Rebelião do corpo, rebelião dos leitores
| Edição 155, Agosto 2019
A FLORESTA FICARÁ DE PÉ?
Sou comprador esporádico da piauí nas bancas, o que inclui o ritual de zoar o dono da banca, Miguel, bolsonarista convicto, que quando pergunto se chegou a revista responde: Aquela revistazinha comunista de merda?
Bem, às vezes fico pensando se alguma “razãozinha” ele tem lá no fundo. A revista de junho traz uma reportagem sobre quilombolas fazendo coivara que é de chorar (Chegada, “Amarelo sobre verde”, piauí_153). Coivara? Desmatar e queimar para aproveitar os minerais contidos nas cinzas, ter boa produção num local isento de pragas e doenças por estar há muito sem cultivo, e depois de começar o esgotamento do solo e o surgimento das mazelas… é só ir para outro lugar e destruir de novo. Isso é sustentabilidade? Com dezessete anos a mata original não se recompõe plenamente. Matas remanescentes são compostas de diferentes estratos vegetais que vão mudando ao longo do tempo. Ipês, por exemplo, fogem do sol franco, querem sombreamento para se desenvolver. É assim: meu avô era um estúpido, meu pai também, e eu sigo a tradição de estupidez destruindo o meio ambiente com uma agricultura do início da história da humanidade quando deixamos de ser caçadores. E a revista? Se a destruição for de “esquerda” e tombada pelo Iphan, pode. Pelamordideus.
Já a reportagem “O meio ambiente como estorvo” é objetiva, expõe os problemas, dá voz ao contraditório e cita que produtores rurais não são compostos na íntegra por pessoas destruidoras do meio ambiente. Afinal, quem compra uma fazenda e a tem como meio de produção não pode esgotar os recursos naturais, senão quebra. Simples assim. Portanto, a preservação da água e do solo é fundamental para a perenidade dos negócios.
O uso de defensivos agrícolas ou venenos, necessários para pôr comida na boca de 90% da população que vive nas cidades e acha que o leite vem é da caixinha, deve ser usado com parcimônia, com intervenções monitoradas das pragas e doenças para atingir o máximo efeito com pouca quantidade. Porque custam caro “pacarái”, e produtores rurais não põem preço nos seus produtos e sim são tomadores de preço. Porque para vender lá fora e receber em moeda forte há que se passar por inspeções e certificações. Que tal uma reportagem com a produção rural de ponta e preservação ambiental como aliada na agregação de valor, em vez de reportagens bobocas como a dos quilombolas? Desejo a estes um melhor manejo, acesso à mecanização e inserção no agrobusiness para que a garotinha das gerações vindouras tenha acesso a uma boa educação e possa comprar um celular moderno ou o que quiser. Capitalismo com sustentabilidade. É possível? Brasil, sempre com pautas do atraso, brigas pré-queda do Muro de Berlim. Trinta anos de atraso. Cansei. Fui.
RICARDO CARVALHO DE BARROS_JANAÚBA/MG
No Brasil, com o debate politizado sobre coisas não políticas, os ativistas em sua maioria somente estorvam. Não há busca de consenso e, por amassarem os produtores mais pobres, apenas fortalecem o superagronegócio que possui advogados, armas e políticos em seus bolsos.
JADER GOMES_VIA FACEBOOK
CONFLITOS DE CARLOS
Tadinha da Malu. Agora eu entendi por que ela saiu de férias.
NAI KOVALSKI_VIA INSTAGRAM
Não sem asco, li a excelente reportagem de Malu Gaspar, “O pit bull do papai” (piauí_154, julho). A repórter, além de ratificar sua qualidade e profissionalismo, possui estômago forte para lidar com esses “atores” nos três meses de elaboração do trabalho. O “capitão hereditário” e sua prole superam as sandices havidas na monarquia que desequilibravam o Império a cada amante e reforma palaciana. Imagino com o que a Malu pode nos brindar a partir das novas patacoadas governamentais envolvendo a gastronomia diplomática de um dos filhos reais. Os meandros dos meses iniciais deste governo do fim do mundo estão sendo muito bem documentados.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_CAMPINAS/SP
O pavão do papai seria um título mais adequado.
RUDRIGO DIGO_VIA TWITTER
O pior é que ele tem razão, a mídia puritana brasileira tem muito a aprender.
RAFAEL LEONARDO SILVA_VIA INSTAGRAM
Fontes de informação: as vozes da própria cabeça e o mapa astral do Olavo.
ADOLFO FONTENELE_VIA INSTAGRAM
CAPA DE JULHO
Estava com medo de uma capa do Moro e o Deltan se beijando, mas agora não posso me queixar (Capa, piauí_154, julho).
MEANDROS_VIA TWITTER
Que linda a capa ao estilo Anunciação do #FraAngelico! Vocês bem que podiam explicar como nasceu a ideia dessa capa renascentista, né não?
