A polêmica Luan Santana versus Keith Richards ainda rende protestos
| Edição 54, Março 2011
O BRASIL É AQUI
Me surpreendeu a reportagem a respeito da Escola Municipal Acre (piauí_53, fevereiro). A proposta de comparar duas escolas se perdeu, pois a parte sobre o Colégio Sion resumiu-se a três ou quatro parágrafos; e com relação à Escola Acre se usou um tom irônico e até maldoso para comentar roupas usadas pelos profissionais e os salários recebidos. Como diretora da escola não autorizei que meu nome fosse citado e muito menos o meu salário. Foi citado nome de menor sem autorização da responsável. O corpo docente está insatisfeito com a imagem que a revista passou da escola, pois temos um compromisso com a educação, e não se levou em consideração o empenho dos profissionais para reverter resultados.
ELIZABETE RODRIGUES_RIO DE JANEIRO/RJ
Observei que na matéria “O Brasil é aqui” há um tratamento desigual entre as duas situações escolares que retrata. Praticamente 80% do total da matéria se referem à Escola Acre, e o restante ao Colégio Sion. É discriminação? Para que o leitor tenha meios de avaliar e comparar as duas situações, as abordagens dos assuntos deveriam ter o mesmo peso.
HEITOR FREIRE_CAMPO GRANDE/MS
Desde que minha esposa assinou a revista me acostumei a receber uma surpresa por mês, matérias diferentes, abordadas numa ótica bastante peculiar. A matéria sobre uma escola pública carioca quebrou essa regra. Vocês não conseguiram superar a ideologia neoliberal e escreveram a matéria do jeito que a burguesia gosta, sem surpresas. Cometeram a heresia de apontar (sugestão implícita) a escola privada como a escola ideal. Não precisa ser nenhum gênio da área para saber que a escola pública e a privada são produtos diferentes, com objetivos diferentes: não se pode avaliar do mesmo jeito coisas diferentes. Garantir um direito universal é diferente de um curso pré-vestibular. Chega de hipocrisia.
ANDRÉ LUIZ CONCEIÇÃO DE JESUS_CAIEIRAS/SP
RAULSEIXISMO
Sobre a Esquina “Ser anarquista em Jarinu” (piauí_53, fevereiro), queria cumprimentar a revista por cobrir o Elaopa, o Encontro Latino-Americano de Organizações Populares Autônomas. Foi a minha primeira experiência no encontro, e achei bem interessante. Só gostaria de fazer uma observação ao nobre repórter, único membro do Partido da Imprensa Golpista que foi lá: o “raulseixismo” também esteve presente. Um companheiro, no banho (em outro chuveiro, que fique claro), desandou a cantar uma dúzia de canções do Maluco Beleza. Algumas que nem Raul lembraria se estivesse vivo. Como o jornalista burguês voltou mais cedo –, e nem deve ter usado o banheiro do alojamento –, acabou perdendo este momento tão notável.
MÁRCIO GARONI_SANTOS/SP
LIBERTÉ, ÉGALITÉ E VOCÊ
Novidade alguma (Chegada, piauí_53, fevereiro), o Château de Chantilly, berço do amor equino, felino e por jardins (copiados por Versalhes), e também lar do fino creme que lhe empresta o nome, situa-se a nordeste de Paris, mas está a anos-luz da horda turística. Sendo visitado por quem quer absorver cultura de fato (por isso, permanentemente excluído dos roteiros), cede seus estupefacientes espaços nobres aos dispostos a eles, como a sua imponente estrebaria, alugada não recentemente às bodas de certo garanhão (hoje, roliço).
CHRISTIAN STEAGALL-CONDÉ_LONDRINA/PR
NOTA DA REDAÇÃO: O roliço garanhão seria aquele que se aposentou recentemente?
CURTINDO ADOIDADO
Reporterzinho bobo esse David Remnick que escreveu sobre o livro do Keith Richards (“Curtindo adoidado”, piauí_52, janeiro). Não percebeu que a resposta do Keith à pergunta sobre o disco Some Girls foi uma típica ironia ácido-britânico-Stoneana. Ao mal informado jornalista, Some Girls é simplesmente o nome da música que dá título ao álbum.
FERNANDO SALGADO_SÃO PAULO/SP
“Curtindo adoidado” é, simplesmente, genial. Contém todo tipo de informação que a gente quer encontrar em uma matéria, e o texto do jornalista é excelente e delicioso. piauí está de parabéns por ter obtido os direitos de publicá-la. Os jornalistas daqui se restringiram a revelar passagens da autobiografia de Richards, elogiá-lo e a reverenciá-lo como se ele fosse uma espécie de deus da rebeldia: um artista genial, puro e muito doido que se entupiu de drogas no passado, nunca ligou para dinheiro nem para estratégias de mercado e sempre se preocupou apenas com a música. Graças à piauí, finalmente li uma matéria honesta, sensata, muito informativa e que não agride a minha inteligência. Não tenho nada contra Richards. Também acho o guitarrista um artista genial e me divirto com seu passado junkie. Agora, transformá-lo em um anjo, que ganhou muita grana graças ao seu talento e porque caiu nas garras demoníacas e capitalistas de Jagger, é demais. Como mostrou o jornalista, Keith é tão capitalista e preocupado com os negócios e finanças quanto Jagger – e, a propósito, não há nenhum mal nisso.
ELOISA DEVEZE_SÃO PAULO/SP
GERAÇÃO 1.0
Apesar dos meus 18 anos, tenho gostos old school. Foi extasiante a minha identificação com o artigo “Quero ficar na geração 1.0” (piauí_53, fevereiro). O texto me levou à questão do “enquadramento” de nossas vidas. Nos resumimos àquelas fotos, àquela lista de interesse? E somos amigos daqueles “amigos”? Algum psicólogo pode falar melhor do que eu, mas acredito que montamos nosso perfil na internet para que, pelo menos ali, sejamos perfeitos, alegres e bonitos. Além de podermos bisbilhotar a vida dos outros, mostramos a todos que nós temos uma vida e ela é maravilhosa! Isso tudo provado por fotos. Como a vida real é muito dura e cheia de incertezas, esse é nosso escape.
Uns usam entorpecentes para se alienar. Outros descobriram uma droga chamada Facebook. O circo e o pão.
JOÃO LORANDI DEMARCHI_SANTOS/SP
Sobre a Geração 1.0: escrever cartas ainda tem o efeito profundo e devastador – e eterno – de uma bomba atômica. Mas, talvez, algo esteja se extinguindo, nos involuindo a meros rascunhadores de post-its on-line, mal colados às portas azuis e brancas de uma geleia pós-mudérrna…
CHRISTIAN STEAGALL-CONDÉ_LONDRINA/PR
EM DEFESA DO GURIZINHO
As cartas de repúdio à reportagem sobre Luan Santana (“Gurizinho vira ídolo”, piauí_52, janeiro), que não seria digna de publicação na revista, mostram como o preconceito ainda é disfarçado de pseudointelecto. Não se trata de gostar ou não da música do “gurizinho”, mas identificar (e, para os mais desavisados, conhecer) o fenômeno que leva multidões histéricas a seus shows (mais do que conseguem as passeatas contra o aumento da tarifa do ônibus em São Paulo). Antes de criticar a possibilidade de tal matéria chegar ao público “culto” da revista, seria interessante não se ater a preconceitos e ir mais além, já que, no mais, Luan Santana transformou-se em ídolo da juventude de um país que um dia inventou a Tropicália.
FABIANA COLETTA_ SÃO PAULO/SP
Morro de rir com as cartas de leitores indignados quando a piauí faz matérias sobre assuntos menos “cult”, como a de Luan Santana. Tentam colocar na revista um rótulo (seja jornalismo literário/investigativo/alternativo etc.), quando a proposta nunca parece ser essa, mas fazer abordagens novas e originais, informando muito mais e melhor do que os jornalões de hoje. Sugiro que vocês falem de mais um tipo brasileiro: os loucos das cartas à redação!
MARCOS ANDRÉ LESSA_RIO DE JANEIRO/RJ
Só me interessei em ler a matéria porque tenho curiosidade em saber os prováveis motivos de seu absurdo sucesso. Porém, parei de lê-la na metade. Me atrevo a dizer que, pelo menos até o parágrafo que li, só os fãs de Luan gostaram dessa matéria, que, pelo que eu saiba, não são leitores da piauí. Para quem, então, essa matéria foi escrita? Não consigo entender como uma revista que publica, por exemplo, uma matéria sobre Keith Richards anos-luz superior a todas que foram publicadas nos melhores veículos de comunicação do Brasil, publica uma matéria que, com exceção do tamanho do texto e do número de informações, poderia estar nas páginas da Capricho. Detesto ser cricri e criticar o trabalho alheio quando sei que ele foi feito com toda a dedicação e honestidade, mas o meu espanto e perplexidade foram maiores.
ELOISA DEVEZE_SÃO PAULO/SP
E AGORA?
piauí é a melhor leitura do Brasil. Tenho todas as edições. Gosto de comprar em bancas (prestígio para o jornaleiro), mas vocês me criaram um problema: não jogo fora as edições antigas. Onde guardar tanta revista?
GERALDO MAGELA MAIA_BELO HORIZONTE/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Sugerimos inscrever-se no programa Minha Casa, Minha Vida, que talvez contemple leitores como você. Vale a pena tentar, Geraldo. E se a nova casa lhe parecer muito vazia, faça também uma assinatura da revista para povoá-la mais depressa.
DIÁRIO DA PRESIDENTA
Escrevo para parabenizar vocês pelo brilhante “Diário da Dilma” (“Notas, apontamentos e tergiversações”, piauí_53, fevereiro). Pagou umas três edições da revista – e me lembrou os tempos áureos do Planeta Diário. Há muito tempo não lia nada tão espirituoso.
PAULO ANDRÉ BARROS MENDES_BELO HORIZONTE/MG
IRLANDA
O artigo de Colm Tóibín (“O preço da felicidade, o custo da desgraça”, piauí_52, janeiro) é revelador. Não só pela descrição cultural e econômica da história recente da Irlanda, mas também por apresentá-la como exemplo a não ser seguido. Brasil e Irlanda têm diferenças estruturais gigantescas, e é claro que o jogo que se joga aqui é diferente do que é jogado por lá. Contudo, temos certas semelhanças com aquele país outrora rico, e agora falido. Trechos do artigo que descrevem a classe média voltando dos Estados Unidos cheia de bolsas me lembram o bairro do Tatuapé onde moro. Imóveis com preços absurdos e crescentes, também. “Os irlandeses estão gastando e tomando empréstimos à vontade, mas não investem em áreas como pesquisa e desenvolvimento, que criariam mais prosperidade no futuro”, diz Tóibín. No Brasil não é diferente e o resultado disso todos sabem – a Irlanda está aí para comprovar. Até quando os governantes vão ignorar uma obviedade tão escandalosa? E a que preço e custo?
CAIO VITOR HUNGRIA_SÃO PAULO/SP