O fio perdido
Também as boas maneiras foram se perdendo com a aposentadoria do telefone fixo
Dorrit Harazim | Edição 64, Janeiro 2012
Destronado pelo celular, desprezado pela geração wi-fi e colecionado por aficionados do mundo inteiro, o heroico e confiável telefone com fio, bem mais imune a qualquer apagão e impossível de ser esquecido no restaurante ou roubado na rua,teve existência de estrela. Imortalizado em títulos de clássicos do cinema como Disque M para Matar, de Alfred Hitchcock, Uma Vida por um Fio, de Anatole Litvak, ou Disque Butterfield 8, de Daniel Mann, que valeu o Oscar de melhor atriz a Elizabeth Taylor em 1961, o telefone fixo encerra o ano de 2011 no Brasil com menos aparelhos em uso do que sua parentela sem fio.
Segundo dados mais recentes divulgados pela empresa de consultoria Teleco, o país tem apenas 21,7 aparelhos fixos para cada 100 habitantes – ninharia quando comparada aos 118 celulares ligados para cada 100 brasileiros.
O ilustrador americano J. J. Sedelmaier, que tem uma coleção das mais belas peças criadas pelo designer industrial Henry Dreyfuss, durante o longo reinado da Western Electric, Bell Telephone Company e AT&T, divulgou recentemente uma pequena preciosidade.
Trata-se do manual confeccionado em 1950 pela Bell que ensinava o bê-a-bá a quem se iniciava no uso do telefone em casa. Uma delícia de lembrança de tempos idos. E motivo para ter saudades, no futuro sem fio, das boas maneiras que o manual de sessenta anos atrás recomendava. A aposentadoria do fio telefônico foi tão frenética que esquecemos de elaborar e adotar o uso minimamente civilizado para seu sucessor portátil.
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