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    CRÉDITO: ANDRÉS SANDOVAL_2023

esquina

A despedida

O fim alegre de um conjunto de refugiados cegos

Felippe Aníbal | Edição 204, Setembro 2023

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Apesar do mau tempo – fazia 13ºC e acabara de cair uma tempestade –, o angolano Jacob Cachinga, de 33 anos, estava radiante na tarde de 12 de agosto, sábado. Trajando um blazer risca de giz azul-marinho e calça social preta, ele foi o primeiro a chegar ao ensaio do conjunto vocal do qual faz parte. Enquanto esperava por seus colegas, parou para conversar com a regente argentina Patricia Fuks, no calçadão da Rua 15 de Novembro, em Curitiba. “Não é porque estamos em uma despedida que precisa ser triste”, disse Cachinga. “Vamos fazer como se fosse uma celebração.” O Vozes de Angola foi criado há mais duas décadas por refugiados do país africano, todos eles cegos.

O conjunto vocal se reuniu para o ensaio em uma sala no quarto andar de um prédio comercial. Pela primeira vez em muitos anos, participaram Camuaso Segundo, que hoje mora em São Paulo, e Victorino Enhama Mbala Elima, que vi­ve em Florianópolis. A regente de 64 anos não se encontrava com Elima desde 2007 e, ao vê-lo, se surpreendeu: “Você não mudou nada. Só está mais alto e com voz mais grave.” Fazendo piada com a própria condição visual, ele respondeu: “A senhora também está igualzinha.” Seus colegas caíram na risada.

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