Óculos de Allende, encontrados no palácio presidencial, onde ele morreu no dia do golpe militar: “Pagarei com minha vida a defesa dos princípios que são caros a esta pátria” CRÉDITO: ROBERTO CANDIA_AP PHOTO/IMAGEPLUS_2011
O dia em que não morri
Memórias do golpe de 11 de setembro de 1973 no Chile
Helvécio Ratton | Edição 192, Setembro 2022
Na noite do dia 10 de setembro de 1973, segunda-feira, eu e minha mulher na época estávamos conversando com um casal de amigos brasileiros em Santiago, no Chile, quando uma bala atravessou a vidraça da janela da sala e atingiu a parede. Imediatamente apagamos as luzes e nos lançamos ao chão. Deitados sobre o soalho do apartamento, esperamos alguns longos minutos. Mas não houve outro disparo e, cautelosos, nos levantamos. Para nós, aquele tiro foi o sinal de que o golpe militar contra o governo do presidente Salvador Allende estava próximo.
Eu tinha 24 anos e havia me casado apenas vinte dias antes com a chilena Márcia Riveros. Da mesma idade que eu, ela era formada em obstetrícia e trabalhava como funcionária de um organismo de saúde estatal que atendia mulheres carentes. Conosco morava um casal de brasileiros, Marcos e Marieta, pois era comum que os exilados no Chile compartilhassem as casas.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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