SARITA GIANESINI_VIA INSTAGRAM
NOTA SINCERA DA REDAÇÃO: Foi constrangimento. Anunciamos para a redação que se ninguém aparecesse com ideia melhor publicaríamos a tal capa de Moro e Dallagnol se beijando (foi por pouco, Meandros…). O pessoal imediatamente largou tudo e se pôs a queimar a mufa – o departamento de arte, os repórteres, os editores, a turma do cafezinho, os motoristas da Consuelo Dieguez, todo mundo varou a noite. Poucas horas antes de fecharmos a edição, um(a) estagiário(a) veio com a proposta. Omitimos o nome da criatura para que a fama não lhe suba à cabeça. E também para evitar pedidos descabidos de aumento salarial e efetivação no emprego.
A capa é ótima, mas preciso dizer que também gostava do tempo em que a piauí trazia capas lindíssimas que não estavam necessariamente relacionadas aos fatos da atualidade. Mas entendo a necessidade da mudança, para atrair mais leitores.
RODRIGO CARDOZO_VIA INSTAGRAM
Que Deus tenha misericórdia da alma de vocês.
JEAN MIRANDA_VIA TWITTER
Tenho a piauí desde o primeiro número. Lamentavelmente artigos como “A solidão do juiz”, de Jonathan Crowe (piauí_50, novembro 2010), que aplica a filosofia de Sartre a um jogo de futebol, ficaram para trás.
ANDRÉ CASTELO TORRES_VIA INSTAGRAM
NOTA TRISTONHA DA REDAÇÃO: Tanta coisa ficou para trás, André. As tais capas atemporais mencionadas pelo Rodrigo Cardozo, a civilidade, uma ideia de futuro, a nossa juventude, o Seedorf no Botafogo…
Eu tenho dúvidas se os bolsonaristas irão entender essa capa. É bem capaz de dizerem: realmente Moro é um santo e Dallagnol é um servo fiel…
ANA_PELO MUNDO_VIA TWITTER
Fala como um anjo, se veste como um anjo… Mas é o diabo disfarçado.
MARCELO ANDRÉ CORTEZ_VIA INSTAGRAM
A BATALHA DO ASSACU
Li com atenção e interesse a reportagem “No meio do caminho tinha um assacu” (piauí_153, junho). A longa batalha jurídica para salvar uma árvore amazônica em Copacabana é ainda mais longa do que o reportado nessa cuidadosa e extensa matéria. Um capítulo ainda não divulgado diz respeito a um abaixo-assinado organizado por um adolescente de 15 anos em 1975, que levou ao tombamento da árvore pelo Departamento de Parques e Jardins da época. Foi esse tombamento que permitiu a alteração do projeto de construção do edifício, que previa inicialmente a derrubada da árvore. A coluna do Ibrahim Sued deu uma notinha sobre o tombamento.
Hoje, às vésperas de completar 60 anos de idade, decido aproveitar para contar aqui essa história: eu mesmo organizei o abaixo-assinado, quando morava na rua Pompeu Loureiro, 77, em frente ao assacu. Eu estudava na mesma turma dos humoristas do Casseta & Planeta, Claudio Manoel e Marcelo Madureira. Se eles já me sacaneavam por causa da árvore, apelidada por eles de “pau de balsa”, imagine se soubessem que ela, na verdade, se chamava “assacu”!
Nos anos 70, em plena ditadura militar, qualquer movimento com cara de protesto demandava cautela e artifício: com a ajuda dos porteiros, fiz um levantamento de todos os militares que moravam na vizinhança. Levei o abaixo-assinado para um general aposentado, que aceitou assinar logo abaixo do meu nome. Em seguida, percorri a escala hierárquica dos militares e, com as assinaturas deles, julguei que os outros moradores se sentiriam protegidos, e então passei às outras categorias profissionais. Juízes, advogados, médicos, jornalistas, dezenas assinaram. Até o Sargentelli assinou.
(Pra quem não sabe: O Sargentelli tinha um programa com mulatas na televisão muito popular naqueles anos. Ele me convidou para ir ao programa e divulgar o meu movimento, mas não aceitei. Evitei pagar esse mico, pois meus colegas, futuros cassetas, não iam deixar barato.)
Dei entrada no processo de tombamento no Departamento de Parques e Jardins com o abaixo-assinado e uma pesquisa sobre o valor arquitetônico e paisagístico da árvore. O requerimento caiu nas mãos de técnicos corajosos e competentes, e conseguimos.
Que bom saber que a árvore da Pompeu Loureiro ainda existe e os atuais vizinhos ainda se empenham pela sua preservação.
Hoje moro no Canadá, sou cineasta de filmes de animação e professor de cinema.
DANIEL SCHORR_MONTREAL/CANADÁ
NOTA CÍVICA DA REDAÇÃO: O Canadá tem uma democracia prontinha da silva. Volta, Daniel! Você aí é redundante. Pensa nos assacus, mognos, andirobas e cumarus do Brasil.
