Isabel Teixeira em seu apartamento em São Paulo: “Tenho pensado se nós não estamos fazendo peças demais que tratam sobre angústias particulares, como se fossem uma espécie de palestra” CRÉDITO: FLAVIA VALSANI_2022
A maratona
A trajetória da atriz Isabel Teixeira, do teatro feito para poucos ao sucesso popular na novela Pantanal
Dirceu Alves Jr. | Edição 191, Agosto 2022
Na última Corrida de São Silvestre, em 31 de dezembro passado, a atriz Isabel Teixeira deu a largada ao lado da cantora Zélia Duncan. As duas amigas percorreram 15 km de ruas do Centro de São Paulo, mas em toadas diferentes. Zélia, de 57 anos, saiu à frente e se classificou entre as cem primeiras da sua faixa etária. Isabel, de 48 anos, cumpriu o trajeto no mesmo tempo que a vencedora do grupo de corredores de 80 anos. Não foi pouca coisa, para quem nunca tinha participado de uma maratona. “Corro devagar porque já tive pressa”, justifica a atriz, brincando com um verso da canção Tocando em Frente, sucesso do compositor Renato Teixeira, seu pai, com Almir Sater. E completa: “Cada um no seu passo, o que importa é não ficar parada.”
Os passos de Isabel Teixeira têm chamado atenção de muita gente desde que ela começou a encantar os espectadores da novela Pantanal com sua interpretação magnética e maliciosa da personagem Maria Bruaca, uma mulher que se revolta contra os abusos do marido e pratica ardentes traições. O sucesso provocou uma guinada na vida da atriz, conhecida até pouco tempo apenas por seletas plateias em São Paulo, onde encenou peças de dramaturgos canônicos, como Shakespeare, Schiller e Beckett. Correndo à margem do sex appeal das jovens atrizes de Pantanal, ela reuniu em sua personagem um buliçoso sensualismo caipira com uma postura liberadora que a projetou, capítulo após capítulo, ao estrelato da televisão.
Teixeira nunca correu atrás da fama, mas abraçou de peito aberto a repercussão de Maria Bruaca na novela de Bruno Luperi para a Globo, uma recriação do folhetim escrito por Benedito Ruy Barbosa em 1990 para a Rede Manchete. “Acho velho esse preconceito com relação às novelas”, diz a atriz paulista. “Se na década de 1970 era um símbolo de atitude do ator não ceder à televisão, hoje considero uma ação política falar com milhões de pessoas através de uma personagem coerente com o meu discurso.” Ela garante que nunca desprezou o entretenimento de massa – e só não tinha engatado uma carreira nas novelas por falta de oportunidade.
Antes de Pantanal, sua experiência na tevê se restringia a um papel discreto na série Desalma (2020), que lhe abriu portas para uma participação na novela Amor de Mãe (2019-21), na qual fez uma médica, amiga e vítima dos crimes seriais praticados pela personagem interpretada por Adriana Esteves. “Gravei também uma cena de uma novela das seis da qual nem lembro o nome, em que contracenei com a Malu Galli”, conta. Era Sete Vidas, folhetim de 2015. “Foi um frila de um só dia que me ajudou a pagar o aluguel porque só o teatro nunca sustentou minha realidade.”
A fama trazida pela televisão costuma ser exigente, como agora, com Pantanal, que requer dedicação exclusiva, jornadas de gravações de doze horas por dia e longos períodos fora de casa. Apesar disso, a atriz não colocou de lado nenhum projeto pessoal, entre eles o de dar prosseguimento ao seu trabalho de editora, no apartamento em São Paulo onde mora com a filha, Flora, de 11 anos – o primogênito, Diego, de 18 anos, embarcou no fim de julho para uma temporada de estudos nos Estados Unidos.
No imóvel de três quartos no bairro de Santa Cecília, na região central, a sala é chamada de “ateliê”. Ali, uma enorme mesa ocupa boa parte do espaço, com computador, laptop, impressora, livros, folhas de papel e fios, muitos fios. São os equipamentos da editora Fora de Esquadro, um projeto que Teixeira desenvolve desde 2009, quando começou a estudar design, e que ganhou fôlego durante o isolamento da pandemia.
É uma empresa de uma pessoa só. À maneira de uma artesã, Teixeira responde pelo processo completo de produção: edita, revisa, ilustra e encaderna. “O meu próximo passo é comprar uma guilhotina e uma prensa”, diz a atriz, que vai imprimir quantidades pequenas dos livros – talvez cinquenta exemplares de cada um –, para distribuir em algumas livrarias e por demanda.
