Meirelles, próstata, sonetos sacanas
| Edição 135, Dezembro 2017
A POLÍTICA DO BANQUEIRO
O título “Um liberal à brasileira” (piauí_134, novembro) lembrou-me a resposta do jurista Sobral Pinto, quando estava preso, ao ouvir de um carcereiro que o AI-5 marcava o início de “uma democracia à brasileira”: “Existe peru à brasileira, mas não soluções à brasileira, a democracia é universal, sem adjetivos.” O “liberal” da matéria precisa de adjetivos?
PAULO FERNANDO G. TEIXEIRA_SÃO PAULO/SP
Confesso que, dada a absoluta falta de opção, estava até pensando em votar no Henrique Meirelles, mas fui dissuadido depois de ler detalhes de sua festa de aniversário de 70 anos. Mãe do céu!! Não sei se xingo ou agradeço a Malu Gaspar. Volto à opção de voto nulo.
LEONARDO PÁDUA_SÃO PAULO/SP
A reportagem de Malu Gaspar faz uma importante revelação: Henrique Meirelles é candidatíssimo à próxima eleição presidencial. Decorridos quase vinte anos de ter confidenciado a um amigo tal desejo e, por mais duas ocasiões, presidindo o Banco Central nos dois governos Lula, ter ficado muito próximo de concretizá-lo, eis que surge outra oportunidade. Logicamente tudo dependerá do sucesso do desempenho da economia, fruto da excelente gestão da equipe por ele chefiada. Duas candidaturas polarizam no momento, uma pela esquerda, Lula, praticamente no segundo turno caso não seja impedido, e Bolsonaro, representante da direita. Enquanto isso o centro está totalmente fragmentado e não surgiu nenhuma candidatura que empolgasse, correndo-se o risco do que ocorreu nas eleições municipais do Rio de Janeiro e presidenciais de 1989. Apesar da fragilidade de Michel Temer, não podemos esquecer que ele tem a caneta e, por outro lado, seu partido não tem condições de participar da disputa. Caso Meirelles continue obtendo êxito no front econômico, pode ser o elemento que reúna as condições ideais para congregar os votos do centro e chegar ao segundo turno.
Ao se abrir com a repórter, ele praticamente lançou um balão de ensaio e a piauí mais uma vez está de parabéns por esse furo, que pode influenciar decisivamente na sucessão de 2018.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
O PAI DE LUZIA
Parabenizo a excelente reportagem de Bernardo Esteves sobre Walter Neves (“O evolucionista”, piauí_134, novembro), que pôde apresentar ao público, além do lado humano de Walter, facetas importantes do trabalho arqueológico em solo tupiniquim. Com o intuito de dar alguns centavos de contribuição ao tema para eventuais leitores interessados, seria importante esclarecer um ponto a respeito das divergências entre geneticistas que lidam com DNA antigo e bioantropólogos que medem crânios. Como não me encaixo em nenhuma das categorias, creio que posso fornecer uma visão razoavelmente isenta: nenhuma das atividades é a panaceia em termos arqueológicos. Locais em que existem ossos humanos preservados e crânios mensuráveis são raros no Brasil e, dentre esses, os que permitem a extração de DNA são mais raros ainda. Assim, em que pese o fato de geneticistas gostarem de dizer que os dados genéticos são “bem mais poderosos” – e publicarem artigos na Science e na Nature sobre o povoamento da América que se contradizem o tempo todo –, isso é uma ilusão. A arqueologia trabalha com uma modalidade de raciocínio científico que se baseia na convergência de múltiplas linhas de evidência. A característica extremamente fragmentária e enviesada das amostras de DNA será sempre um problema, e o DNA terá sempre que ser checado à luz de outras categorias de evidência, sem poder fornecer nenhum tipo de “última palavra”. Para nós arqueólogos, DNA e crânios medidos são bem-vindos, mas não vejo qualquer hierarquia de um método sobre o outro. Além disso, comparar o DNA antigo com o carbono-14 não procede, já que o DNA antigo é periférico na maior parte dos trabalhos, mas as datações são essenciais. Mesmo assim, usamos vários outros métodos de datação além do carbono-14, que tampouco é uma panaceia. Por fim, à guisa de esclarecimento, lembro de termos mandado amostras de osso para extração de DNA logo no início do Projeto Origens, nos anos 2000, mas os resultados foram inconclusivos. Sendo assim, nunca houve qualquer negligência ou desinteresse por DNA antigo, só não era a hora, e nunca será a salvação.
ASTOLFO GOMES DE MELLO ARAUJO_SÃO PAULO/SP
SONETOS SACANAS
Sofríveis os sonetos do Gregorio Duvivier (“Sonetos imponentes”, piauí_134, novembro), que poderia aprender mais com seu xará baiano do Seiscentos ou com o Glauco Mattoso sobre como encaixar – com todo o duplo sentido atribuível ao verbo – putaria em dois quartetos e dois tercetos rimados.
BRUNO SCOMPARIN PEREIRA_BELO HORIZONTE/MG
UM CÂNCER MASCULINO
Olavo, tudo bem? Terminei de ler a reportagem “Novembro cinza” (piauí_134, novembro) que você fez sobre câncer de próstata e achei muito esclarecedora. Tive câncer de tireoide em 2010 e fiz a tireoidectomia. Hoje, creio que não me submeteria a tanto estresse. Imagino que um tumorzinho minúsculo que não estava atrapalhando o funcionamento do órgão deveria ter ficado lá. Certamente não causaria danos relevantes à minha saúde. Meu pai tinha câncer na próstata, mas preferimos ignorar. Morreu de infecção respiratória, dez anos após a descoberta do tumor.
FÁTIMA VIGANÒ_RECIFE/PE
piauí também é saúde. Vocês salvaram a mim e à minha próstata. Hurras à revista e ao dr. Olavo Amaral pelo magnífico texto.
JOSÉ ANÍBAL SILVA SANTOS_TEÓFILO OTONI/MG
Gostaria, como assinante, de cumprimentar e parabenizar Olavo Amaral pelo seu artigo. Esclarecedor e corajoso em comentar a realidade deste assunto tão importante e dominado pelos cartéis dos planos de saúde e associações da classe médica.
HELIO T. IKEDA_BELÉM/PA
É a primeira vez que escrevo uma carta para a piauí. Sempre achei desnecessário. Todavia, agora necessito. Percorrer as páginas da reportagem “Novembro cinza” é um contraponto ao mundo cada vez mais tomado pelo mercado. E, infelizmente, a saúde é um monte extremamente lucrativo. Tudo bem, enquanto psicólogo leitor de referências críticas sobre o assunto, disso eu já sabia. Mas ler numa revista de circulação nacional é um grande contentamento. Tanto que, ao findar, certifiquei-me de que não estava sonhando. OLAVO AMARAL, ÉS MUITO CORAJOSO.
P.S.: Não me resta mais dúvida quanto à continuação de minha assinatura em 2018.
CRISTIANO ALMEIDA DE SOUZA_SÃO PAULO/SP
“Novembro cinza” deveria ser leitura obrigatória, assim como o livro que o autor vai lançar (presumo, pelo valor do artigo). Não se pode aceitar a ignorância. Tampouco ser enganado pela religião, sofrer para seguir protocolos de saúde sabidamente feitos para beneficiar associações, indústria farmacêutica, laboratórios, hospitais, médicos etc. É inconcebível.
JOSÉ DIEGUEZ_SÃO CARLOS/SP
Olavo Amaral realizou um ótimo trabalho com o texto “Novembro cinza”, diferentemente da matéria “Onde fica a casa do Lula” (piauí_133, outubro), que li uma página e vi que não ia dar em nada… Teimoso e fã da piauí, li até o final e não deu outra… Polegar para baixo. Os textos de Marcos Lisboa x Fernando Haddad e “Novembro cinza” mostram a grandeza da revista. Assim que eu gosto! Polegar para cima… ou melhor, dois!
