Em 2022, a Caixa Econômica teve motivos para celebrar: arrecadou R$ 23,2 bilhões com as loterias oficiais, um aumento de 25% na comparação com o ano anterior e um recorde histórico. Isso significa que o brasileiro gastou treze vezes mais com apostas do que com cinema. Quando se olha os dados, é fácil entender por que: o país tem o dobro de casas lotéricas do que agências da Caixa e do Banco do Brasil. O jogo favorito dos brasileiros é a Mega-Sena, que respondeu por quase metade das apostas feitas no ano passado. Ela movimenta tanto dinheiro que, num mês só, arrecadou mais do que o Ecad no ano inteiro. O =igualdades desta semana mostra de onde vêm e para onde vão esses bilhões de reais.
No ano em que completou 60 anos, a loteria pública brasileira teve a melhor arrecadação de sua história: R$ 23,2 bilhões, segundo a Caixa. O dinheiro oriundo das apostas equivale a cerca de 0,43% do orçamento da União em 2023. Os cinemas brasileiros, enquanto isso, arrecadaram R$ 1,8 bilhão com bilheteria no ano passado.
A fortuna, quando dividida por 203 milhões de pessoas, não é tão grande assim. Se todo brasileiro fosse igualmente premiado pelas loterias no ano passado, receberia apenas 38 reais.
No Brasil, há uma lotérica a cada poucas esquinas. São 13,4 mil, segundo a Caixa, quantidade que supera em duas vezes a de agências de bancos públicos.
A Mega-Sena, que aumentou sua arrecadação em 63% na comparação com 2021, é seguida em popularidade pela Lotofácil, que arrecadou R$ 6,5 bilhões (28,3% do total das loterias em 2022) e pela Quina, que movimentou R$ 3 bilhões (13%).
A Mega-Sena da Virada é campeã de apostas. Sorteada no Revéillon, ela arrecadou no ano passado R$ 1,9 bilhão – valor que supera com folga a arrecadação do ano inteiro do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), instituição sem fins lucrativos responsável por recolher o pagamento de direitos autorais de músicos no Brasil.
Quase metade do que é arrecadado com apostas é repassado para investimentos em áreas prioritárias para o país, conforme manda a legislação. Os maiores valores no ano passado foram para a seguridade social (R$ 3,9 bilhões), o Fundo Nacional de Segurança Pública (R$ 2,1 bilhões) e diferentes áreas do esporte (R$ 1,67 bilhão).
As loterias sortearam R$ 7,8 bilhões em bilhetes premiados no ano passado, mas nem todos foram resgatados pelos vencedores. Entre janeiro e novembro, R$ 409 milhões em prêmios ficaram guardados, esperando por seus donos. Passado o prazo de 90 dias do sorteio, todo o dinheiro vai para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Nos últimos cinco anos (entre 2018 e 2022), o total de prêmios não retirados foi de R$ 1,9 bilhão.
Das onze loterias oferecidas atualmente pela Caixa, aquela que estatisticamente oferece maior chance de premiação máxima com uma aposta mínima é a Loteria Federal. A mais difícil de acertar é a mais novinha de todas: a +Milionária. Criada em maio de 2022, ela oferece aos apostadores uma chance de 1 em 238 milhões. Até hoje, ninguém obteve o prêmio principal, acumulado desde a sua estreia. A Mega-Sena, por sua vez, é a segunda mais difícil de cravar com um bilhete simples: as chances são de 1 em mais de 50 milhões.
É jornalista. Foi colunista no UOL e editor das revistas Superinteressante e Mundo Estranho
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno