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    Camus, gripado no Rio: suas categorias mediterrâneas aplicadas ao Brasil seriam limitadoras, e cabe perguntar se a limitação não é um defeito mais do olhar do artista do que do lugar em si CRÉDITO: KLEBER SALES_2020

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Triste nos trópicos

A visita de Albert Camus ao Brasil em 1949

Alejandro Chacoff | Edição 162, Março 2020

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Albert Camus tinha certa dificuldade com a grafia de nomes em português. No diário e caderno de anotações que manteve durante a sua passagem pelo Brasil, em julho e agosto de 1949, Murilo Mendes aparece como Murillo Mendès; Manuel Bandeira como Bandera; Augusto Frederico Schmidt é Federico. Nem o jornalista João Batista Barreto Leite Filho, que recebe Camus no porto do Rio de Janeiro e o acompanha e entretém durante parte de sua estadia, escapa do deslize linguístico: no diário ele é Barleto, ou simplesmente B. Já Oswald de Andrade tem o seu sobrenome grafado corretamente. O acerto, porém, tem o mesmo ar casual e indiferente dos erros – não parece ser qualquer espécie de homenagem ao poeta brasileiro.

Um pouco antes de conhecer Camus pessoalmente, Oswald havia demonstrado alguma ansiedade em agradar o autor franco-argelino, em recebê-lo bem. “A natureza do Rio, espécie de cartão de visita do país, não pode satisfazer a solidão de Camus, ávida de geografia e de povo”, o poeta escrevera na coluna Telefonema, que assinava no jornal carioca Correio da Manhã. Enfatizava a necessidade de trazer o autor a São Paulo e apresentar-lhe uma das festas folclóricas do interior do estado, para assim lhe mostrar o Brasil verdadeiro, aquele “que está por detrás das montanhas que emparedam a capital asfaltada. E o clima de absurdo, que é o clima de sua obra, encontraria o apoio de nossas florestas sensacionais, de nossos rios sem destino, de nossa gente pré-histórica”.

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