O israelense Tim, amigo de Fioratti, na praia de Camburi, em São Sebastião: ao acabar a faxina, era como se não tivesse feito muita coisa, o colchão cheirava a cachorro molhado, as roupas cobertas pelo barro já seco pareciam esculturas CRÉDITO: GUSTAVO FIORATTI_2023
Morte e vida em São Sebastião depois das chuvas
Jornalista conta seu drama pessoal e o drama coletivo nas enchentes no litoral paulista
Gustavo Fioratti | Edição 199, Abril 2023
Entre amigos, chamo o ano de 2020 de “breve purgatório”. Esse período sombrio começou quando tive um probleminha com cocaína. “Probleminha” é um eufemismo. Eu passava até 24 horas cheirando cocaína em lugares cheios de bandidos, gastava meu salário em poucos dias e era constantemente roubado em situações que prefiro não recordar.
Lidava também com a sobrecarga do jornalismo diário da Folha de S.Paulo, onde eu trabalhava, e com o excesso daninho de notícias que germinavam nos campos inférteis de Bolsonaro. Tomava comprimidos para anestesiar essas dores, somadas à tristeza de uma separação. No ápice da crise, um chefe se irritou com minhas mancadas e autodestruição pública e, ao telefone, começou a brigar comigo. Disse que eu seria demitido. Comecei a chorar, ciente de que algo havia descarrilado numa vida antes promissora.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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