Além de publicar os livros, Teixeira é autora de dois deles, que já estão no prelo: Avelã e H.Tel & Soul. Foram escritos nos últimos dez anos e serão assinados com o pseudônimo de Virgínia Rey. Não são romances, ela avisa. “São exercícios de escrita expandida, como se fossem diários fictícios, cadernos de rascunhos”, diz. Avelã é uma “peça gráfica” sobre a tentativa de compreender uma perda – a de sua própria mãe, a atriz Alexandra Corrêa, que morreu em 2006, aos 56 anos. Já H.Tel & Soul apresenta uma mulher que escreve cartas de amor em quartos de hotéis. “Tenho obsessão por escrever. Desde a adolescência faço meus diários que guardo até hoje. É uma aventura que agora resolvi trazer a público.” Ela é também uma leitora exigente. Entre os escritores que lhe serviram de referência para criar os livros estão os argentinos Julio Cortázar e Ricardo Piglia, o espanhol Enrique Vila-Matas, o norte-americano Paul Auster e o brasileiro Dyonélio Machado.
A escolha do pseudônimo confere certa teatralidade ao ato literário. Virgínia Rey, personagem criada por Teixeira, é uma escritora que morreu inédita e só agora, enfim, será conhecida pelos leitores. O pseudônimo homenageia duas atrizes centrais em sua vida: a avó materna, Maria de Lourdes Corrêa, que subiu aos palcos na década de 1940 com o pseudônimo de Virgínia Vanni, e a tia-avó, Maria Margarida Lopes, que adotou o nome de Margarida Rey para a longa carreira que a levou do teatro às novelas, entre os anos 1940 e 1980.
Outra prioridade editorial da Fora de Esquadro é publicar o que Teixeira chama de “atos gráficos”. São livros que reproduzem diários pessoais, complementados por imagens. O pai da atriz, Renato Teixeira, será tema de um lançamento que trará anotações dele, rascunhos de letras de músicas, correspondências e fotografias. O ator Silvero Pereira, que trabalha em Pantanal, ganhará um volume, com a edição de seus escritos feitos durante a preparação do monólogo Bixa Viado Frango, apresentado em 2020. “Silvero é um artista do tempo dele em todos os sentidos. Ele está na coerência de um discurso que é importante hoje, que rompe barreiras, prega ideias, mas não escorrega no panfleto. Para o meu projeto da editora, tudo se casa”, afirma a atriz-editora, sobre o seu interesse em publicar os textos, que Silvero mostrou à amiga em um intervalo das filmagens da novela.
“Talvez eu tenha que alugar um apartamento maior”, diz Teixeira, ao calcular mentalmente o número de coisas que ainda precisa incorporar ao ateliê-casa. Quando se mudar dali, ela pretende transformar o local em um “Teatro Domiciliar”, com capacidade para receber cerca de trinta pessoas. A atriz está cansada de depender de leis de incentivo e de bater de porta em porta, buscando um espaço para apresentar as suas peças.
Um dos planos é encenar no apartamento de Santa Cecília um monólogo inspirado na personagem Auxilio Lacouture, que comparece em dois livros do escritor chileno Roberto Bolaño, Os Detetives Selvagens e Amuleto. “É uma personagem real, uma poeta que passou treze dias presa no banheiro de uma universidade mexicana tomada por militares em 1968 sem ter o que comer”, explica. Ela mesma cuidará da adaptação, mas ainda não obteve os direitos autorais.
O protótipo do Teatro Domiciliar veio à luz com uma montagem da peça Fim de Jogo, de Samuel Beckett, dirigida por Teixeira e protagonizada por Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas. A encenação aconteceu em 2016, na sala do apartamento da dupla de atores, na Alameda Santos, no bairro Jardim Paulista, em São Paulo. Funcionava assim: as pessoas faziam a reserva para o espetáculo e, no dia e hora marcados, se reuniam no Itaú Cultural, que apoiava o projeto. Do prédio do centro cultural na Avenida Paulista, os espectadores eram conduzidos a pé por um produtor até o apartamento, a duas quadras de distância. “A ideia foi da Isabel e, artisticamente, nos trouxe um retorno maravilhoso, eu transportei o teatro para dentro da minha vida”, avalia Borghi. “Só que paguei multas e enfrento até hoje problemas com os vizinhos, que me proibiram de fazer qualquer coisa e me olham torto se recebo meia dúzia de amigos.” A sala da casa de Borghi e Seixas é grande, mas às vezes a plateia chegava a quarenta pessoas.
Pode parecer contraditório que, no auge da popularidade obtida com Pantanal, a atriz queira colocar em prática projetos tão pessoais e intimistas. Para ela, no entanto, nada impede que um espetáculo feito inicialmente no apartamento se expanda depois para outros palcos, atingindo uma plateia mais numerosa. Por ora, ela nem quer se preocupar se o Teatro Domiciliar tende a entrar em conflito com as regras dos condomínios. “Eu gosto de enfrentar problemas, mas só penso neles quando aparecem”, assegura.
Enquanto descreve os muitos projetos, Teixeira chama atenção pelos expressivos olhos verdes, que parecem mirar algo invisível ao interlocutor, pelos gestos enfáticos e a peculiar voz grave e meio rouca. A fala agitada evidencia a vontade de querer fazer tudo ao mesmo tempo e não se conformar com os empecilhos. Mas, por vezes, seu discurso desacelera, como se ela percebesse a ansiedade e puxasse temporariamente o freio. “Acho que estou precisando correr um pouco, nem que seja na esteira”, diz, sorrindo.
Como diretora, Isabel Teixeira é também uma experimentadora incansável. Desde 2008, ela trabalha com um método próprio de preparação de atores, chamado Escrita na Cena. O método estimula o ator a desenvolver, durante a construção do papel que vai interpretar, improvisos narrativos nos quais mistura o texto original com a sua própria fala, em total liberdade, evocando memórias e experiências pessoais. “Eu não sou uma encenadora de linguagem, o meu trabalho é revelar a autoria do intérprete”, diz. Trocando em miúdos: a ela interessa não tanto seguir à risca a peça original, mas inventar um espaço de liberdade para que o ator recrie o texto, primeiro pelo improviso e depois pela escrita. Esses exercícios são todos gravados. Em seguida, as falas são transcritas e se busca como adequar a voz do ator à do personagem.
As primeiras experiências com o método tiveram algo de melodramático. Foram feitas por Teixeira e a atriz Georgette Fadel durante os ensaios de Rainha [(s)] – Duas Atrizes em Busca de um Coração. A montagem pretendia sintetizar em uma dupla de atrizes a tragédia contada por Schiller com mais de vinte personagens na peça Maria Stuart, sobre as disputas entre essa monarca escocesa e Elizabeth I, da Inglaterra. A diretora Cibele Forjaz deu o aval, e Teixeira e Fadel, com o texto original na ponta da língua, partiram para improvisações diárias de muitas horas, que foram gravadas em vídeo. O trabalho deu a Teixeira, que fez Maria Stuart, o Prêmio Shell de Teatro de Melhor Atriz em 2008.
Intérprete de Elizabeth I, Fadel comenta que, durante a aplicação do método nos ensaios, a colega provocava um clima perturbador para recriar os conflitos da peça e torná-los identificáveis com a realidade das duas. No caso, a rivalidade entre as rainhas foi o canal para estabelecer um duelo artístico sobre quem brilhava mais em cena. “Isabel, como Maria, acabava comigo”, conta Fadel, sobre sua amiga desde os tempos da Escola de Arte Dramática, da USP. “Ela não me dava tempo para improvisar, cortava minhas falas, foi ardilosa mesmo na intenção de estabelecer essa competição. Precisei ter um jogo de cintura para não criar inveja ou levar para o lado pessoal.”
Mariana Lima, Cláudia Abreu e Martha Nowill são algumas das atrizes que fizeram o workshop do Escrita na Cena com Isabel Teixeira. “Ela me mandava cartas fictícias sobre temas delicados, que a gente chamava de cartas-bombas. Eu abria essas cartas, sozinha na sala de ensaios, e respondia diante de uma câmera”, recorda Mariana Lima, sobre a preparação do monólogo Cérebro Coração, escrito por ela mesma e dirigido por Renato Linhares e Enrique Diaz em 2018.
Cláudia Abreu explica que tinha experiência em improvisação. Mas que registrar e depois redigir o que improvisou, como propôs Teixeira, foi diferente. “Me fez confiar que o conteúdo que saía de mim era realmente o que eu queria dizer.” Ela conheceu Teixeira nas gravações da série Desalma, e recorreu ao método nos preparativos de Virginia, peça solo baseada em Virginia Woolf e dirigida por Amir Haddad que estreou em julho em São Paulo.
Martha Nowill gravou depoimentos sobre situações cotidianas – como um passeio com os filhos ou uma ida ao cabeleireiro – para criar a personagem-título da peça Pagu, Até Onde Chega a Sonda, a partir de textos da escritora Patrícia Galvão, antes de entregar a direção a Elias Andreato. A estreia será em setembro. “A voz vem da palavra falada e depois vira escrita. Então você encontra uma voz diferente dentro de você, que é a sua”, ela explica. “Se eu ficasse limitada a um texto no computador, talvez não achasse essa voz com facilidade e liberdade.”
Isabel Teixeira sabe bem o que significa a liberdade para a escrita de uma vida autônoma. Sua mãe, Alexandra Corrêa, se separou de Renato Teixeira quando a filha tinha 1 ano e meio. O casal optou pelo distanciamento, a menina ficou com a mãe, mas em contato com o pai.
No dia a dia, era a mãe, com sua firmeza característica, quem segurava a barra, garantindo o sustento dela e da filha com trabalhos no teatro e na televisão. Não foram poucos. Alexandra Corrêa atuou em dezenas de peças, as mais memoráveis dirigidas por Naum Alves de Souza, como Depois do Arco-Íris (1978), No Natal, a Gente Vem Te Buscar (1979) e A Hora da Estrela (2002). Na televisão, participou das novelas Meus Filhos, Minha Vida (1984) e Uma Esperança no Ar (1985), no SBT, e da minissérie Moinhos de Vento (1983), da Globo.
