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piauí jogos

    O céu alaranjado de Jataí, em Goiás, na segunda-feira, 9 de setembro: um tom irreal, um morador surpreso, uma mulher varrendo a fuligem CRÉDITO: TV ANHANGUERA_REPRODUÇÃO

despedida

Uma noite de asfixia

O planeta como conhecíamos já acabou, mas os bares continuam cheios

Giovana Madalosso | Edição 217, Outubro 2024

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Acordo com a tosse do meu companheiro. Olho para o relógio na mesa de cabeceira: onze da noite. Embora estejamos em setembro, o calor acentuado torna a madrugada infernal. Tenho a sensação de que os ponteiros vão derreter, os algarismos romanos vão escorrer pelo tampo. Minha divagação é interrompida pela voz que soçobra ao meu lado: preciso do inalador.

Levanto para ajudá-lo. Desde que a cidade de São Paulo foi tomada pelo tempo seco e pela fuligem das queimadas, ele anda preso ao nebulizador como a uma mamadeira. Tanto que nem preciso pegar o aparelho, que já está perto da cama. Só me levanto para buscar a garrafa de soro: vazia. Pensávamos que havia outra, mas não. Tal qual um alcoólatra, o ar seco bebeu tudo o que tínhamos em casa: o soro fisiológico, a umidade das toalhas que espalhamos pelo quarto, a água que deixamos numa bacia na sala, a saliva das minhas mucosas.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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