DENIS RICARDO CASTILHO MELLO_SANTO ANDRÉ/SP
VIDA E MORTE DE UMA DELAÇÃO
Consuelo Dieguez se supera a cada maravilhosamente esclarecedora reportagem investigativa. “Anatomia de uma delação” (piauí_133, outubro) é leitura obrigatória para todos que queiram saber em profundidade o que ocorreu nos bastidores deste evento tão marcante e desastroso para o Brasil. Outra excelente matéria foi a discussão entre Fernando Haddad (“Vivi na pele o que aprendi nos livros”, piauí_129, junho; “(Des)ilusões liberais”, piauí_132, setembro) e Marcos Lisboa (“Outra história”, piauí_131, agosto; “De crise em crise”, piauí_133, outubro). Assinar a piauí tem muitas vantagens, por mais que discordemos do sr. Haddad.
ENRIQUE THIERS DE CARVALHO ALVITE_UBATUBA/SP
CACOFONIA
Foi um alívio ler a seção de cartas da piauí_134. Ninguém fez nada, ninguém se locupletou de forma alguma, todo mundo dentro do lícito, da ética e da moralidade. Melhor assim, ficamos bem tranquilos. Já que tudo está de acordo com o certo e o país vai de vento em popa, podemos tratar de questões menores. Cacófatos, por exemplo. Há quem não ligue, mas são feios pra chuchu. No item 2 da resposta a Luciano Coutinho – que, pelo conteúdo de sua carta, em breve deverá ser canonizado –, piauí escreve um doído “por razões de segurança”. Na boa, gente: “por razões” é um horror.
Na edição de outubro, a excelente esquina de Tiago Coelho (“Ilhados na Rocinha”, piauí_133) acabou prejudicada por ter baixado ali o cabôco José Serra, e foi um tal de “como ela”, “como Brena Carvalho”, “como sua mãe”. Essas coisas, rapaz, a gente não sai espalhando, pega mal.
JORGE MURTINHO_SÃO CAETANO DO SUL/SP
NOTA PATÉTICA DA REDAÇÃO: Jorge, foi mal. A gente tinha jurado não cometer mais essas deselegâncias. Contratamos até uma revisora de estilo e, desde então, todos os nossos textos passam pela Dona Asmélia, a qual, como você certamente terá reparado, anda comendo muitas moscas (nas nossas contas, ao menos cinco apenas nessa nota).
ABAIXO DO EQUADOR
Pité-na-taconha, pité-na-jura, pité-nos-taraguá, taconha-na-jura, pité-na-tembe, taconha-na-pó, taconha-no-tevi ro’o, taconha-no-toba, enfim… a maior contribuição europeia para os trópicos. O texto do Reinaldo Moraes (“A verdadeira viagem ao Brasil do arcabuzeiro Hans Staden”, piauí_134, novembro), além de propiciar um novo tempero ao relato do mercenário alemão, acabou esclarecendo melhor o pensamento de Gaspar Barléu, ultra aequinotialem non peccavi e o estado de petite mort que Claude Lévi-Strauss encontrou por essas plagas, genial.
UOSTER ZIELINSKI_BELO HORIZONTE/MG
DET SJUNDE INSEGLET
Ainda bem que a Nadia Khuzina voltou. Na penúltima edição, piauí_133, outubro, para entender a capa do Angeli tive que ler a Bíblia, Freud, assistir filmes de Bergman, além de sofrer bullying de amigos e parentes, que me criticaram por não saber que a capa era uma alusão ao filme O Sétimo Selo, que eles não sabiam, claro, mas como receberam a revista antes de mim, descobriram primeiro do que se tratava: o jogo de xadrez entre a Morte e o Cavaleiro, no canal Luz Câmera Arte do YouTube. E, por fim, nunca se sabe, estou aprendendo a jogar xadrez.
JOSÉ RENATO DE FREITAS ALMEIDA_MUTUNÓPOLIS/GO
NOTA PROVOCATIVA DA REDAÇÃO: Como Khuzina é russa, pediremos que passe a citar os filmes de Andrei Tarkovski em suas capas. É quando a porca torcerá o rabo. Comparado a Tarkovski, o cinema de Bergman tem a clareza de Xuxa e os Duendes 2. Você não compreenderá nada, mas asseguramos que teus amigos e parentes também não. Fim do bullying.
MADE IN BRAZIL
Desde logo quero destacar meu apreço pela piauí, cuja leitura acompanho desde os primeiros números. Aprecio a originalidade das matérias e a profundidade com que elas são tratadas. Exatamente por essas razões, jamais imaginei que a revista fosse passar da décima edição, mas ela ultrapassou tal marca a galope, mostrando que ainda existe espaço para o pensamento de qualidade. Prova disso é a reportagem de Roberto Kaz, “A voz do Brazil” (piauí_133, outubro), na qual são revelados variados aspectos do cotidiano do radialista gago. Tive oportunidade de conhecê-lo no Buraco Quente da Mangueira em companhia de Tuchinha e outros tantos. Era uma celebração qualquer, e ele, tanto quanto eu, movimentava-se com desenvoltura no meio da bandidagem. Belos, fortes e corajosos bandidos, diria Oiticica.
Prossegui eu na leitura até o trecho em que o jornalista compara os brejeiros comentários de David Brazil à obra-prima de James Joyce, chegando a dizer: “Ulisses de Joyce é para os fracos.” Sem embargo da jocosidade do comentário, encrespou-se meu espírito joyciano comum (sem a autoridade de Antônio Houaiss, Bernardina da Silveira e Caetano Galindo, tradutores brasileiros do Ulisses, nem a majestade de Lya Luft, tradutora da biografia oficial do Joyce, por Richard Ellmann, tampouco o senso poético de Haroldo de Campos, tradutor de fragmentos do Finnegans Wake), dele derivando uma ira incontrolável. Diria – com certo exagero, é claro – que por instantes desejei a decapitação do tal do Kaz.
Na ocasião, veio-me à lembrança a maneira frívola com que a Folha de S.Paulo tratou o irlandês, na matéria “Paulo Coelho desconstrói James Joyce”. Tamanho descalabro, que nessas horas confirma a ideia de que jornal serve para embrulhar peixe, levou-me a criar uma fábula intitulada “O leão e o coelhinho”. De outra feita, roguei ao amigo Gustavo Franco que aviasse esforços junto à editoria do aludido jornal para publicar na edição do dia 16 de junho texto comemorativo ao Bloomsday. Nada foi publicado. Esse olímpico desprezo por Joyce bem revela o ambiente literário pedestre em que transita boa parte da imprensa nacional.
A despeito da amargura que me ardia no peito, prossegui na leitura e logo percebi o equívoco de minha percepção. Quando David Brazil, na sua ego trip, verbaliza o prazer de roer osso de galinha (“Quase quebrei outro dente, gente”, informou aos seus 3,3 milhões de seguidores), ele destaca uma diminuta sensação que bem se acomodaria na fala ou no pensamento de Leopold Bloom. Portanto, a comparação do jornalista Roberto Kaz, ao contrário das platitudes da FSP, é resultado de uma observação qualificada e sensível, quase uma epifania. Penitencio-me pela opinião precipitada e parabenizo a piauí por tão original abordagem do assunto. Viva David Brazil!
ALEXANDRE MOURA DUMANS_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA ESPERANÇOSA DA REDAÇÃO: Nós, que temos de conviver todos os dias com Roberto Kaz, não chegamos a desejar sua decapitação, mas que um tombinho no piso molhado da copa ou uma canelada ardida no canto da mesa nos deixaria bem contentes, ah, isso deixaria.
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