Era um disco riscado, aquele cara. E um ordinário. Vinha sempre com a mesma ladainha: por que as garotas do colégio eram tão mela-cueca, tão passa-a-mão e fecha-as-pernas? ILUSTRAÇÃO: VÂNIA MIGNONE_2016
Meninas furadas
Para uma moça católica, abortar era o mesmo que mutilar o Menino Deus com um alicate*
Margarita García Robayo | Edição 116, Maio 2016
Dalia estava ficando monotemática com aquela história da viagem pela América do Sul, e eu estava ficando cansada. Volta e meia ela sacava um mapa imenso, que ocupava um espação na mesa da biblioteca onde eu tentava estudar. Não adiantava eu pedir para ela não falar comigo, que aquilo me desconcentrava. Dalia tinha comprado aquele mapa semitranslúcido, que usava como cortina para me dizer coisas, por mais que um minuto antes eu tivesse implorado para ela não abrir a boca. Dalia o suspendia pelos cantos acima da cabeça, e eu podia ver a silhueta de seu corpo acompanhando o litoral do Pacífico. Ela falava e falava, e quando eu reclamava dizia: “Imagina que minha voz é o zumbido de um inseto.”
Uma cigarra. Não, um moscão no cio.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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