O canal de comunicação entre a pequena Isabel e o pai era sempre o telefone, principalmente depois do estouro da canção Romaria, em 1978, que intensificou a agenda de shows dele, impedindo que os dois se encontrassem com frequência. O músico se casou novamente, teve outros filhos – Francisco, Antônia e João – e foi viver na Serra da Cantareira, na Grande São Paulo. Nas férias, levava a filha do primeiro casamento para Ubatuba, no litoral Norte, onde sua família tem casa até hoje. Raros foram os dias em que Isabel e Renato deixaram de trocar uma ligação – hábito que agora se adaptou às chamadas de vídeo. “Eu fui educada pela palavra dele no meu ouvido”, ela diz. “Meu pai me ensinou poesia, me apresentou pelo telefone a obra de Manuel Bandeira.”
Renato Teixeira confessa que, por muito tempo, alimentou a esperança de ver a filha seguindo seus passos na música. A expectativa não surgiu do nada, já que, segundo ele, a garota estudou piano, flauta e, aos 14 anos, decorava os improvisos jazzísticos de Ella Fitzgerald com facilidade impressionante. “Mas o pessoal da música é mais simples, fácil de lidar, enquanto o do teatro é complexo e atende melhor às necessidades intelectuais dela”, afirma o pai. Ele revela que, na reta final de Pantanal, o público poderá conferir os dotes da filha como cantora em algumas cenas de Maria Bruaca. “Sei que a Bel já ensaiou umas canções com o Almir Sater”, conta. “O que me deixa feliz é que enxergo a carreira dela como uma escrita expandida, traçada sem radicalismo e aberta ao público.”
Se houve disputa quanto ao futuro da garota, o teatro venceu com vantagem, tanto mais que tinha larga tradição na família. Sua avó materna, Maria de Lourdes Corrêa (1923-2005), teve carreira meteórica como atriz, com aquele pseudônimo de Virgínia Vanni. Ligou-se ao importante grupo Os Comediantes, de Cacilda Becker e Ziembinski, mas, três anos depois de pisar nos palcos pela primeira vez, abandonou tudo. Teixeira, em um texto memorialístico escrito para a Folha de S.Paulo, em 27 de fevereiro de 2011, tem uma hipótese sobre a ruptura da avó:
Conta a lenda familiar que Virgínia havia se apaixonado por um homem belíssimo do meio teatral. Pouco tempo depois, descobriu que, além dela, ele namorava um rapaz. Minha avó, ressentida, resolveu abandonar o que havia vivido até ali e nunca retornou ao teatro. Casou-se em 1949 com o jornalista Moacyr Corrêa, que a presenteou com um piano Steinway de armário que agora descansa na minha sala.
Moacyr Corrêa (1919-2007) foi o primeiro editor do caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo e, de acordo com Isabel, o único que continuou a chamar Maria de Lourdes pelo nome artístico – o que ele fez até o fim da vida. Do avô, a neta herdou uma biblioteca de mais de 2 mil volumes.
Como Maria de Lourdes, sua irmã Maria Margarida Lopes (1922-83) fez carreira no teatro, mas bem mais longa. Ela também adotou pseudônimo – Margarida Rey – antes de pisar nos palcos e trabalhar na companhia de Ziembinski, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e na Companhia Tônia-Celi-Autran (de Tônia Carrero, Adolfo Celi e Paulo Autran). No cinema, atuou em três filmes, dois deles hoje clássicos: Porto das Caixas, de Paulo César Saraceni, e Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade. Na televisão, se projetou sobretudo a partir dos anos 1970, em novelas como O Bofe (1972), de Bráulio Pedroso, e Sem Lenço, Sem Documento (1977), de Mario Prata, ambas da Rede Globo. Em seu texto, Teixeira confidencia que veio a saber de colegas de Margarida Rey que ela “foi a primeira mulher homossexual assumida do teatro”.
A avó e a tia-avó deixaram uma marca forte na história de Teixeira, como ela mesma conta:
Minha avó dançava para mim no quintal, leve e ainda linda, com gestos largos e uma altivez digna de estrela de cinema da década de 1950. Sempre que estou prestes a entrar em cena, cumpro um pequeno ritual: falo para mim mesma um trecho do poema de Dylan Thomas, Em Meu Ofício ou Arte Taciturna, piso no palco com o pé direito e faço reverência a Margarida e Virgínia, minhas atrizes preferidas, que vivem e sobrevivem no teatro da minha memória.
Como se a ancestralidade não bastasse, Isabel Teixeira cresceu tendo ao redor de si uma penca de artistas entusiasmados com seu ofício. Na casa onde vivia com a mãe e o padrasto, o ator Carlos Meceni – conhecido pelo espetáculo Zum ou Zois, sucesso da década de 1980, e pelo filme Ação entre Amigos, de Beto Brant –, era um entra e sai que varava a madrugada. A turma se reunia para papear, levando uma bebida debaixo do braço, e os projetos teatrais nasciam ali mesmo, na sala da família, tendo Teixeira como testemunha. Quando a menina dizia que queria ser atriz, a mãe avisava: “Se quiser mesmo, precisa estudar sem parar, falar pelo menos dois idiomas e ter aulas de dança.” Ela aprendeu inglês e francês, que considera sua segunda língua, e começou a estudar dança aos 8 anos. Aos 12 anos, se dedicou ao balé clássico e, no fim da adolescência, chegou a integrar o Ballet Stagium.
Em 1984, quando tinha 11 anos incompletos, conseguiu o que queria. Ganhou um papel na peça infantojuvenil Uma Aventura a Caminho do Guarujá, sobre um casal que leva os filhos a uma viagem no litoral. O casal era interpretado por Alexandra Corrêa e João Bourbonnais. Os filhos, por Isabel Teixeira e Beto Magnani. No dia da estreia, no Centro Cultural São Paulo, pouco antes do terceiro sinal, Corrêa avisou à filha: “Bel, pensa bem se você quer fazer isso. Depois que cruzar a cena, nada mais vai ser fácil, você não vai ter noites livres, vai perder festas nos fins de semana, sua vida vai ser diferente da de todos os outros.” A garota lembra até hoje o impacto que lhe causaram essas palavras. No fim do ano, ela recebeu das mãos de Bibi Ferreira o prêmio de atriz revelação dado pela Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp).
Renato Teixeira não apareceu para aplaudir a estreante, com receio de encontrar a ex-mulher. Ele só veria a filha no palco dez anos mais tarde, quando ela já frequentava a Escola de Arte Dramática, na qual se matriculou após cursar letras, na mesma USP. É dessa época sua lembrança mais remota de ver os pais juntos, num mesmo ambiente: os dois na fila da entrada de A Cozinha, peça do britânico Arnold Wesker que ela encenou na faculdade em 1996. “Eu sempre convidava ou meu pai ou minha mãe de cada vez, mas o diretor e professor Iacov Hillel, amigo dos dois, achava isso tão absurdo que agiu por conta própria”, recorda.
Com o diploma na mão, a jovem encontrou seu caminho junto às personagens dos grandes dramaturgos, de Shakespeare a Nelson Rodrigues, de Bertolt Brecht a Tennessee Williams. “Isabel construiu uma trajetória sólida porque não é o tipo de atriz que se limita a dizer o texto. Ela se apropria da personagem de todas as formas e faz questão de cuidar diretamente até do figurino e da maquiagem, o que lhe garante um controle total”, afirma o encenador Roberto Lage, que a dirigiu em Baal (1997), de Brecht, e Ricardo III (2006), de Shakespeare.
Teixeira foi uma das integrantes-fundadoras da Cia. Livre, encabeçada pela diretora Cibele Forjaz, empreitada que lhe rendeu aplausos, frustrações e sacudidas para a realidade. Em 2001, sofreu por ter sido obrigada pela diretora a entregar o papel de Geni, em Toda Nudez Será Castigada, para a atriz Leona Cavalli e se restringir a fazer uma das três tias, espécie de coro da peça de Nelson Rodrigues. No ano seguinte, contracenando de novo com Cavalli, Teixeira interpretou Stella, a irmã de Blanche Dubois em Um Bonde Chamado Desejo e recebeu a primeira indicação ao Prêmio Shell. “Tinha rompido com Cibele, mas Stella é uma personagem que estudei a vida inteira. Não tinha como não fazer, até porque tenho consciência de que jamais seria a Blanche. Então baixei a guarda e pedi o papel para a Cibele”, confessa.
O crítico de teatro Valmir Santos ressalta que Teixeira é uma atriz que ousa interagir com repertórios de distintas gradações e com diferentes diretores. “Esse acúmulo de experiências a fez seguir desbravando caminhos e lançar mão de um vocabulário próprio”, ele diz. Santos também destaca uma iniciativa da atriz, no começo dos anos 2000, com a Cia. Livre: o projeto documental Arena Conta Arena – 50 Anos. “Ela foi uma das coordenadoras desse trabalho sobre o emblemático Teatro de Arena. Entrevistou uma gama de artistas, entre eles Augusto Boal e Lima Duarte.” O projeto, que gerou um CD e exposições, recebeu menções nos prêmios Shell e da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).
Teixeira foi casada com o fotógrafo Roberto Setton, pai de seus dois filhos, por catorze anos. Eles se conheceram em 1999 em um curso de fotografia que a atriz decidiu fazer, sempre disposta a saber mais. Uma festa na casa de Setton em que ninguém apareceu, além dela, foi o início da relação e de uma sociedade que está longe de ser rompida. “Setton é meu parceiro em uma obra maior”, diz ela, referindo-se aos filhos.
O fotógrafo conta que a ex-mulher vive e respira arte e, embora seja uma ótima mãe, o que ela gosta mesmo é de cuidar de suas atividades teatrais e criativas. Até nas brigas, Teixeira recorria ao drama. “Ela é impulso puro. Então gritava, chorava, se jogava no chão, como se o mundo fosse acabar”, lembra Setton. “Eu fui me acostumando e achando graça disso.” Após selar a paz, os dois caíam na gargalhada por causa da cena.
O ex-casal tem uma guarda compartilhada radical de Flora e Diego. Os filhos passam uma semana com cada um dos pais, que dividem igualmente todas as despesas. “Nunca houve essa de caber isso ao homem e aquilo à mulher”, diz Setton. “Como Isabel sempre trabalhou e viajou bastante, muitas vezes a Maria Bruaca da nossa relação fui eu.”
Em 2018, a atriz morou um ano em Paris, atuando no grupo teatral de Christiane Jatahy, diretora carioca que trabalha na Europa e neste ano ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza pelo conjunto de sua obra. A parceria das duas começou no Brasil, em 2014, com E Se Elas Fossem para Moscou?, adaptação de As Três Irmãs, de Anton Tchekhov. Quatro anos depois, em Paris, Teixeira foi uma das Penélopes em Ítaca, montagem inspirada no épico de Homero, e representou em francês e português – a mistura de línguas faz parte do estilo de Jatahy. “Foi muito bonito ver Isabel descobrindo a sua atuação em outra linguagem, com outro ‘tamanho’ de interpretação, de relação viva ao mesmo tempo com a cena e com a câmera, e como ela podia transbordar nas duas linguagens”, diz Jatahy, que utiliza recursos audiovisuais e de cinema no palco.
Teixeira credita a essa experiência o seu entrosamento com o audiovisual, que agora a popularizou em Pantanal. “A linguagem teatral da Christiane trabalha com câmera o tempo inteiro, como se fosse cinema ao vivo”, diz. “Esses trabalhos me fizeram entender todo o processo do cruzamento da imagem, tanto que eu praticamente me casei com a câmera”, brinca, aludindo ao diretor de fotografia da companhia de Jatahy, Paulo Camacho, com quem ela viveu cinco anos, até o início de 2020.
O período na Europa também deixou Setton contrariado porque a ex-mulher levou Flora para Paris. “Eu tinha que botar minha filha para dormir todas as noites através do celular, lendo as revistinhas da Turma da Mônica”, ele conta.
Quem se considera uma avó de Flora e Diego é a atriz Regina Braga, outra companheira de trabalho constante de Teixeira. As duas contracenaram pela primeira vez no espetáculo Dúvida, dirigido por Bruno Barreto em 2006, mesmo ano em que a jovem atriz percebeu a derrota iminente de sua mãe para o câncer. A convivência entre elas foi se estreitando e gerou frutos. Teixeira foi assistente de direção de Braga no show ToTatiando (2012), da cantora Zélia Duncan, e a dirigiu no solo Desarticulações (2013), no musical Agora Eu Vou Ficar Bonita (2015) e em São Paulo, recital poético que estreou neste ano e volta ao cartaz neste mês de agosto na capital paulista. “Isabel é uma artista múltipla, focada. Ela poderia ser minha filha de tanto que nos afinamos na forma de acreditar na vida e lutar para colocar em prática as ideias que inventamos”, diz Braga.
Durante os quase dois meses em que Teixeira esteve no Pantanal, sem pisar em São Paulo, entre abril e junho deste ano, Diego e Flora ficaram com o pai. Mais complicado foi a preparação da viagem do rapaz aos Estados Unidos. Ele ganhou uma bolsa de estudos e deve permanecer por lá durante quatro anos. Diego quer ser jornalista esportivo. “Nós já nos acostumamos com a distância”, diz a mãe. “Em 2007, quando fiz a Gaivota – Tema Para Um Conto Curto, dirigida pelo Enrique Diaz, passei mais de um mês em turnê pela Europa longe dele, que tinha 3 anos. Era bater dez dias que eu tomava aquele porre para sofrer menos com a ausência.”
Formada pelas companhias de teatro estruturadas na criação coletiva, Isabel Teixeira garante que, ao contrário do que dizem muitos atores, ela encontrou na televisão um ambiente aberto para a troca, que começa na imersão nas fazendas pantaneiras e se estreita na convivência em grupo. Ela, por exemplo, dividiu quartos com as atrizes Alanis Guillen e Dira Paes por mais de um mês. Com Murilo Benício (que interpreta seu marido), assistiu ao filme Uma Mulher sob Influência (1974), clássico do diretor norte-americano John Cassavetes sobre a crise vivida por um casal. “Essa novela é um imenso trabalho de equipe em que todos contribuem para um resultado continental”, diz.
