O brutal assassinato de Moïse Mugenyi Kabagambe num quiosque na Barra da Tijuca (RJ) chocou o país por sua crueldade. Além de escancarar o racismo brasileiro, o caso também chamou atenção para a situação precária de muitos imigrantes e refugiados vindos ao Brasil de países em conflito. A República Democrática do Congo, de onde vieram Moïse e sua família, está entre os países que mais têm refugiados no Brasil. Além dos congoleses, há venezuelanos, sírios, bolivianos e haitianos entre as mais de 66 nacionalidades de pessoas que se refugiaram em solo brasileiro. Desde 2016, a população de refugiados no Brasil sextuplicou – reflexo da migração mais intensa de venezuelanos na fronteira com Roraima. Em parceria com o site de jornalismo de dados Pindograma, o =igualdades desta semana detalha o fluxo de refugiados no Brasil.
O crescimento no fluxo de refugiados venezuelanos fez com que o Brasil acolhesse muito mais refugiados entre 2019 e 2020 que nos anos anteriores. O número, entretanto, voltou a cair em 2021, quando foram acolhidos apenas 771 refugiados.
A maioria absoluta dos refugiados acolhidos pelo Brasil vem da Venezuela. Em segundo lugar vem a Síria, com apenas 1,8 mil refugiados desde 2016. Em terceiro, Cuba, com 536.
A taxa de aceitação de pedidos de refúgio para o Brasil foi de 89% entre 2016 e 2021. Já na Alemanha, país europeu que mais recebeu refugiados na última década, apenas 63% dos refugiados tiveram asilo concedido no mesmo período. A diferença de fluxo entre os dois países, contudo, é enorme: o Brasil acolheu 49,8 mil refugiados desde 2016, enquanto a Alemanha aceitou 1 milhão.
A quantidade de refugiados que vivem no Brasil (60,8 mil) é um quinto da quantidade que vive nos Estados Unidos (337,8 mil). O Brasil, contudo, vem estreitando essa diferença. Desde 2016, o número de refugiados que vivem em solo brasileiro sextuplicou, enquanto nos Estados Unidos, no mesmo período, o aumento foi de pouco mais de 20%.
A cada 100 refugiados que saem de outros continentes em direção à América do Sul, 63 ficam no Brasil. Em 2020, havia 10,8 mil refugiados de 66 países diferentes vivendo em terras brasileiras, contra 6,3 mil refugiados vivendo em países vizinhos. Na Argentina, havia 2,4 mil refugiados; no Equador, 1,1 mil.
Há um número considerável de imigrantes negros no Brasil, mas a maioria vem de um único país: o Haiti. Há 131,6 mil cidadãos do país caribenho residindo no Brasil, enquanto os imigrantes de todos os países do continente africano somam pouco mais de 42 mil.
A República Democrática do Congo é o país africano com maior número de refugiados acolhidos pelo Brasil. Desde 2016, foram aceitos 375 cidadãos congoleses. O segundo lugar entre os países africanos é Angola, com 59 refugiados no Brasil, e em terceiro, Mauritânia, com 58.
Fontes: Conare/Ministério da Justiça e Segurança Pública; Mediendienst Integration; Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados; Pindograma, com dados da Polícia Federal
É repórter do Pindograma, site de jornalismo de dados, e estudante de linguística na Universidade de Columbia, em Nova York.
É editor-chefe do Pindograma, site de jornalismo de dados, e estudante de História na Universidade de Stanford.
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno