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Quem me conhece sabe

    CRÉDITO: LEANDRO ILUSTRADO_2022

ficção

Quem me conhece sabe

Hoje qualquer um pode falar asneira sem preocupações, basta um celular na mão

Carlos Eduardo Pereira | Edição 196, Janeiro 2023

A+ A- A

Eu não seria capaz de fazer essas coisas de que tão me acusando, nosso amigo diria. Diria também que, na real, mesmo se fosse ele mesmo, e não é, ele afirma e confirma não sou, na real nenhuma dessas coisas aí constituem algum tipo de crime, se você quer saber. Todo mundo gosta de brincar desse jeito, todo mundo brinca, o problema é que tá tudo muito chato, não concorda? Onde é que tá escrito que isso é crime? Me diz, onde é que tá? Nosso amigo diz o pessoal do outro lado tá citando código penal, estatuto da criança e não sei mais o quê, diz isso é tudo balela. Perdeu quase todos os seus seguidores, e o diabo é que não vai ter maneira de recuperar depois. Não vai ter mais Apoia-se, Pix, Superchat. E então, como é que fica? Nenhum de seus apoiadores fez um mísero vídeo em seu favor, nenhuma postagem, ninguém foi ao Twitter afirmar que ele é um cara legal e que jamais nosso amigo seria flagrado cometendo esse ato que os hipócritas estão apontando o dedo sem nenhuma cerimônia em jurar de pé junto que foi mesmo uma desgraça dessas com certeza que ocorreu. (Muito até pelo contrário, o cara que tocava um projeto com ele, os dois num podcast meio de comédia tirando uma onda com a política local, esse cara se precipitou e foi correndo a público dizer que está com muita raiva, que é duro ter seu próprio nome vinculado a uma miséria dessas e não tem como aceitar que o ex-colega tenha agido desse jeito, nosso amigo que já disse por diversas vezes que diversas vezes tentou se matar, que Deus o livre, que não é o caso de seu ex-colega procurar essa saída fácil que é o suicídio, nada disso, que o caso é que ele pague na Justiça pelo crime que ele cometeu, que pague com juros, que pensando do lugar de pai tem o desejo profundo de que seu ex-­colega vire mulherzinha de bandido na cadeia, deseja que seu ex-colega se foda de verde-amarelo. Esse cara mesmo, dizendo que desenterraram postagens antigas em que ele próprio defendia posições indefensáveis, mas que era postura de uma juventude inconsequente, que o cara polêmico de antes estava apenas de provocação, que por óbvio se fosse hoje em dia não diria toneladas de besteiras assim, que, antes, era tudo brincadeira. O caso ainda está por ser esclarecido só que o cara conseguiu bastantes views.) Nosso amigo pensa em deixar o país, mas talvez seja tarde. Uns conhecidos que tem na fronteira, pode ser que facilitem as coisas, e dali partir direto para Miami, pode ser que sim. Mas quem é que bancaria? O vídeo que vazou na internet é de uma qualidade que meu Deus do céu, o sujeito que está ali fazendo aquelas coisas até se parece com ele, não dá para negar, só que a sala de aula que aparece no meme é como muitas outras espalhadas por todo o país, não dá para cravar também que aquela aluna é mesmo aluna dele. Sem contar que nosso amigo diz não tem nada demais, é tudo brincadeira, as cenas tão tiradas de contexto. Essa imprensa que nós temos por aqui tá caindo de pau. Desde os tempos em que ele atuava nos veículos tradicionais já batia de frente com o sistema, só que agora a coisa toda piorou. Hoje em dia qualquer um pode falar qualquer asneira sem se preocupar com nada, basta um celular na mão de um vagabundo desses, e toda uma reputação, construída com muito suor, vira pó. Agora ele está quase chorando. Outro dia eu tava vendo uma entrevista com uma atriz norte-americana, a Meryl Streep, naquele canal com o apresentador que jura que faz críticas de filmes e séries. A Meryl Streep tava aqui no Brasil pro lançamento de uma continuação daqueles mela cueca lá em que ela atua e ganha uma bolada por quinze minutos de tela (que nem o Bruce Willis, fez um monte de filmeco pra se garantir de grana já que tá doente de velhice e não consegue sequer empunhar uma escopeta e botar os terroristas pra correr, como se ele já não fosse milionário que chegue, aposto que ele agora tá deitado de barriga pra cima na piscina de uma das mansões que deve ter em Malibu ou nas Ilhas Seicheles), e o dono do canal, um bostinha que não manja lhufas de cinema e garante que leu todos os livros do