, Caio Baez Gomes e outros biólogos têm feito expedições em busca de espécies raras da flora fluminense (foto: Lucas Moraes/JBRJ)
O cronograma do projeto Procura-se vai até fevereiro do ano que vem, mas a identificação e análise dos espécimes coletados devem se estender além disso. Os dados levantados serão usados para estimar o risco de extinção das espécies identificadas – muitas delas não estavam avaliadas por falta de informações sobre sua distribuição. No Brasil, o órgão responsável pela análise é o Centro Nacional de Conservação da Flora, vinculado ao JBRJ, que repassa as informações à União Internacional para a Conservação da Natureza, responsável por editar a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas.
Para Caio Gomes, a redescoberta de duas dezenas de espécies reflete o grau de nosso desconhecimento sobre a flora brasileira. “Precisamos correr contra o tempo para achar essas espécies, principalmente as que ocorrem nos topos de montanha”, disse o biólogo. “Caso contrário, elas correm o risco de se extinguir antes que sejam redescobertas.”
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