Simão e Sergio Oskman, pai e filho, acompanham um jogo da Copa do Mundo do lado de fora da Arena Corinthians
Filho, pai e Copa
A primeira ida ao estádio de futebol, ninguém esquece. Para meninos de 7, 8 anos, o fato da experiência ser propiciada em geral pelo pai contribui para que se torne inesquecível. Levado pela mão paterna, ao entrar na arquibancada meio vazia do Maracanã no início da década de 1950, mesmo para um medíocre Fluminense x Bangu, a sensação era equivalente à descoberta de uma nova dimensão do universo.
Não é a toa, portanto, que tendo sido privado do convívio paterno durante 20 anos, ao reencontrá-lo, o diretor Sergio Oksman tenha proposto acompanharem juntos a Copa do Mundo realizada no Brasil, em 2014. Foi nesse breve período de convívio que foram realizadas as gravações do filme O Futebol, premiado como melhor documentário brasileiro do Festival É Tudo Verdade deste ano.
Em dois curta-metragens anteriores, Oksman já abordara o tema da relação filho-pai. De passagem em Notes on the other, feito em 2009, e de modo direto em A story for the Modlins, de 2012.
No caso de A story for the Modlins, a pintora surrealista Margaret Marley, casada com o ator secundário Elmer Modlin (1925-2003), escrevera o rascunho de uma carta ao filho Nelson na qual, diz a narração, “tenta amenizar as discussões” que tinham em família: “Nosso sofrimento na vida vem da relação que temos com nossos pais: Elmer com os dele. Eu com os meus e você com os seus.”
A maior aproximação de uma partida que há é na exemplar sequência em que Sergio e Simão vão à Arena Corinthians, conhecida como Itaquerão, na Zona Leste de São Paulo. No longo trajeto, erram o caminho, mas acabam conseguindo chegar. Ficam, porém, no carro sem rádio e com documentação irrregular do pai, vendo o estádio ao longe e acompanhando o jogo apenas pelo ruído da torcida. É um entre vários grandes momentos de O Futebol nos quais Oksman não deixa aflorar a mais leve emoção.
Eis que o inesperado intervém, como é próprio da vida e pode ser uma dádiva para o documentarista que souber aproveitá-lo. Um primeiro sinal de que não se pode pretender controlar com rigor tudo que ocorre, nem diante da câmera, nem fora de quadro, é dado no primeiro plano do filme: Sergio e Simão posam em pé, lado a lado, quando começa a chover e são obrigados a buscar abrigo. Em retrospecto, há algo de premonitório nessa cena, sem ter a mesma dimensão, porém, do que acontecerá depois.
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