A acolhida generosa de Lula a Nicolás Maduro, durante a visita do presidente venezuelano ao Brasil, rendeu uma saraivada de críticas ao governo. Em parte, a simpatia de Lula se explica pela proximidade ideológica entre petismo e chavismo, que leva o presidente brasileiro a fazer vista grossa ao regime autoritário de Maduro. Mas há também interesses financeiros em jogo. A Venezuela, vivendo hoje uma leve recuperação econômica, é um mercado em potencial para produtos brasileiros. Quinze anos atrás, o país chegou a ser o sexto maior parceiro comercial do Brasil, mas, com a crise e o rompimento diplomático, caiu para 44º. A exportação de carne brasileira para a Venezuela representa hoje 1% do que era há dez anos. Além disso, o país de Maduro tem uma dívida de 1,1 bilhão de dólares com o Brasil, oriunda de obras que os governos Lula e Dilma ajudaram a financiar no país. A quitação dessa dívida foi um dos assuntos tratados na vinda de Maduro ao Brasil. O =igualdades explica, com números, a relação comercial dos dois países.
Durante o governo Dilma se deu o ápice das relações comerciais entre Brasil e Venezuela. Entre 2011 e 2015, somando exportações e importações brasileiras, os dois países movimentaram uma média de 5,4 bilhões de dólares por ano. Nos governos Temer e Bolsonaro, essa balança comercial murchou – em parte, pelo esfriamento da diplomacia, mas principalmente por causa da grave crise que abateu a economia venezuelana.
Entre o final do governo Lula e os primeiros anos do governo Dilma, a Venezuela esteve entre os dez maiores compradores de produtos brasileiros. O pico se deu em 2007, quando o país ocupou o sexto lugar na balança comercial brasileira, à frente de grandes economias como Japão, México e Rússia. A coisa mudou de figura nos últimos tempos. Em 2022, a Venezuela ficou na 44ª posição, atrás de países como Barein, Argélia e Bangladesh.
Entre 2008 e 2016, a carne (considerada em todas as suas variações: bovina, suína, ovina etc) sempre esteve em primeiro ou segundo lugar na lista de exportações brasileiras à Venezuela. Hoje o cenário é diferente. O país vizinho reduziu drasticamente a compra de carne do Brasil. Há dez anos, os venezuelanos compravam em média 1 bilhão de dólares por ano em carne brasileira. Atualmente, a conta gira em torno de 8 milhões de dólares.
O agronegócio brasileiro engordou suas exportações à Venezuela durante o governo Bolsonaro. A venda de óleo de soja nos últimos quatro anos supera a dos quinze anos anteriores somados. Também disparou a exportação de cereais como milho e arroz.
A Venezuela é hoje o maior comprador de arroz brasileiro. Respondeu, nos últimos cinco anos, por 21% de todo o arroz exportado pelo Brasil. Em seguida, na lista de maiores compradores, aparecem Senegal, Peru, México, Cuba e Gâmbia.
Segundo o governo federal, a Venezuela tinha, até o final de abril, uma dívida de 1,1 bilhão de dólares oriunda de obras que empresas brasileiras fizeram no país e nunca foram pagas. Outros países têm dívidas semelhantes, como é o caso de Cuba (US$ 491 milhões), Moçambique (US$ 141 milhões) e Nicarágua (US$ 141 milhões). Na Venezuela, em geral as obras foram financiadas pelo BNDES. Todas contavam com seguro oferecido pelo governo brasileiro por meio do Fundo de Garantia à Exportação (FGE). No momento em que se deu o calote, o BNDES recorreu ao fundo – e por isso o banco já recebeu quase tudo o que tinha para receber. Falta agora a União reaver o dinheiro que compunha o FGE e que ainda não foi ressarcido pelo governo venezuelano.
Com a crise venezuelana e o afastamento diplomático promovido por Temer e Bolsonaro, o comércio entre os dois países se tornou menor e mais localizado. Roraima, estado que tem pouco peso na economia nacional, virou o principal exportador de produtos brasileiros à Venezuela, passando à frente de grandes estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. As empresas de Roraima exportam sobretudo produtos alimentícios.
Editor do site da piauí
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno