Na última semana, a prefeitura do Rio de Janeiro sancionou uma lei que proíbe a venda ou oferta de alimentos e bebidas ultraprocessados em escolas. Esses produtos são um dos vilões da nutrição infantil: nove a cada dez crianças de 5 a 9 anos consomem alimentos ultraprocessados. Um pacote de tamanho médio de salgadinho contém de sódio ¼ da ingestão recomendada por dia. Como mostrou a série de reportagens Má alimentação à brasileira, publicada no site da piauí, a obesidade infantil no país é reflexo do empobrecimento e da insegurança alimentar. A proporção de jovens com índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 30 kg/m² dobrou em dez anos – e o maior crescimento ocorreu na pandemia. O =igualdades desta semana faz um raio X nos dados de obesidade no Brasil.
Em dez anos, a proporção de jovens entre 18 e 24 anos com obesidade dobrou, mostram dados do Ministério da Saúde. Em 2011, eram 6%, já em 2021, cresceu para 12%. O maior aumento da obesidade nesse público aconteceu durante o período da pandemia.
Os alimentos ultraprocessados, como macarrão instantâneo, salgadinho ou bolacha recheada, são vilões da nutrição infantil. Além do consumo desses produtos elevar o risco de obesidade, aumenta também o surgimento de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. Os ultraprocessados têm baixa qualidade nutricional, alta densidade energética, além de uma grande quantidade de gordura, açúcar e sódio.
Devido ao baixo custo, a durabilidade na prateleira e a forma rápida com que são consumidos, os alimentos ultraprocessados estão no dia a dia de muitos brasileiros. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados revelou que a compra de biscoitos e snacks no mercado está presente em 34% das notas fiscais. Ou seja, em 34% tem a presença de pelo menos um produto da categoria. Já a compra de arroz e feijão é menos frequente, apenas 8% e 6%, respectivamente. Os refrigerantes estão presentes em 67% das compras.
O alto teor de sódio é comum em alimentos ultraprocessados por causa da adição de grandes quantidades de sal. Isso faz com que o produto dure mais e também intensifica o seu sabor. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a ingestão de até 2.000 mg de sódio por dia. Essa quantidade equivale a 5 g de sal, o que cabe em uma colher de chá. Um dos responsáveis pelo aumento da obesidade na população são os alimentos ultraprocessados, como o salgadinho. Um pacote médio de Fandangos de queijo tem 503 mg de sódio, ou seja, ¼ da quantidade diária recomendada.
O refrigerante também é um vilão da alimentação. Uma lata de Coca-Cola contém o equivalente a 7,5 pacotes de açúcar. A OMS indica o consumo de até 50 g de açúcar por dia. Ou seja, ao tomar uma lata da bebida, é ingerido 74% do recomendado.
A quantidade de brasileiros com obesidade grave, ou seja, com IMC acima de 40 kg/m², aumentou 30% em quatro anos. Em 2019, 407,6 mil pessoas tinham obesidade. Já em 2022, subiu para 863 mil.
A falta de atividade física também impacta no aumento de peso. No período pré-pandemia, 39% dos brasileiros realizavam atividades físicas regularmente (pelo menos 150 minutos por semana). No primeiro trimestre de 2022, o percentual caiu para 30%. Já no mesmo período em 2023, a taxa voltou a subir a 31,5%, mas ainda é menor que a realidade anterior à pandemia.
Fontes: Vigitel, OMS, Sisvan via Desiderata, Vitat, Associação Brasileira de Supermercados e Ministério da Saúde via Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
Repórter da piauí
É estagiário de jornalismo na piauí
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno