cartas_beliscão no cérebro
| Edição 39, Dezembro 2009
O FRANGO DA SADIA
Escrevam sobre a Varig! Trocando alguns nomes, datas e valores (“O setembro negro da Sadia”, piauí_38, novembro 2009), a jornalista praticamente usará o mesmo texto. O final será um pouco mais trágico, já que 5 mil funcionários, depois de três anos do fechamento, continuam sem nenhuma rescisão trabalhista. Tenho certeza que qualquer ex-funcionário irá repetir a frase do Vittorio Galeazzi para encerrar a matéria. A história dos pensionistas e contribuintes do Aerus rende um segundo capítulo. Até a participação do governo é semelhante! Mas, como a Varig não tinha um Furlan ou Fontana, a Previ e o bndes não se interessaram em participar do butim. Aliás, a participação do Furlan no governo talvez explique por que a Transbrasil foi a única empresa aérea a receber compensação pela defasagem tarifária do Plano Verão.
HANS GEORG_SÃO PAULO/SP
Fiquei bastante surpreso com afirmações a mim atribuídas na matéria sobre a Sadia. A reportagem não reproduz de forma fiel o depoimento que prestei à Comissão de Valores Mobiliários. Em nenhum momento declarei que qualquer pessoa da empresa “decompunha as operações com derivativos para que o sistema não detectasse os riscos reais das operações”. Além disso, a utilização ou não de e-mails da plataforma de cotação Bloomberg não tem qualquer relação direta com as operações em questão. Causou-me também grande surpresa o fato de um depoimento dado em sigilo ter sido vazado à imprensa, que infelizmente neste caso usou informações confidenciais fora de seu contexto, induzindo leitores a uma conclusão equivocada.
BRUNO TSUJI_SÃO PAULO/SP
OBAMA AMARELO
Depois de todos ficarem arrasados pela trágica morte da mosquinha cruelmente assassinada por Barack Obama, o mundo se volta para a mais nova “polêmica” (“Ilusões de Obama”, piauí_38, novembro 2009). Dos entusiastas aos céticos, todos já deitaram falação e elaboraram análises sobre o presidente americano. Limito-me a frisar um pormenor: a rigor, Obama não é negro. É mestiço ou, como diria o meu irmão quando falava de nossas raízes, é amarelo. “Jadielson, escuta, tu não tens raça. És um amarelo!”, dizia ele. Depois ria e mostrava aquela soberba dentadura de caninos desenhados a lápis de carvão. O Obama é, pois, um mestiço. Viva os mestiços. É, como eu próprio, um amarelo. Jeitoso e janota, é certo. Tanto que até parece branco. Tal fato influenciou muita gente. É que, como em tudo, também a negritude tem vários graus. Muitos dos que votaram no Obama jamais votariam num preto retinto de narinas colossais, unhas amarelas e lábios negros.
Ontem, em um programa de rádio alagoano um senhor explicava que não queria ver Obama na Presidência dos Estados Unidos porque isso torna os nossos pretos muito arrogantes. Sossegue, doce cavalgadura, que os pretos, os nossos pretos, continuarão subservientes, obedientes, trabalhando nas obras, construindo centros comerciais e bairros periféricos, fazendo limpezas, cuidando das nossas casas e dos nossos filhos. Sempre em silêncio, como convém.
JADIELSON ALEXANDRE DA SILVA_ARAPIRACA/AL
VERVE VERDADEIRA
A carta de despedida do embaixador britânico no Brasil entre 1966 e 1969, sir John Russell (piauí_38, novembro 2009), é um exercício de premonição: “Pode-se comprar qualquer coisa – de uma carteira de habilitação a um juiz do Supremo Tribunal Federal”, escreveu ele. O que escreveria em sua carta de despedida o atual embaixador?
With my best regards,
ANDRÉ L. COUTINHO_CAMPINAS/SP
VARGAS LLOSA
Mario Vargas Llosa (“Em defesa do romance”, piauí_37, outubro 2009) é brilhante quando nos mostra o valor do romance literário, principalmente pelo que foi capaz de fazer pela raça humana. E teme por um mundo sem literatura. Mas peca quando se apega ao papel – o clássico papel – que sempre conheceu e ama na forma de livros. O artigo me fez pensar em Machado de Assis, que escreveu, temeroso, que os bondes elétricos iriam destruir o seu Rio de Janeiro, pois amava os bondes puxados a muares. Não será o livro digital que irá destruir a literatura, se é que um dia ela será destruída. Não vamos culpar o veículo.
LUIS CARLOS HERINGER_MANHUMIRIM/MG
Com que prazer devorei cada palavra escrita de Llosa. Essa troca absurda de uma cultura pela outra faz com que as almas fiquem bestializadas e mudas, com um vocabulário restrito e abreviado, formando frases incompletas e pensamentos atrofiados. O artigo foi uma verdadeira viagem através de séculos, entre livros e personagens, entre memórias e previsões, nos deixando adorar um pouco mais esse admirável escritor, que com sua grande habilidade realística nos levou de Bovary à saga dos Buendía, de Dante a Gates. Rara coragem de opinião neste mundo onde o novo e fugaz tem mais valor que o antigo e imortal.
CYNTHIA MERHEJ CUONO_SÃO PAULO/SP
Mario Vargas Llosa belisca o meu cérebro. Num ensaio consciente sobre o papel do escritor e a ascensão do audiovisual, ele destrava a literatura do estigma de mero entretenimento culto e chama a atenção para o seu caráter determinante na construção social.
VERENA DUARTE_RIO DE JANEIRO/RJ
“Os bons romances salvaram o mundo!”, escreve devagar na lousa o bom romanceador, posando de pensador. “Os bons romances salvam o mundo!”, escreve devagar na lousa o bom romanceador, posando de paladino. “Os bons romances salvarão o mundo!”, escreve devagar na lousa o bom romanceador, posando de romancista. Os bons romances… que não existem, ficam para as moças… que também não existem. Romances só os há grandes, porque se querem definitivos. Grandes, porque
se querem impossíveis. Grandes, porque se querem definitivos e impossíveis como
o mundo não quer sê-lo, e por isso assim o querem porque querem, mesmo que na marra, mesmo que arrastando a perna, mesmo que à custa da própria coluna!
AIRTON PASCHOA_SÃO PAULO/SP
AVESSO DO AVESSO
Percebe-se a enorme cultura de Francisco de Oliveira (piauí_37, outubro 2009) ao montar peça por peça o puzzle de nossa história política e social. É apavorante como as peças se encaixam, na demonstração impiedosa que ele faz.
IOLANDA DE OLIVEIRA AZEVEDO_SÃO JOÃO DA BOA VISTA/SP
Por que tanto espaço para um autor tão ruim? O que o qualifica para ter tanto destaque na revista? Foi pela sua gestão na Sudene, quando era politicamente alinhado com Miguel Arraes, no pré-1964? Ou seria pelas suas obras, a lapidar Crítica à Razão Dualista, muito comentada nos anos 70, mas completamente refutada nos anos seguintes? Ou por Elegia para uma Re(li)gião, que não teve qualquer impacto? Não tem ninguém melhor para falar mal do governo? Tentem o Marco Antonio Villa, que pelo menos é um intelectual preparado.
IVAN GUIMARÃES_SÃO PAULO/SP
COFRINHO PIAUIENSE
Não sou fã de matemática, mas observei o aumento do número de propagandas veiculadas em cada edição. Fiquei empolgada e resolvi fazer a seguinte tabela:
Edição de novembro 2006 (72 páginas): aproximadamente 18 páginas inteiras de propaganda, o equivalente a 25% da revista. Preço que pagamos para ler as propagandas: 1,97 real.
Novembro 2007 (82 páginas): aproximadamente 23 páginas inteiras de propaganda, o equivalente a 28% da revista. Preço para ler as propagandas: 2,21 reais.
Novembro 2008 (68 páginas): aproximadamente 18 páginas inteiras de propaganda, o equivalente a 26,5% da revista. Preço para ler as propagandas: 2,51 reais.
Novembro 2009 (80 páginas): aproximadamente 35 páginas inteiras de propaganda, o equivalente a 43,75% da revista. Preço para ler as propagandas: 4,15 reais.
Vocês não acham que estão começando a exagerar nas propagandas?
LUISA PESSOA_CAMPINAS/SP
NOTA DA REDAÇÃO: também não somos fãs de matemática, mas somos adeptos fanáticos da conta de somar nossas páginas de publicidade. Porque, sem elas, a revista custaria pelo menos o dobro.
Sempre amei a etiqueta. É uma arte em dar e receber, na cara, tapas com luva de pelica. A revista trabalha muito bem essa relação com seus leitores (piauí_32, maio 2009, p. 65). Nunca havia visto um diálogo tão íntimo e aberto em um periódico. Como que de amigos que se escoiceiam, mas voltam às boas.
Ao ser questionada (e insultada) por um leitor sobre seu “preço”, a revista quase abriu um crediário de pagamento na resposta. Vocês precisam, mesmo, de dinheiro. Trabalham, comem, compram sapatos, bolsas, uísques caros, pirulitos e, mais, despejam opiniões, opiniões indignadas e formadoras de outras opiniões neste país, as quais não devem ser censuradas por ninguém.
Não quer ler. Não leia!
