Ao comprar uma peça de roupa, o consumidor não imagina o processo pelo qual ela passa antes de chegar a seu guarda-roupa – muito menos depois de sair de lá para ser descartada. Só no Brasil, o lixo gerado pela indústria têxtil e de confecções anualmente é de 170 mil toneladas, e apenas 20% é reciclado. Esse setor representa 5,5% do PIB do país e emprega cerca de 9,7 milhões de trabalhadores diretos e indiretos, mas os problemas ambientais ainda são desafios a serem contornados. É o que mostra o relatório Fios da Moda, do Instituto Modefica e da Fundação Getulio Vargas, lançado em 2021 com uma análise dos impactos socioambientais do mercado da moda. No mundo, o Brasil é o segundo maior exportador de algodão, principal matéria-prima da moda; o cultivo da planta é a quarta cultura que mais consome agrotóxicos, com média de 28 litros por hectare. Além disso, o relatório também revela que 75% dos empregados no ramo são mulheres e 1% está em condições análogas à escravidão. O =igualdades desta semana mostra dados sobre o lixo da indústria da moda no Brasil.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), o Brasil produziu, em 2018, 8,9 bilhões de peças de confecção – o número foi ainda maior em 2019, quando o setor chegou a produzir 9 bilhões. Sozinhas, as peças produzidas no país vestiriam toda a população mundial que, segundo o Banco Mundial, conta com 7,7 bilhões de pessoas.
Dependendo da coleta seletiva da região e do nível de informação do consumidor, peças de roupas descartadas podem acabar num lixão. Cerca de 170 mil toneladas de lixo têxtil são produzidas por ano, e o destino final de 80% destas é o descarte indevido em aterros sanitários ou a incineração.
O bairro do Brás, em São Paulo, tem histórico operário e complexo industrial têxtil reconhecido em todo o Brasil. Apenas nessa região, os resíduos têxteis coletados diariamente pesam quase o mesmo que dois iates de luxo juntos, do modelo Tecnomar Lamborghini 63. Segundo o relatório Fios da Moda, é como se 16 caminhões de lixo fossem enviados ao local por dia.
Para além do impacto ambiental, questões sociais também permeiam a indústria da moda do Brasil – o relatório mostra que as condições de trabalho nem sempre são adequadas e que ainda é alto o nível de subcontratações. Com 8 milhões de trabalhadores indiretos, o setor emprega diretamente apenas 1,7 milhões. 75% são do sexo feminino e 1% estão em condições análogas à escravidão.
Do total de trabalhadores do Brasil, o setor têxtil e de confecções emprega 16,4% e é o segundo maior empregador industrial. Juntos, os trabalhadores diretos e indiretos da indústria totalizam 9,7 milhões de pessoas, é como se toda a população das cidades de Brasília e Rio de Janeiro, juntas, trabalhassem em empresas desta categoria.
O algodão é a quarta cultura que mais usa pesticidas no Brasil. Sobretudo pela alta propensão a pragas e doenças, a cotonicultura faz uso de aproximadamente 10% do volume total dos pesticidas do país. Em média, são utilizados 56 litros a cada dois hectares plantados, o equivalente a um tanque de gasolina de um Gol, com 55 litros.
Em levantamento, a Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou que uma pessoa necessita de 100 litros por dia para atender necessidades básicas, o equivalente a 3 mil litros por mês. O Brasil é o 4º maior consumidor e produtor de denim, e a fabricação de uma única calça jeans consome, em média, 5,2 mil litros de água, mais do que o suficiente para uma pessoa mensalmente.
Jornalista e autora de Memórias Interrompidas: testemunhos do sertão que virou mar. Foi estagiária de jornalismo na piauí e também já contribuiu com Universa Uol, G1 Ceará e Diário do Nordeste.
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno