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    Editor-chefe do portal OKO.press, o polonês Piotr Pacewicz (ao centro) foi entrevistado por Alcino Leite Neto, editor da piauí, e pela jornalista Patrícia Campos Mello FOTO: TUCA VIEIRA

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O conservadorismo autoritário que sufoca a democracia na Polônia

Para jornalista polonês,  discurso de ódio e LGBTfobia são traços comuns entre governo de direita de seu país e administração Bolsonaro

| 05 out 2019_19h25
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Desde a década de 1980, quando a Polônia ainda era dominada pelos comunistas soviéticos, o jornalista investigativo Piotr Pacewicz exerce a profissão em veículos que desafiam de forma crítica o poder vigente. Atualmente é editor-chefe do portal OKO.press, especializado em cobertura de políticas públicas, jornalismo investigativo e checagem de dados. Pacewicz, premiado como defensor dos direitos humanos de seu país, já foi alvo de pressões do poder Executivo, de juízes da Polônia e de uma rede de transporte de mercadorias ilegais. O editor-executivo da piauí Alcino Leite Neto e a repórter da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello entrevistaram Pacewicz sobre a virada conservadora e nacionalista que abalam as instituições democráticas da Polônia.  

“Kaczyński, liderança populista de direita da Polônia, do Partido Lei e Justiça, que do nome não tem nada, consegue controlar o país formando maioria no congresso. A essência do populismo é a rejeição do pluralismo. Eles acham que só eles representam o povo e excluem todos os movimentos que não estão de acordo com seus princípios”, afirmou. Segundo o jornalista, para se manter no poder, tais grupos vão aos poucos eliminando o que compõe a democracia. “Eles mantêm os processos eleitorais, mas eliminando tudo o que compõe uma sociedade civil. Eliminando grupos de minorias. E isso, infelizmente, atrai muitos apoiadores entre os eleitores. As pessoas gostam de ouvir o candidato dizer: ‘Eu sou aquele que vai representar suas vontades.’ Representam uma segurança nesse mundo moderno”, disse o jornalista, que comparou o contexto do grupo político ultraconservador da Polônia, representado por Kaczyński, com o governo de Jair Bolsonaro. 

“Aqui no Brasil vocês vivem algo parecido com o Bolsonaro. O lema aqui é ‘Brasil acima de tudo, Deus acima de todos’.  Na Polônia tem uma versão parecida e igualmente radical. Mesma coisa que vale lá, vale aqui, como as narrativas homofóbicas. Uma parte importante dessas narrativas é encontrar um inimigo: LGBTs, comunistas. Um discurso de ódio que não tem racionalidade e uma obsessão com a sexualidade”, disse Pacewicz, que acrescentou que o atual governo da Polônia sufoca e criminaliza críticas, protestos e manifestações públicas.  

A imprensa é um dos alvos preferenciais dos ataques do governo polonês. Além de controlar veículos de mídia públicos, principalmente emissoras de TV, rádio e internet, o governo costuma cortar verbas publicitárias de veículos independentes. E processar jornalistas e veículos.  

“Eu fui processado por um juiz que tenta controlar o Judiciário na Polônia. Fui acusado de difamação. E ele faz parte de um projeto de discursos de ódio administrado por juízes que usam as redes sociais para ofender juízes independentes da Polônia”, disse o jornalista.  Segundo ele, 40% da população de seu país assiste às mensagens de propaganda do governo. “Fizemos pesquisas públicas que mostram que apoiar o governo e estar exposto aos canais governamentais tem uma correlação altíssima.”   

Outro desafio enfrentado pelos jornalistas independentes do país é a produção de fake news em larga escala por parte do governo. “Eles já disseram que o serviço de saúde da Polônia é um dos melhores da Europa. É fácil desmentir. A Polônia, na verdade, tem o segundo pior resultado da União Europeia do investimento do PIB na saúde pública. Eles produzem milhares de fake news diariamente.” 

Segundo o jornalista, o veículo em que trabalha consegue sobreviver com independência graças a um  modelo de negócio no qual 90% do financiamento resulta de contribuições dos leitores. “É o suficiente para o nosso funcionamento. As pessoas nos veem não só como provedores de informações, mas também de um valor democrático.” A autonomia que o OKO.press conquistou permite que Pacewicz produza reportagens sobre temas relevantes, como uma que revelou abusos sexuais na Igreja Católica. Pelos abusos, um padre foi processado e outro afastado das funções.  

Pacewicz também respondeu a perguntas da plateia, e uma delas indagava o que estava escrito em sua camiseta, com dizeres em polonês. “Constituição”, traduziu o jornalista. “Constituição não é uma coisa abstrata, mas um direito cotidiano que precisa ser respeitado.” 


 

 

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