Brito, no apartamento em Kragujevac, onde foi preso seis dias depois desta foto: o delegado quer “saber o que tá acontecendo, nem que tenha que matar aquela desgraça daquele moleque” CRÉDITO: VLADIMIR ŽIVOJINOVIĆ_2022
O hacker e o delegado
A Polícia Civil e o conluio com um criminoso para investigar Márcio França
Allan de Abreu | Edição 197, Fevereiro 2023
Na noite do dia 23 de dezembro, na cidade de Kragujevac, na Sérvia, policiais prenderam o brasileiro Patrick César da Silva Brito, de 29 anos, que estava em seu apartamento alugado. Vizinhos suspeitaram que ele fosse um imigrante ilegal e alertaram a polícia. Estavam certos, mas Brito continua preso até agora porque – nem os vizinhos nem a polícia sabiam – seu nome consta na lista de procurados pela Interpol desde que a Justiça brasileira mandou prendê-lo pelos crimes de violação de dispositivo informático e extorsão. Brito quer obter asilo político em algum país europeu. Alega que, se for extraditado para o Brasil, corre o risco de ser assassinado.
A prisão em Kragujevac é o capítulo mais recente de uma história que começou com outra prisão de Brito, no dia 22 de janeiro de 2021, em Araçatuba, no interior de São Paulo. Agentes da Polícia Civil cumpriram um mandado de busca na modesta casa em que Brito morava na periferia da cidade. Apreenderam um computador, um celular, dois passaportes (um estava com data de validade expirada) e 10 mil reais em dinheiro vivo. No mesmo dia, Brito prestou depoimento à Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic). Disse que usaria os 10 mil reais e o passaporte válido para se mudar para a Europa e confessou: sim, de fato, ele era um hacker, invadira o celular do prefeito de Araçatuba, Dilador Borges (PSDB), e da mulher dele para chantageá-los. Pedia 70 mil reais para não divulgar nas redes sociais informações supostamente comprometedoras contra o prefeito e a primeira-dama.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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