minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

    O vandalismo: entre sexta e domingo, a Abin distribuiu sete alertas nos quais mencionou seis vezes o risco de “ações violentas” e quatro vezes a ameaça de “ocupações de prédios públicos” CRÉDITO: DIEGO BRESANI_2023

anais da intentona I

O poço

A vida depois do 8 de janeiro

Breno Pires | Edição 197, Fevereiro 2023

A+ A- A

O deputado Marcos Pereira, presidente do partido Republicanos, que formou a base de apoio ao governo de Jair Bolsonaro, estava em seu apartamento, em São Paulo, no início da tarde de domingo, 8 de janeiro. Ao lado de sua mulher, assistia a um show de final de ano de Roberto Carlos, no YouTube. A certa altura, Pereira zapeou seu celular e levou um susto: Brasília estava entrando em transe, com milhares de bolsonaristas atacando os prédios dos três poderes da República. Ficou mesmerizado e começou a pular de live em live, que transmitiam a quebradeira inédita na história brasileira. Político habilidoso, tomou pé de detalhes da situação pela imprensa, ouviu correligionários e, às 16h33, marcou sua posição no Twitter: “Os atos de vandalismo que estão ocorrendo hoje em Brasília são reprováveis sob todos os aspectos. Nós, do Republicanos, repudiamos qualquer manifestação que ultrapasse os limites democrático, seja ela da direita ou da esquerda.”

A reprovação e o repúdio vieram de forma moderada, mas o efeito foi sensível. Afinal, o autor do tuíte, além de presidir o Republicanos, é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, denominação evangélica que se sentou na primeira fila de apoio à eleição, ao governo e à reeleição de Bolsonaro. Dois dias depois do tuíte, quando recebeu a piauí no escritório da produtora de vídeo do partido no Lago Sul, em Brasília, Pereira havia acabado de expulsar um filiado do Republicanos: o empresário Maurício Nogueira, de São Paulo, dono de um dos ônibus que levaram bolsonaristas ao levante golpista. Em uma nota à imprensa, explicou-se: “O partido deverá expulsar todos os filiados que forem identificados que tenham participado da destruição e que excederam a manifestação democrática pacífica.” (Até o fechamento desta edição, quatro legendas haviam expulsado filiados por envolvimento na tentativa de golpe em Brasília: Republicanos, PSD, Cidadania e Solidariedade.) No escritório no Lago Sul, Pereira, que é pouco afeito a entrevistas, estava calmo. Fez questão de dizer que o vandalismo golpista não representa a direita brasileira. “É a extrema direita”, disse, e explicou o que é preciso fazer daqui em diante. “Nesse contexto do que aconteceu, eu acho que a direita, a centro-direita, vai ter que organizar, se reorganizar, e mostrar para a sociedade que nós não somos radicais, como se viu aí nesses atos.” Em seguida, sem ser indagado sobre o próximo passo, completou: “E buscar um novo líder.” Pereira suspeita que Jair Bolsonaro não serve mais – e, na conversa, ele próprio já tratou de tomar distância do ex-presidente.

Já é assinante? Clique aqui Só para assinantes piauí

Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

ASSINE