JEFFERSON PEREIRA E SILVA_CASTANHAL/PA
QUESTÕES CINEMATOGRÁFICAS
Impulsionada pela crítica de Eduardo Escorel (“Tempo e limite”, piauí_38, novembro 2009), fui assistir a Alô, Alô, Terezinha e a Herbert de Perto. Arrisco fazer um comentário. Não existem silêncios nos dois filmes, é como se seus diretores os negassem como forma de expressão. Em Alô, Alô, Terezinha essa negação é veemente. Já em Herbert de Perto há três pequenos silêncios que são perdidos em cena: quando Herbert Vianna é visto de costas saindo do seu quarto, quando sozinho dirige o seu carro e quando desce no pequeno elevador para buscar um instrumento. Negligenciar com as palavras é não cuidar de seus silêncios. Já se sabia, no século XIII, que a plenitude da palavra é o silêncio.
ÂNGELA BEATRIZ S. M. VIANNA_PORTO ALEGRE/RS
VOYEURISMO ORTOGRÁFICO
Espelhando-me em Sergio da Silva Barcellos (Esquina “Voyeurismo ortográfico”, piauí_38, novembro 2009), creio ser um voyeur do passado. Tenho enorme curiosidade pelas moradias antigas de São Paulo. Quando o trânsito me faz rodar vagarosamente pelo Minhocão, olho pelas janelas daqueles apartamentos e fico imaginando como serão sua arquitetura, seu mobiliário e que velharias estarão perdidas em seus armários. Esta semana pude entrar num imóvel bastante antigo no centro da cidade, com todas as coisas que lá foram deixadas pelos seus moradores de antanho. Fotos, cartas, postais, objetos, roupas, louças, nomes de uma caderneta de endereços marcados com um xis (provavelmente para designar pessoas que sumiram da vida)… Enfim, material suficiente para construir toda uma história.
CÉLIA SAPUCAHY_SÃO PAULO/SP
LUTA DE CLASSES
Depois de “Trilha desmatada com mel” (piauí_37, outubro 2009), sugiro que providenciem a assinatura da carteira de trabalho de Clara Becker.
ANDRÉ FABIANO NOIA RODRIGUES_CEILÂNDIA/DF
NOTA DA REDAÇÃO: Aí tem.
CRUMB x GOTLIB
Gosto muito da imparcialidade e respeito da revista por tratar a Bíblia (“O Gênesis”, piauí_36, setembro 2009) com a mesma imparcialidade e respeito com que se tratam outros clássicos que mudaram a sociedade através da história. Acredito que é um livro que preserva tradições culturais de muitos povos, e guarda valores morais, merecendo ser tratado ou mesmo analisado com respeito antes de ser achincalhado, como muitos o fazem.
HELOÍSA BARBOSA_PALMAS/TO
Le roi est mort, vive Gotlib.
TIAGO DIDIER_RECIFE/PE
POESIA
Creio ser inadmissível a revista (piauí_37, outubro 2009) publicar a palavra holocausto em qualquer matéria. Ainda mais em se tratando da Rose Ausländer. Antes que se possa pensar numa possível patrulha politicamente corretiva, é preciso salientar que a palavra holocausto tem na sua origem grega, holókautos, o significado de “sacrifício sagrado”, e é utilizada para descrever certos sacrifícios hebreus arcaicos. Ora, é o cúmulo da ironia chamar aquilo que foi o ápice de uma mentalidade do progresso tecnocrático civilizatório de sagrado, né não? Seria mil vezes mais apropriado utilizar o termo “shoah”, empregado por pensadores do calibre de Raul Hilberg e Michael Löwy. Ou mesmo utilizar “massacre dos judeus” e congêneres.
GABRIEL DANTAS_BELO HORIZONTE/MG
CLÓVIS
Pelo que sei “Clóvis” (Esquina “Política mascarada”, piauí_38, novembro 2009) é uma palavra originada dos pedidos do inglês “Ilha”, má pronúncia de seu real nome “William”, que morava em Guaratiba. Gostando muito de fantasias de palhaços, pedia, no Carnaval, que as pessoas se fantasiassem de clown, e com o tempo a população deturpou a palavra para “clóvis”. Posteriormente, o local onde William morava adotou seu toponímico, na forma vulgar, e hoje é o largo do Ilha, em Guaratiba. Trata-se, provavelmente, da única ilha que não é cercada por qualquer volume de água.
PAULO VIANNA DA SILVA_FLORIANÓPOLIS/SC
The maranhão Herald
Gostaria de saber por que o The maranhão Herald, esse grande concorrente do The New York Times, saiu de circulação.
MATHEUS BERGOMI_PORTO ALEGRE/RS
NOTA DA REDAÇÃO: para não esmigalhar de humilhação nosso concorrente, a publicação do Herald maranhense é esporádica.