REBELIÃO DO CORPO
Opressão médica? (“O corpo crítico”, piauí_154, julho) Eu quero é viver! Atos de rebeldia não curam câncer. Acorda, a doença não liga para os sentimentos de ninguém. Vai contar com um milagre? O tratamento médico é duro e desconfortável, mas é sua única chance real de permanecer vivo.
MÁRCIO MELO_VIA TWITTER
O que o texto deveria despertar: “Como o nosso sistema médico-hospitalar não está preparado para receber de forma humana pacientes em situação vulnerável. A medicina paliativa precisa ser bem implementada.” O que as pessoas estão discutindo: “Esse negócio de quimioterapia é uma conspiração da indústria farmacêutica, assim como as vacinas; toma esse suco de couve com lichia aqui para alinhar os seus chacras.” Sério, ler esses comentários me faz lembrar que não é só bolsominion que alucina na conspiração.
IVO DE CASTRO ASSIS_VIA INSTAGRAM
Esse relato é incrível. Para mim, a melhor coisa da última edição. E olha que o perfil do Carluxo está um primor.
LEANDRO LEAL_VIA INSTAGRAM
Foucault fez mais ou menos a mesma coisa, só que contra outra doença, e no processo fez diversas reflexões sobre o biopoder e o controle dos vivos. Bom ver que o pensamento dele ressoa aqui.
RODRIGO MANDELBAUM_VIA INSTAGRAM
Excelente reportagem, a arte de viver e morrer acima das entranhas de sistemas de saúde perversos.
FLAVIA POPPE_VIA INSTAGRAM
Recusar-se a fazer tratamento é um direito de qualquer pessoa, livre-arbítrio. Glamorizar essa conduta é uma irresponsabilidade da parte de um veículo de comunicação. Fica parecendo “Capinha Vogue-Pós-mtv” em apologia ao paciente contra o “sistema”.
SOLYON_VIA INSTAGRAM
Entendo o movimento. Minha mãe morreu de câncer em 1992, com um tratamento ruim. Entretanto, minha mulher teve um câncer de útero, retirou e fez acompanhamento em uma clínica muito boa, muito humana. Verdade que ela não chegou a precisar de químio. Mas a clínica, até onde conheci, teve um comportamento irretocável.
LUCIENE COSTA_VIA INSTAGRAM
Opressão médica. A “opressão médica” salvou minha mãe de um câncer gravíssimo. As pessoas precisam aprender que para validar suas atitudes, não precisam depreciar o outro. Horrível falar dessa forma de quem faz tudo para salvar vidas. Quer interromper o tratamento? Beleza. Mas daí a fazer esse tipo de afirmação é bem desumano. Um amigo que morreu perto dos 30 anos com um câncer de pulmão me falou o seguinte nas últimas semanas de vida: “Eu sinto uma dor dilacerante o tempo todo. Meu peito queima. Luto contra essa doença e as coisas estão ruins. Mas isso não me dá o direito de achar que posso perder minha empatia ou que meu sofrimento me permite falar qualquer coisa.” Um jovem mais sábio que um senhor. Paciência.
KARINA SANTIAGO_VIA INSTAGRAM
Daquelas histórias para inspirar. Só uma mente lúcida para mudar o curso normal dos protocolos médicos. Chama a atenção quando ele diz que os médicos cuidavam do corpo e não da pessoa.
DANIELLA RIBEIRO LONGUINHO_VIA FACEBOOK
QUADRINHOS
Só faltou escrever: Então, após muito refletir, Ele a fez [a Terra] plana! (“O mi-to da criação”, piauí_154, julho)
PASCOAL MONTE SANTO_VIA FACEBOOK
Grande Allan Sieber, representante legítimo da minha indignação.
SOLANGE JOUVIN_VIA FACEBOOK
PARAFUSO A MAIS, VÍRGULA DE MENOS
Percorro mensalmente as páginas da piauí atrás de boas histórias e, quando com sorte, de algum desvio de diagramação. ossos do ofício. vício de designer gráfico, além de um pequeno prazer no erro alheio. qual foi meu espanto ao constatar, enquanto investigava a ficha técnica na penúltima página da revista, a falta de uma vírgula entre o nome da rua mateus grou e o número do imóvel, rompendo o bom padrão estabelecido no endereço que lhe precede. já havia arrancado este pedaço da página como referência de boa formatação para trabalhos próprios, mas o que tenho em mãos agora é o peso da ausência desta pausa crucial em toda minha coleção da revista. fica a dica para o/a colega de profissão lembrar de fazer este ajuste para a próxima edição. antes tarde do que nunca. por favor, para meu bem, para o bem da revista e de outros leitores obsessivos, introduzam a devida vírgula. e claro, muitíssimo parabéns por todos os outros acertos.
PEDRO DE ALBERGARIA_BELO HORIZONTE/MG
NOTA: OROTGRÁFICA, DA REDAÇÃO: correção feita. (releve eventuais,, outros erros]. desde já} sugerimos que você, se habilite, ao prêmio Varilux de olhos de lince:
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