A turma do Prerrô, na faculdade de direito da USP: “Quando a ministra Rosa Weber começou a falar e foi ficando claro que votaria pela mudança de entendimento [restabelecendo a prisão só depois do trânsito em julgado], alguns de nós choramos!” CRÉDITO: EGBERTO NOGUEIRA_ÍMÃ FOTOGALERIA_2022
Ninguém segura o Prerrô
Os longos tentáculos de um grupo de WhatsApp formado por advogados graúdos
Angélica Santa Cruz | Edição 192, Setembro 2022
Acomodado na poltrona 5D em um voo São Paulo-Brasília, o advogado Marco Aurélio de Carvalho estava elétrico como uma enguia. Era terça-feira, 26 de julho, e dois temas dominavam as mensagens que entravam e saíam de seu WhatsApp em velocidade alucinada. Em algumas delas, comentava-se a audiência que o Prerrogativas – grupo que ele coordena, de pessoas da área jurídica – teria dali a poucas horas com o ministro Edson Fachin, àquela altura ainda presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em muitas outras mensagens, o assunto era a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito, lançada na praça por professores da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo. O manifesto já contava com assinaturas bojudas – empresários, banqueiros, juristas, políticos, artistas e acadêmicos. Carvalho mobilizava seus contatos para conseguir mais. “Desculpe, querido, não posso atender porque estou em um voo. Mas, se puder, fale com o Rodrigo Pacheco”, sugeriu, no recado de voz enviado para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A movimentação, frenética, só se encerrou quando foi inevitável colocar o celular em modo avião – e recomeçou no instante seguinte à aterrissagem, 1 hora e 45 minutos depois. Telefone ligado de novo, Carvalho voltou a ficar atento à repercussão alcançada pela carta.
Em uma daquelas coincidências que só acontecem no campo gravitacional de Brasília, a primeira joelhada no manifesto dada pelo governo de Jair Bolsonaro estava se desenrolando bem ali, na poltrona à sua frente, a 4D. Vestido informalmente, com calça e blusão de moletom, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, conferia no celular os efeitos de um comentário contra a carta que postara no Twitter pouco antes: “Presidente @jairbolsonaro, sabe por que os banqueiros hoje podem assinar cartas inclusive contra o presidente da República, ao invés de se calarem com medo dos congelamentos de câmbio do passado?” O próprio ministro dava a resposta, costurada em um fio no qual relembrava a independência do Banco Central e dizia que os bancos perderam “mais de 30, 40 bilhões de reais” com a implantação do Pix. (Nada dizia sobre o lucro recorde dos bancos em 2021.)
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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