O comentarista gaúcho em 1988: com verve, coerência e alguma rabugice, Ostermann fugia dos lugares-comuns de seu metiê CRÉDITO: ACERVO PESSOAL
Mas aí o lance
Ruy Carlos Ostermann entendeu a ciência e o acaso do futebol
Michel Laub | Edição 227, Agosto 2025
Como quase tudo que vale a pena, o futebol é uma ilusão. Uma vida dedicada ao Grêmio me fez aceitar isso. Tirando os picos dos títulos, ou de alguma vitória especial que acaba valendo por si, a regra é lidar com a angústia, a estupefação que só não vira desistência porque um raio sempre pode cair na cabeça aleatória do jogo – e essa esperança é o que garante histórias centenárias de clubes, patrocínios e direitos de tevê, salários inverossímeis de um negócio hoje bastante afeito à lavagem de dinheiro ou da imagem de regimes tirânicos mundo afora.
O gaúcho Ruy Carlos Ostermann, que morreu no fim de junho aos 90 anos, sustentou a ilusão de modo peculiar. Ouvi-lo era achar que se podia entender o jogo – que havia algo de lógico, de sistemático a explicar um resultado tanto quanto uma bola espirrada ou a dor no púbis de um ponta-direita. Como sabe todo torcedor com décadas de futebol na carcaça, a suposição não deixa de estar certa: no longo prazo talvez seja isso mesmo – em uns 80% dos jogos, ganha a equipe melhor e/ou mais organizada –, embora no prazo cruel dos noventa minutos os outros 20% estejam ali – um fantasma à espreita, nosso medo e nossa fé torturada.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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