Michel Foucault, e no finzinho do vídeo, como quem não quer nada, ele deixa escapar que ganha comissão por cada livro justamente do Foucault comprado usando o código bostinha-não-sei-mais-­o-quê, cujo link se pode encontrar logo no primeiro comentário fixado, apresentador que apesar de tudo ele tem seguidor pra dedéu. O bostinha perguntou como é que faz pra gravar uma cena de choro convincente na frente de toda uma equipe que tá ali fazendo a produção, debaixo daquela tremenda luzona na cara o tempo todo, diante da parafernália infernal que eles podem e gostam de usar em Hollywood. Tanta coisa pra ele perguntar e ele perguntando uma pergunta merda dessas. A Meryl se vira pra ele e diz chorar é fácil, baby, mas se quer ser convincente de verdade, se o desejo é enganar uma plateia só na base da emoção, precisa produzir um quase choro, entende? A grande cartada é segurar as lágrimas de um jeito que o público consiga ver bem visto a sua cara toda retorcida. Ajuda inclusive bastante se o sujeito embarga a voz, ou se ele dá uns solucinhos, ou se ele gagueja. Nosso amigo fica furibundo toda vez que escuta alguém equiparando a atuação de um destacado produtor de conteúdo digital feito ele com o trabalho de um entregador de iFood, ou de um motorista de Uber. Pensa que ele sim é um capitalista de verdade, com seu computador e sua câmera tem tudo de que necessita, é dono dos seus próprios meios de produção, enquanto levadores de comida na casa dos outros, eles sim, são uns coitados, são massa de manobra no sistema. Pensa isso sem levar em consideração que a plataforma pela qual veicula seus vídeos pode escorraçá-lo de lá com um peteleco. O que acaba de ocorrer, por acaso. Quando bloquearam seu canal no YouTube, na horinha mesmo, ele estava bem no meio de uma live e explicava para um fiscal da Funai todas as manhas que o governo deve ter, e infelizmente não tem, no trato com os índios que criam problemas à toa. Nosso amigo nunca deu detalhes sobre certa noite, há muitos, muitos anos, tinha apenas 17, a vez em que a Polícia do Exército fazia uma ronda pela Vila Militar e surpreendeu nosso amigo trepado numa árvore do lado de fora do drive-in assistindo a uma sessão de Minha P. na sua B. Nosso amigo nunca deu detalhes, mas consigo imaginar que tenha sido um episódio traumático um bocado, já que vira e mexe volta a esse assunto, mesmo tanto, tanto tempo depois. Posso imaginar que assim que recolhido ao camburão, que até já tinha gente dentro, uns barbudos que ele nunca tinha visto e pareciam ter também seus 17 ou 16, tudo com cara de pavor, assim que recolhido já levando suas bordoadas, já sendo informado de que aqueles cassetetes iriam cantar de todas as maneiras possíveis hora após hora naquele passeio no meio do mato, enfim, nosso amigo nunca deu detalhes, mas eu posso imaginar. Uma outra live, essa acontecendo agora mesmo, traz aquele sujeito, que é o nosso amigo escarrado e cuspido, falando contra a mídia hegemônica, aos colegas, pela dark web, sem se mostrar preocupado com os aspectos da monetização nem nada disso, ao fundo um cenário pouco iluminado de quarto com ursinhos fofos, ou lobinhos fofos, desenhados num papel de parede. Nosso amigo não consegue pensar numa forma de denunciar essa live, primeiro que não sabe se concorda ou se discorda de tudo a que assiste em tempo real nessa tela, depois que não sabe se encontra quem tome atitude. De dentro do quarto decorado com desenhos no papel de parede, numa casa que não é a sua casa, nosso amigo escuta cada vez mais alto, cada vez mais perto, ruídos chegando pelo lado de fora. Parece que existe uma lei que impede agentes da Polícia Federal de cumprirem mandados de busca ou prisão antes das seis da manhã. Parece que a convenção do condomínio de casas em que nosso amigo está neste momento determina que ainda vigore a esta hora, são cinco para as seis da manhã, que ainda vigore uma lei de silêncio. Parece que os vizinhos todos moradores deste condomínio, e talvez bem mais gente, parece que uma multidão com paus e pedras se aglomera do lado de fora do muro que separa nosso amigo do ruído cada vez mais alto, cada vez mais perto.

Carlos Eduardo Pereira
Carlos Eduardo Pereira

É escritor. Autor dos romances Enquanto os Dentes e Agora Agora, ambos publicados pela editora Todavia

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