Eduardo Neves, ao lado da muralha, aponta para o Rio Madeira: na Amazônia, “a fronteira entre a floresta e o jardim permanece fluida”, ele escreveu em um artigo feito com Carlos Fausto CRÉDITO: BERNARDO ESTEVES_2024
A floresta é a pirâmide
O arqueólogo Eduardo Neves está ajudando a reescrever a história da Amazônia
Bernardo Esteves | Edição 214, Julho 2024
A Serra da Muralha, no interior de Rondônia, é um morro de granito com cerca de 250 metros de altitude, no meio da Floresta Amazônica. No seu topo existe uma muralha de pedra em formato vagamente elíptico que provavelmente foi construída por algum povo indígena muito antes da chegada de portugueses e espanhóis nas Américas. Não se sabe muito bem que povo foi esse nem para que servia a muralha, cujo primeiro registro foi feito pelo arqueólogo gaúcho Eurico Theofilo Miller (1932-2018). Num relatório publicado em 1979, ele registrou que a muralha tinha 380 metros de extensão e entre 1 e 1,20 metro de altura. Fez também escavações numa pequena área e encontrou cacos de cerâmica datados em cerca de 1 290 anos e restos de carvão com 2 275 anos, mas não é possível afirmar que essa seja a idade da muralha.
Depois da investigação de Miller, a Serra da Muralha voltou a ser visitada por arqueólogos, mas nunca mais foi palco de escavações. Em março passado, o arqueólogo Eduardo Góes Neves, da Universidade de São Paulo (USP), resolveu conhecer o sítio, durante uma expedição que organizou com alunos e colaboradores. A expedição – da qual participei como repórter da piauí – incluía outros quatro arqueólogos, um geólogo, uma jornalista que cuida da comunicação do projeto de pesquisa coordenado por Neves e um mateiro contratado para abrir picadas na floresta até o topo do morro.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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