Caminhar pelas cidades e se deparar com nomes de famosos estampados nas placas de ruas é inevitável. É comum que os nomes sejam desconhecidos da maior parte das pessoas. Em outros casos, os nomes têm biografias contraditórias, e por isso se tornou comum contestar certas homenagens mundo afora. As ruas brasileiras refletem as contradições do país, conforme mostram dados de 2019 do IBGE, compilados pelo site Pindograma. Para cada logradouro que homenageia uma mulher, há quatro que homenageiam homens. Para cada referência a Olga Benário, militante comunista, há duas a Filinto Müller, chefe da polícia política no Estado Novo. Mas quem realmente predomina nos espaços públicos são figuras da Igreja Católica: há ao menos 57,5 mil endereços que homenageiam santos e santas. Militares também são muito lembrados. Duque de Caxias, político, militar e patrono do Exército, acumula mais homenagens do que Dom Pedro II, seu chefe nos tempos do império. O =igualdades desta semana faz um passeio pelas ruas, avenidas e praças do Brasil.
Os espaços públicos homenageiam poucas personalidades femininas no Brasil: há aproximadamente 176,4 mil logradouros com nomes de mulheres. Enquanto isso, outros 790,7 mil receberam nomes de homens – superando, inclusive, os logradouros de nome neutro (objetos, plantas, datas…), que somam cerca de 694,7 mil.
Desconsiderando santos e santas, a personalidade masculina mais homenageada nas ruas brasileiras é Getúlio Vargas, que foi presidente do Brasil em dois períodos – sendo um deles a ditadura do Estado Novo, que vigeu de 1937 a 1945. Vargas dá nome a 2,7 mil logradouros. Já a Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, é a mulher mais homenageada nas ruas do país, mas com um número bem menor: há apenas 1 mil endereços com seu nome.
Ao menos 2 mil endereços no Brasil fazem alusão a Duque de Caxias, político e militar que se tornou patrono do Exército Brasileiro. Enquanto isso, apenas 1,2 mil logradouros homenageiam Dom Pedro II, que foi chefe de Caxias nos tempos do Império.
Das 27 unidades da federação, o Amapá é o que tem a maior presença de nomes femininos nas ruas, mas o número ainda é pequeno: elas estão em apenas 23% das placas de rua (desconsiderando, do percentual total, as ruas que levam nome neutro). O Piauí, por sua vez, tem o menor percentual do país: só 13% das ruas homenageiam mulheres.
Olga Benário, militante comunista perseguida durante o Estado Novo, tem ao menos 28 endereços em sua homenagem. Já Filinto Müller, chefe da polícia política de Getúlio Vargas nesse mesmo período e um dos responsáveis pela perseguição e deportação de Benário, tem ao menos 57 endereços com seu nome.
Os santos católicos são as figuras mais homenageadas nos logradouros brasileiros, dando nome a pelo menos 57,5 mil ruas. Dos santos, São José é o mais popular, com 2,7 mil endereços em sua homenagem. Os militares, por sua vez, são lembrados em 29,7 mil logradouros públicos (o cálculo considera militares de todas as patentes, sem distinção).
Nas ruas brasileiras, Castro Alves, escritor branco que é reconhecido também por ter combatido a escravidão, acumula ao menos 1 mil homenagens – o dobro que Machado de Assis, escritor negro considerado o maior nome da literatura brasileira, citado 496 vezes nos logradouros públicos.
Fonte: Pindograma, com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Jornalista e autora de Memórias Interrompidas: testemunhos do sertão que virou mar. Foi estagiária de jornalismo na piauí e também já contribuiu com Universa Uol, G1 Ceará e Diário do Nordeste.
É editor-chefe do Pindograma, site de jornalismo de dados, e estudante de História na Universidade de Stanford.
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno