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Cássio no campinho

    Ressentimento: “Até hoje tenho raiva de quem foi ao Japão assistir à final do Mundial de Clubes de 2012. Dizem que muitos corintianos parcelaram o valor. Quem tem tanto crédito assim?” CRÉDITO: PEDRO FRANZ_2024

ficção

Cássio no campinho

São dezesseis anos longe, mas continuo sendo um moleque da Cohab 1

Ricardo Lísias  | Edição 215, Agosto 2024

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Na Cohab 1, nos dias de semana o ponto de ônibus enche logo cedo. Eu chegava por volta das seis da manhã, o que me dava uma hora para ir à escola. Dependendo da época do ano, já amanheceu. A padaria, que a gente enxerga do outro lado da rua, atrás de pequenos comércios àquela hora ainda fechados, só tem duas ou três pessoas, meio sonâmbulas, com o pão debaixo do braço. Todos esfregam os olhos e às vezes sai uma fumacinha do chão. Se isso acontecer, estamos no inverno. Eu não gostava quando chovia. O ponto é pequeno e alguns de nós chegaríamos molhados ao metrô. Pouca gente comprava leite na padaria. A prefeitura tinha um programa de distribuição gratuita de leite em pó. Não lembro a época. Durou um bom tempo.

No ponto, a gente cruza com todo mundo. Alguns caras que fizeram o ensino fundamental comigo agora vão trabalhar. O Anderson, por exemplo, será logo assassinado pelo pai. Ele arranjou um posto de repositor em um mercado no Brás. De resto, no meu horário, há uma auxiliar de enfermagem, um encarregado de padaria, gerentes de lojinhas e por aí vai. Claro que inúmeros ali eu não conhecia e outros tinham uma frequência errática. O desemprego é foda.

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