Foi a produtora de elenco Rosana Quintaes, da Rede Globo, quem sugeriu Isabel Teixeira para o papel de Maria Bruaca. A escolha foi endossada pelo diretor de teledramaturgia da Rede Globo, José Luiz Villamarim, que havia trabalhado com a atriz em Amor de Mãe. Ele mesmo se encarregou de fazer o convite.
A diretora Noa Bressane, filha do cineasta Julio Bressane e uma das responsáveis por Pantanal, ressalta que a composição de Maria Bruaca por Teixeira trilhou caminhos nada óbvios que, no entanto, atingiram facilmente o público por causa do carisma da personagem. “Ela está no mesmo diapasão da novela, não é fantasiosa ou realista, a sua Bruaca está conectada com a alma de um Brasil profundo e, nas cenas de sexo, transmite sensualidade sem tirar a roupa ou beijar o parceiro na boca”, afirma.
O fascínio do espectador por Bruaca se torna ainda mais curioso porque ele se vê diante de uma mulher que não atende a um padrão de beleza normativo. “Eu sou o que sou, com o corpo que tenho, e revolucionário seria aparecer nua, com meus quilos a mais, com meu peito caído, e isso não se tornar uma questão”, diz Teixeira.
O autor da novela, Bruno Luperi, enxerga Maria Bruaca como uma personagem que concilia o tom cômico com um olhar que expressa uma tristeza imensurável. Neto de Benedito Ruy Barbosa, ele celebra a aposta em Isabel Teixeira para o papel, que quase parou nas mãos de Débora Bloch, o primeiro nome cogitado. “O sucesso da personagem não surpreende porque temos com ela uma discussão alinhada ao espírito da nossa época: a busca da mulher para se ressignificar na sociedade”, afirma Luperi. “Surpreendente foi a dimensão da leitura que Isabel deu à personagem.”
“A Bruaca é uma consequência da falta de cultura”, reflete Teixeira. “É uma mulher que não acessa a televisão, não lê, nem sequer tem uma vizinha para conversar. Então, como muitas mulheres que vivem no interior do Brasil, não tem chances de perceber o abuso que sofre.” Para tentar entender o motivo da aceitação de Maria Bruaca, a atriz arrisca uma comparação política. “A identificação se dá pela opressão, porque ninguém aguenta mais ser cerceado por esse governo”, diz.
Se a fictícia Bruaca precisou da filha, Guta (interpretada por Julia Dalavia), para abrir seus olhos, a telenovela serve de alerta para as mulheres. A Bruaca da primeira versão de Pantanal alimentou discussões sobre a situação feminina que foi desdobrada na Rede Globo em diferentes produções nos anos seguintes. Personagens como a Raquel (interpretada por Helena Ranaldi), de Mulheres Apaixonadas (2003), e a Domingas (Maeve Jinkings), de A Regra do Jogo (2015), colocaram no horário nobre os abusos sofridos por mulheres. Helena Ranaldi diz que o conflito que ela protagonizou serviu de encorajamento para muitas delas denunciarem seus abusadores. “O fato de a personagem ser uma professora de classe média alta estabeleceu um diferencial, mostrou que a violência doméstica está em todas as camadas sociais.”
Para a psicanalista Maria Homem, as novelas entram em dialética com o momento histórico – o que explica a identificação com as tramas. Na primeira versão de Pantanal, Bruaca se separa do marido e torna-se mulher do ex-amante, o peão Alcides (interpretado, na época, por Ângelo Antônio e, agora, por Juliano Cazarré). “Para a evolução se completar, a Bruaca de Isabel Teixeira deveria passar por um processo maior de emancipação, pois, nestes anos 2020, ela já não servirá de modelo caso se contente apenas com o amor de um vaqueiro”, diz a psicanalista.
A visibilidade na televisão rendeu a Teixeira a sua primeira campanha publicitária, para a marca de cosméticos Vult. A atriz sugeriu a voz de Cida Moreira para gravar a música de fundo do comercial, que dialoga com a nova fase da personagem Maria Bruaca e a redescoberta da beleza na maturidade. “Tinha que ser uma voz vivida, que transmitisse experiência, além de ser a voz de uma grande cantora, claro.”
Teixeira, ela mesma, nunca foi fã de maquiagem. Parou inclusive de se pintar para as peças de teatro no começo dos anos 2010, pois acredita que essa opção deixa os personagens mais verdadeiros. O cabelo ficou em tons grisalhos nos últimos cinco anos e só ganhou cor para a caracterização de Maria Bruaca. “Eu gosto da minha cara lavada, do meu corpo do jeito que é, até porque estou amando a passagem do tempo e passei minha juventude nos anos 1990 sufocada por aquelas mulheres magérrimas de capa de revista”, ela diz. “A minha beleza corresponde a mim mesma e, se ficar de bem com a gente mesmo for um padrão, tomara que eu vire um símbolo desse padrão”.
