Torcida de papelão: a imprensa esportiva já naturalizou os jogos com apenas uma torcida. Nos primeiros anos, havia um tom de lamento. Agora, o tema é tratado como se fosse corriqueiro CRÉDITO: MORITZ MÜLLER_ALAMY_FOTOARENA_2020
A negação do outro
Em São Paulo, oito anos de clássicos sem torcida visitante forjaram uma geração que não sabe o que é conviver com o contraditório
Rodrigo Barneschi | Edição 212, Maio 2024
No dia 3 de abril de 2016, o corintiano Luan Araujo cumpriu o mesmo ritual de todos os domingos com clássicos estaduais disputados por seu time na condição de visitante. Ainda pela manhã, deixou sua casa na Cidade Tiradentes, no extremo Leste de São Paulo, e, com a camisa do Corinthians escondida, seguiu de ônibus e metrô até a sede da torcida Gaviões da Fiel, na Marginal Tietê, uma das principais vias expressas da capital paulista. É dali que partem as caravanas da maior torcida organizada do Corinthians.
Naquele dia, Araujo era um entre pouco mais de mil corintianos concentrados para iniciar uma caminhada de 6 km até o Estádio do Pacaembu, onde aconteceria a partida entre Corinthians e Palmeiras. Como estipulado desde meados da década passada, os torcedores visitantes têm direito a 1,8 mil ingressos, cerca de 5% da carga total. Aos que torcem pelo time mandante são destinados pouco mais de 35 mil assentos. Em vista da disparidade numérica, convencionou-se que a logística seria a caminhada da coletividade forasteira partindo de um local previamente definido. Para os corintianos, a quadra da Gaviões. Para os palmeirenses, o Allianz Parque. Para os são-paulinos, a sede da Torcida Independente. Sob escolta do 2º Batalhão de Polícia de Choque, na ida e na volta, o agrupamento em menor número pode chegar ao estádio sem atrito com rivais.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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