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    ILUSTRAÇÃO: CAIO BORGES_FOTO CATHERINE KARNOW_CORBS

chegada

O (re)descobrimento da América

Como um dos intelectuais mais festejados da atualidade solucionou, em onze segundos, o teorema moral que há cinco anos divide os Estados Unidos

Dorrit Harazim | Edição 23, Agosto 2008

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O teste começa com o homem-cobaia deitado de costas sobre um estrado de madeira, estreito demais para seu corpanzil mais que bem nutrido. Os tornozelos estão atados por cima da calça social, deixando à mostra o estiloso par de mocassins de couro. Com a cabeça enfiada num capuz um tanto tosco para o seu pedigree, o cavalheiro tem o abdômen imobilizado por uma correia. Apesar do asseio com que a experiência foi preparada, a sua camisa azul-clara sairá amarfanhada da experiência.

Mas o sacrifício terá valido a pena. Todo o desenrolar da ação está registrado para a posteridade em foto e vídeo, e o palpitante testemunho na primeira pessoa consta em site que reproduz a edição de agosto da revista americana Vanity Fair — publicação mensal que mistura jornalismo de qualidade com feira de vaidades.

No título da reportagem, a eletrizante revelação: “Acreditem, é tortura.” A identidade do autor aumenta o impacto: o sujeito imobilizado na maca é Christopher Hitchens, o ensaísta-crítico-jornalista-provocateur mais arguto, insolente e carismático do momento. Seu feito, de bravura ímpar: submeteu-se voluntariamente à técnica de simulação de afogamento praticada por americanos em prisioneiros no Iraque, Afeganistão e na base de Guantánamo. Com objetivo nobre: esclarecer ao mundo, de forma definitiva, se o método deve ou não ser considerado tortura.

 

Hitchens procurou seus carrascos num local montanhoso da Carolina do Norte, entre veteranos das Forças Armadas especializados em treinamentos avançados de sobrevivência, evasão, resistência, escape, e saiu do experimento um homem mudado. Alguns de seus inúmeros desafetos apontarão diferenças entre o experimento e o recurso ao método praticado em prisioneiros de verdade. Fruto, certamente, do vil sentimento da inveja e da mesquinharia. Algumas adequações decerto foram feitas, mas elas são miúdas, irrelevantes, e em nada invalidam a heróica superação vivida pelo autor.

É verdade que se o britânico Hitchens fosse um iraquiano capturado nas malhas da guerra ao terror, ele não estaria com as roupas e mocassins que usava ao ser apanhado — estaria nu, como parte da estratégia de humilhação adicional ao prisioneiro a ser interrogado. As boas maneiras dos interrogadores de Guantánamo também ficariam aquém das regras de etiqueta utilizadas com Hitchens. Mas isso são detalhes.

“Preste atenção”, anuncia o pseudo-interrogador rechonchudo, de camiseta preta e colete cáqui, ao dar os últimos ajustes à correia que prende o tórax de Hitchens à maca. “Vamos colocar uma peça de metal em cada uma de suas mãos. Quando o senhor tiver a sensação de não suportar mais o procedimento, solte uma ou ambas as peças. Imediatamente a demonstração será interrompida.” O aviso evoca as recomendações habituais dadas por enfermeiros a pacientes que vão se submeter a exames de ressonância magnética.

 

“Temos uma senha que o senhor pode usar quando sentir angústia extrema”, prossegue o instrutor gentil e roliço. “A senha é RED, ‘erre’, ‘e’, ‘de’. Repita a palavra.”

“Red“, repete o encapuzado Hitchens.

“Positivo”, registra o militar, satisfeito. “Se o senhor disser essa palavra em qualquer fase da demonstração, cessamos o procedimento imediatamente.”

 

Pelo que se sabe das sessões de interrogatório praticadas nos porões de Abu Ghraib, senhas ou peças de metal para interromper a tortura ainda não fazem parte do cardápio oferecido aos prisioneiros reais. Detalhes, detalhes. Devido ao declive proposital da maca, a cabeça de Hitchens está posicionada um pouco abaixo do nível do coração, o que agrava a sensação de sufocamento durante a sessão. Como o jornalista revela que dorme sempre com pelo menos dois travesseiros para combater uma moderada apnéia, ele sentiu-se desconfortável. Mas a busca da verdade justifica qualquer sofrimento.

A ação começa quando uma toalha é dobrada em três e colocada sobre o rosto encapuzado. Cada instrutor segura numa das pontas, esticando-a ao máximo sobre a boca e narinas do jornalista. Em seguida, um dos agentes pega um garrafão de plástico cheio d’água e, de jato em jato, começa a ensopar a toalha.

Hitchens descreve a sensação: “Abruptamente, senti uma cascata entrando no meu nariz. Determinado a resistir nem que fosse pela honra dos meus ancestrais da Marinha, que tantas vezes se viram a perigo em alto-mar, segurei minha respiração por um tempo até precisar soltar o ar. Na hora de inalar, senti o pano molhado colado às minhas narinas e não sabia mais se estava tentando exalar ou inalar.” Ele encerra a narrativa com fecho de ouro: “Fui inundado pelo pânico, mais do que pela água, e acionei o sinal combinado.”

Tinham se passado espantosos onze segundos.

Com destreza fulminante, os agentes se debruçam sobre Hitchens, arrancam-lhe o capuz da cabeça, desamarram-no e erguem o corpanzil compreensivelmente amolecido e atordoado. Ainda assim, os infindáveis onze segundos deixaram marcas indeléveis no bravo jornalista. “Desde então”, relata Hitchens em seu artigo confessional, “acordo à noite tentando afastar lençóis e cobertores do meu rosto e, quando faço qualquer coisa que me deixa sem fôlego, me vejo lutando com o ar em meio a uma horrível sensação de sufocamento e claustrofobia.”

 

Mais de meio século atrás, por motivos bastante diversos, o general francês Jacques Massu, também conhecido como o carrasco de Argel, testou no próprio corpo os efeitos de choques elétricos e simulações de afogamento para melhor aplicá-los nos suspeitos de terrorismo argelinos. Massu classificava as duas práticas de tortura, defendia o seu uso, e queria saber como aplicá-las de maneira mais eficaz.

De lá para cá, todas as entidades de defesa dos direitos humanos listam a simulação de afogamento como forma de tortura, e vetam o seu uso. Nos Estados Unidos do presidente George W. Bush, o método sofreu uma mutação semântica: agora é chamado de “interrogatório extremo”, e empregado com cobertura legal.

Christopher Hitchens começou a carreira profissional como esquerdista, da linha Radical Chique. Há cinco anos, mudou-se com armas e bagagens para a direita e passou a defender a invasão e ocupação do Iraque. Bastaram onze segundos para ele descobrir um dos seus desdobramentos práticos.

Parafraseando a citação de Abraham Lincoln sobre escravidão, Hitchens proclama: “Se isso não constitui tortura, então a tortura não existe.”

O vídeo que testemunha a insopitável coragem do autor pode ser admirado em www.dailymotion.com/video/x5zs17_hitchens-water_news.

Dorrit Harazim
Dorrit Harazim

Jornalista, trabalhou nos principais veículos da imprensa brasileira e participou da criação da revista Veja e da piauí, na qual foi editora. Ganhou o Prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade Columbia. É colunista de O Globo e publicou O instante certo

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