Nada tisnou o álacre contubérnio de Romeu e Julieta. Hodiernamente, interditados do contato íntimo, eles se resvalam na internet ILUSTRAÇÃO: ©COLEÇÃO THE NEW YORKER_2002_ROZ CHAST_CARTOONBANK.COM
In hoc signo vinces
Romeu estava atacado de satiríase, Julieta tinha-se tornado vulgívaga e o fuzuê virou forrobodó. Que cizânia entre os doges de Verona! Que facúndia! Que salacidade! Quão pantafaçudos!
Walnice Nogueira Galvão | Edição 24, Setembro 2008
Em Verona, por obra de Cupido fulminífero, Julieta e Romeu se apaixonaram, conquanto de clãs em feudo. Como se viu, o solo do feudo, que se dizia sáfaro, era pingue.
Capuletos e Montecchios, senhores de baraço e cutelo de seus rebentos, ameaçaram potro e polé, com tonitruância. Debalde. Por isso, uma entente cordiale enterreirou o caso e extraiu o ucasse: ordálio para avaliar o casal de saberetes. O colendo cabido, de borla e capelo sobre bombazina e cheviote, começou pela dulcinéia, desferindo-lhe uma questão:
– Qual a diferença entre epistemologia e ontologia, tal como postulada pela escola fenomenológica?
A dulcamara respondeu, e bem. A nova questão, que tentou acapachar o suposto acapadoçado, coube ao pelintra:
– Serão acrofobia e oclofobia opostos, ou, ao contrário, podem tornar abilolado o mesmo degas com mania deambulatória?
Não contente de responder corretamente, Romeu ainda os profligou, em objurgatória bem temperada:
– Refuto a contumélia: cediça e epicena é tal questão, para não dizer esdrúxula e periclitante. Vossas munificências querem é procrastinar! Quanta androlatria feudal!
(Nisso, uma maçaroca cujo esturro em prolação desencarquilhava as aurifulgentes comas passou aos boléus no varote.)
O cabido tentou tergiversar, acusando Romeu de tosquenejar. Romeu obtemperou que por fás ou por nefas não se calaria. A protonotária, que executava uma varsoviana anapéstica, deu-lhe razão. O anspeçada batavo adrede auscultou a beletriz. O vavassalo protestou: “Bofé! Isso é vavavá, quando não vuvu!” Esclareça-se que ele não era tatibitate.
Observação vatídica: o fuzuê virou forrobodó. E foi a nota babélica: todos confundiam lumbago com quiasmo, zeugma com hemoptise, suarabácti com anaptixe. Que cizânia entre os doges de Verona! Que facúndia! Que salacidade! Quão pantafaçudos!
A essa altura, Romeu estava atacado de satiríase e Julieta tinha-se tornado vulgívaga. Convolando-se na calada da noite, decidiram fugir no vaticano com toda a palamenta, ucha onusta inclusive, soando o vatapu, em demanda de um tugúrio. E anatematizaram: “É tudo uma choldra!” Alvinitente, a lua dealbava. Ante o casal, prosternavam-se as passariúvas. Uma cáfila desfilava, enquanto algo invisível barria nas matas ciliares, sobre os rípios.
Bem o fizeram. Hodiernamente, pode-se dizer que nada tisnou o contubérnio de Romeu e Julieta, para sempre. Até coube-lhes uma conezia, devidamente subenfiteuticada, concedida como prebenda pelos Capuletos e Montecchios.
(Entretanto, lá atrás um parlapatão regougava: “Eu pertenço ao partido que tem por partido tirar partido de todos os partidos!”)
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