Quem acompanha Pantanal já sabe que, em algumas cenas, a personagem Maria Bruaca segura um copo alto, no qual dá umas bicadas vez por outra, o que rende especulações nas redes sociais sobre o conteúdo do recipiente. “Todo mundo tem uma válvula de escape, então a pinga é o máximo de transgressão que aquela mulher pode acessar para refletir em sua solidão”, entrega Teixeira.
Pouco antes do começo das gravações, ela maratonou os capítulos da primeira versão de Pantanal e esse foi o começo de sua preparação para o papel, antes da primeira viagem a Mato Grosso do Sul, em novembro. Ela ficou encantada com as sutilezas da atriz Ângela Leal, a intérprete de Maria Bruaca na versão de 1990 da novela. Percebeu também que a personagem pitava um cigarro às escondidas. Para Teixeira, ávida por subtextos, aquilo era o gesto de desobediência da dona de casa.
Ângela Leal, de 75 anos, conta que a ideia do cigarro nasceu de forma espontânea, em uma das primeiras gravações, devido a uma câmera que não foi desligada. “Eu estava diante do fogão, perto do Antônio Petrin, que fazia o Tenório, meu marido, e me falava as maiores ofensas na cena. Mexida, pasmada na frente do fogão, achei uma bituca no bolso do avental e acendi. Dei uma tragada profunda e tudo foi ao ar sem cortes.”
Teixeira deixou de fumar em 2019 e evitou arriscar uma recaída utilizando a mesma válvula de escape de Leal. As provas dos primeiros figurinos, assim que chegou à fazenda depois de dezesseis horas de viagem, e a interminável aplicação do megahair, que durou mais doze horas, colaboraram para aproximá-la da personagem. Mas ela precisava encontrar a própria marca, uma assinatura para a nova Bruaca, que fosse ainda uma homenagem a Ângela Leal. “O ator também é um autor da cena, participa da construção dramatúrgica, e eu crio meus papéis com essa consciência”, afirma.
Foi quando ela se recordou da história de sua bisavó paterna.
Descendente de imigrantes irlandeses, Paula Gracie (1887-1966) se casou com o funcionário público João Xavier Teixeira (1888-1974), passou a assinar Paula da Graça Teixeira e se tornou matriarca de um rancho a dois quarteirões do mar de Ubatuba, onde educou oito filhos. Em meio à lida doméstica, frequentava a igreja, jogava víspora e dava muitas risadas. Atravessava cada dia de Sol ou de chuva bebericando de um copo alto, que ela dizia ser sua limonada da saúde. O hábito despertava a curiosidade alheia, mas, devido ao gênio bravo da dona de casa, ninguém experimentava o refresco, protegido por um pires na borda.
Um dos netos adolescentes, Renato Teixeira, porém, burlou a regra. Certo dia encontrou na geladeira quase vazia a limonada da vovó Paula e sugou o líquido de uma vez só. Caiu desmaiado no chão da cozinha. Pinga, era pinga.
A atriz contou a história da limonada batizada da avó para a preparadora de elenco de Pantanal, Andrea Cavalcanti, que logo compartilhou a informação com a produtora de arte Miriam Saback. “Você se lembra de como era esse copo? Vamos providenciar um parecido?”, disse a produtora.
Depois desse dia, sempre que Teixeira entra na cozinha cenográfica, está ao seu alcance o copo alto, coberto por um pires, com um limão dentro, mas que não contém cachaça, é claro. Serve apenas para insinuar, na ficção, o pequeno vício de Bruaca. “E aí, dona Maria? Vai tomar o suquinho hoje?”, costuma brincar um dos produtores.
Ainda é cedo para saber se Teixeira vai levar para sua atividade teatral algo do que descobriu na televisão. “Estou aprendendo como se trabalha nesse formato, principalmente com os colegas experientes.” Mas vivenciar de tão perto o impacto que uma novela tem sobre os espectadores já provocou na atriz algumas reflexões sobre o teatro brasileiro e a distância que o separa do público. “Tenho pensado se nós não estamos fazendo peças demais que tratam sobre o próprio teatro e sobre nossas angústias particulares, como se essas peças fossem uma espécie de palestra”, diz ela.
Uma coisa é certa: a novela tem exigido dela uma resistência física semelhante à de uma maratona. “Você grava, grava, grava e vai ficando cansada, mas precisa dar conta até a última cena do dia que, às vezes, está muito longe. O corpo ganha outra elasticidade com esse pique e, se o coração está envolvido no jogo, cria uma imensa comunicação”, diz. “Isso me deixou apaixonada.”
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