Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, e Essa gente, de Chico Buarque, foram dois best-sellers brasileiros que entraram na lista de obras de ficção mais vendidas na pandemia, um período no qual o varejo de livros experimentou um crescimento significativo. Entre 2017 e 2022, houve um aumento de 38%, chegando ao pico de 58,6 milhões livros vendidos, segundo a Nielsen BookScan. No ano passado, já com os brasileiros livres do confinamento, as vendas se assentaram, chegando a 54 milhões, ainda acima do patamar pré-Covid. O preço médio do livro chegou a 46 reais em 2023 – e o valor é o principal motivo alegado pelos brasileiros que não compraram nenhum exemplar no último ano. O =igualdades desta semana traça os hábitos de compra e venda de livros no Brasil.
Ismael Borges, gerente regional da Nielsen BookScan, diz que a pandemia fez com que as pessoas redistribuíssem seu tempo livre – e houve um aumento na quantidade de livros vendidos. Em 2023, as vendas do varejo – que compreendem as principais livrarias e supermercados no país – decaíram 7% em comparação a 2022. Borges considera essa diminuição natural, já que o crescimento nos anos anteriores foi atípico.
O faturamento das editoras com a venda de livros científicos, técnicos e profissionais está diminuindo paulatinamente desde 2012. Alguns fatores que explicam esse encolhimento são pirataria, redução no número de estudantes da rede privada de ensino superior e a utilização de outras fontes de conteúdo, como YouTube.
O primeiro Panorama do Consumo de Livros, da Câmara Brasileira do Livro e da Nielsen BookData, revelou que 25 milhões de brasileiros com 18 anos ou mais compraram livros entre outubro de 2022 e outubro de 2023. O estudo também mostrou que 69% desses consumidores adquiriram até cinco livros, enquanto 8% compraram 16 ou mais.
Desde o início da série histórica do BookScan, foi apenas a segunda vez que o preço médio do livro fechou o ano com um reajuste acima da inflação – a variação foi de 7%, enquanto a inflação acumulada de 2023 fechou em 4,6%. Em 2020 e 2021, a variação do preço médio chegou a diminuir. “As pessoas consideram os livros caros, mas isso é uma injustiça. O Brasil tem um dos mercados editoriais mais baratos. Até o ano passado, o preço médio do livro estava defasado em relação à inflação”, afirma Ismael Borges. Ao mesmo tempo, o salário mínimo do brasileiro é de R$ 1.412.
Com a expansão do varejo online, as livrarias físicas passaram a ter mais desafios. As lojas de livros exclusivamente virtuais, como Amazon ou Mercado Livre, superaram o faturamento de livrarias em geral. Em 2022, as vendas para o e-commerce representaram 35% da receita das editoras de livros, já as livrarias em geral ficaram abaixo, com 27%.
A crise do mercado editorial se acentuou a partir de 2018, quando grandes redes de livrarias fecharam as portas em diversas cidades. No ano passado, o Brasil registrou 2.972 livrarias, segundo o Anuário Nacional de Livrarias – uma a cada 68 mil habitantes.
A distribuição de livrarias no território brasileiro é desigual. A cada 100 lojas, 39 estão localizadas em São Paulo. Proporcionalmente, o Rio Grande do Sul é o estado que tem mais livrarias por habitante – e Maranhão o que tem menos.
Repórter da piauí
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno