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    Na abertura do Festival Piauí de Jornalismo, a jornalista venezuelana Beatriz Adrián (ao centro) foi entrevistada pelo diretor de redação da piauí, Fernando de Barros e Silva, e pela professora Edilamar Galvão, da Faap FOTO: TUCA VIEIRA

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Na Venezuela, o medo na pauta cotidiana

Repórter Beatriz Adrián detalha perseguições à imprensa em seu país e dificuldades para exercer profissão

| 05 out 2019_12h23
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“Eu pensei duas vezes antes de sair da Venezuela e vir aqui [ao Brasil]. Muitos jornalistas já tiveram seus passaportes apreendidos. Eu também poderia ser presa. Continuo com medo até agora”. Foi assim que a repórter venezuelana Beatriz Adrián começou a responder às questões sobre seu trabalho, na abertura do Festival Piauí de Jornalismo. Ela participou de uma mesa que discutiu a situação da imprensa na Venezuela em meio à crise política e humanitária vivida pelo país sob o governo de Nicolás Maduro. A sexta edição do festival, que acontece neste fim de semana (5 e 6) no auditório da Faap, em São Paulo, discute as dificuldades vividas por jornalistas em países onde a liberdade de imprensa está sob ameaça.

Adrián é correspondente, em Caracas, da Caracol Televisión, emissora de tevê colombiana. Antes disso, trabalhou por anos na Globovisión, um canal venezuelano de televisão por assinatura. No festival, conversou com Fernando de Barros e Silva, diretor de redação da piauí, e Edilamar Galvão, coordenadora do curso de jornalismo da Faap, e fez um relato sobre as intimidações e ameaças que ela e outros jornalistas têm sofrido na Venezuela.


Em janeiro deste ano, Adrián e uma colega foram detidas por agentes de segurança do governo ao tentar cobrir a prisão de Juan Guaidó, principal opositor do regime chavista e autoproclamado presidente da Venezuela. Elas, assim como Guaidó, foram liberadas horas depois, após pressão de entidades estrangeiras e órgãos de imprensa venezuelanos.

“Nós fomos até a sede do Sebin [Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional] para ver se o Guaidó chegava. Vários homens armados nos levaram até o sótão do edifício. Pegaram meu celular, minha carteira, baixaram os vídeos que tínhamos feito”, contou Adrián. “Começou uma pressão internacional por meio do Twitter e da televisão. Como eu trabalho para um veículo grande, isso me dá certa proteção, então fomos liberadas.”

Episódios como esse são recorrentes, disse Adrián. Segundo ela, a perseguição à imprensa agora se estende também às fontes e a quaisquer outras pessoas que colaborem com o trabalho dos jornalistas. “O governo venezuelano está perseguindo também aqueles que contam histórias a jornalistas. Eles dizem que a fonte está traindo a pátria por falar com um veículo estrangeiro. Por isso, muita gente não quer falar com a imprensa, não quer denunciar.”

Adrián se emocionou e chorou ao se lembrar de amigos e familiares que tiveram de deixar o país para fugir da crise. Pediu apoio do público a uma campanha realizada nas redes sociais para libertar Jesús Medina, um fotojornalista detido pelo governo venezuelano. “Muitos colegas precisaram largar a profissão para sobreviver em outros países”. Apesar das dificuldades, disse que pretende permanecer exercendo a profissão na Venezuela. “O jornalismo tem que estar onde está a notícia. Tem jornalista que vai para a Síria e entra em situações ainda mais perigosas. No meu caso, isso acontece no meu próprio país.”

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