CRÉDITO: ANGELI_2004
Hapvida “desenrola” dívida com o SUS e tem perdão de 866 milhões
Plano de saúde consegue se livrar de parte de uma cobrança do SUS
O resultado financeiro dos planos de saúde foi espetacular em 2024: o lucro superou os 10 bilhões de reais – uma alta de 430% em relação ao ano anterior. A SulAmérica teve o melhor resultado: lucro de 2,1 bilhões de reais. A Bradesco Saúde, 1,5 bilhão. A Hapvida e a NotreDame Intermédica, que pertencem a um mesmo grupo, somaram lucro de 1,6 bilhão de reais. A Amil, que vinha de um prejuízo de 4 bilhões, ficou no azul com 620 milhões.
Muitos motivos explicam esse resultado, como o aumento das mensalidades dos planos, a redução da rede assistencial e o corte de benefícios – com destaque para os cancelamentos unilaterais –, que permitem às empresas se livrar de clientes que dão prejuízo. Os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também mostram que as empresas estão gastando cada vez menos com reembolsos. Em 2022, correspondiam a 6,1% das despesas assistenciais. No ano passado, caíram para 4,6%. Outro motivo é a dívida que as operadoras de saúde espetam na conta do SUS. Ou seja: despacham seus usuários para o sistema público e não reembolsam o sistema pelos gastos, conforme prevê a lei.
A Hapvida e a Notre Dame penduraram uma dívida de 2,2 bilhões de reais no SUS. Sozinha, a Hapvida deve 869 milhões de reais e nunca pagou um tostão. Optou por fazer aquilo que os planos detestam que os usuários façam: judicializou tudo. Alega que o cálculo de cobrança da ANS está acima do que a lei permite.
O grosso das dívidas das operadoras com o SUS decorre de hemodiálises e cirurgias, procedimentos de custo mais elevado. Para as operadoras, é mais negócio despachar seus clientes para o SUS e depois ressarcir o sistema. Afinal, a tabela do SUS é defasada. Para uma sessão de hemodiálise num hospital conveniado, por exemplo, os planos pagam cerca de 380 reais. O SUS, pela mesma sessão, cobrará um ressarcimento da ordem de 240 reais.
A Hapvida é um caso particular. A empresa anunciou que conseguiu uma proeza no âmbito do Desenrola Brasil, programa do governo que negocia “créditos inadimplidos”. No dia 19 de março, divulgou que obteve um perdão da ordem de 866 milhões de reais de sua dívida com o SUS. O governo ainda analisa o pedido, mas a Hapvida já contabilizou os efeitos do acordo no balanço de 2024, o que teve repercussão no tamanho do lucro distribuído a acionistas e do bônus pagos aos executivos.
“É um escândalo. A empresa deixa de pagar o SUS, limpa seu balanço e ainda paga bônus e dividendos”, diz um alto servidor com mais de 15 anos de carreira da Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) a Breno Pires, na edição deste mês da piauí. Em um ranking dos dirigentes de empresas mais bem pagos do país, o presidente da Hapvida, Jorge Fontoura Pinheiro Koren de Lima, aparece em segundo lugar, com 67,4 milhões de reais por ano. Procurado para dizer por que já incluiu o perdão da dívida em balanço, Koren de Lima não retornou à revista. A Advocacia-Geral da União, que está envolvida na negociação, confirmou que o pedido de perdão “está sendo analisado”.
Assinantes da revista podem ler a íntegra da reportagem neste link.
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