ILUSTRAÇÃO: PAULA CARDOSO
Político mais popular no Facebook não fala de política na rede
Deputado federal baiano Irmão Lázaro atribui seus 8,5 milhões de seguidores a não postar sobre o que faz no Congresso: “É uma gritaria”
No saguão do aeroporto de Salvador, Antônio Lázaro da Silva é abordado o tempo todo. Um jovem diz que o reconheceu pela voz e um funcionário do terminal cantarola uma canção sua antes de apertarem as mãos. De longe, um passageiro pede a benção em voz alta e afirma que está “gostando de ver as mensagens”. Ele se refere aos posts no Facebook do deputado federal Irmão Lázaro, do PSC baiano, o político brasileiro mais popular na rede social no país.
São mais de 8,5 milhões de curtidas na página até esta segunda-feira, 21 de maio – à frente de nomes conhecidos da política nacional, como o deputado federal Jair Bolsonaro, com 5,3 milhões de fãs, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com 3,4 milhões de curtidas, menos da metade do que tem o deputado baiano. O segundo lugar em popularidade também fica com um político pouco expressivo, o vereador Adilson Barroso (PEN), de Barrinha, no interior paulista, com 8,2 milhões de curtidas.
Com passagem pelo Olodum e cantor evangélico desde 2000, Irmão Lázaro é muito mais conhecido pela trajetória artística do que pelo desempenho como parlamentar. Filiado ao PSC desde 2014, foi eleito para sua primeira legislatura na Câmara dos Deputados no mesmo ano, com 161 mil votos, o terceiro mais votado do estado. No Congresso, não emplacou projetos de lei de sua autoria, e sua principal realização, afirma, foi o envio de cerca de 15 milhões de reais em emendas parlamentares para prefeituras baianas.
A que o político mais popular no Facebook brasileiro atribui a dianteira na rede social? Justamente ao fato de não tratar diretamente de política. A página de Irmão Lázaro é uma mistura de mensagens bíblicas, fotos e vídeos dos próprios shows. Um dos usos principais, também, é para divulgar suas apresentações, especialmente as realizadas em cidades no interior – ajuda, também, a vender ingresso.
“Meu Face não é político”, disse o deputado à piauí, no encontro no saguão do aeroporto da capital baiana, quando chegava de Brasília. “A política anda sem credibilidade, as pessoas entram na página dos políticos pra brigar, é uma gritaria. Outro dia entrei na página do [senador] Magno Malta e tinha xingamento que eu nem conhecia. Eu uso o Face para levantar minhas bandeiras, que são a defesa da família e das escrituras sagradas, e essa é minha forma de dar meu recado político”, afirmou Lázaro, que é pastor da Igreja Batista Lírio dos Vales, em Salvador, e inaugura em três meses sua própria igreja, em Feira de Santana, onde mora.
O perfil de Irmão Lázaro – certificado pelo deputado, ou seja, a página que ele escolheu para representá-lo oficialmente na rede – se distancia da política já a partir da atividade indicada: “Músico/banda”. O “carro-chefe”, na definição dele, são os filmetes com mensagens bíblicas, produzidos por ele próprio e pela mulher, Vânia “Eu estudo o trecho da Bíblia, faço o roteiro, minha esposa filma e eu mesmo edito. E ainda ajusto a cor no DaVinci [software de finalização audiovisual]”, contou o deputado.
Nos vídeos mais populares, Irmão Lázaro trata de temas como perseverança, traição e do que ele enxerga como as formas de “disputa entre Deus e o Diabo” pelas almas humanas. No filmete intitulado A Língua Ferina, por exemplo, disserta sobre o cuidado que as pessoas devem ter ao expor seus pensamentos. “Quando uma palavra sai da nossa boca carregada de engano, a Bíblia diz que essa palavra é uma centelha que provoca incêndios e é alimentada pelo inferno”, avisa no vídeo postado em 16 de fevereiro e que chegou a 3 milhões de interações, mais de 140 mil compartilhamentos e já alcançou mais de 10 milhões de pessoas. “Sem impulsionamento”, afirmou. “Meu objetivo atualmente é que cada filme tenha pelo menos 10 mil curtidas e 100 mil visualizações. Às vezes fica meio baixo, eu compartilho de novo, insisto.”
Lázaro contou que é ele mesmo quem faz a gestão da página e um de seus desafios é driblar o algoritmo da rede. “O Facebook é terrível. Eles querem nos forçar a pagar pelo impulso. Tem 8 milhões, mas as postagens chegam pra pouca gente. Eu não pago. Vou testando, mudo os dias das postagens pra ele não ter meu perfil já definido. Só pago pelo impulso quando vou fazer show em cidades pequenas, aí faço uma postagem direcionada para aquela região, para as pessoas irem.”
A popularidade na rede e nos palcos levou seu nome a ser considerado para uma candidatura ao Senado, em uma campanha ao lado do ex-prefeito de Feira de Santana José Ronaldo, do DEM, pré-candidato ao governo estadual. “Já me coloquei à disposição. Sei que posso ganhar muitos votos na rede, as pessoas me acompanham e ficam conhecendo a minha história.”
O deputado Irmão Lázaro tem mais de 8 milhões de seguidores desde antes de março de 2015 – quando houve uma mudança na coleta de dados do Facebook com a ferramenta CrowdTangle, o que impede a análise da evolução de curtidas na página dele. Voltando aos primeiros posts de Lázaro, nota-se que sua popularidade no começo era pequena. Em 2011, na primeira postagem do seu perfil, foram apenas seis likes. Já neste ano, um de seus posts populares, no Dia das Mães (“Uma mulher quando resolve ser mãe, o amor de Deus está no coração dela”, diz o deputado, no vídeo), chegou a 84 mil interações. Como se deu essa escalada de popularidade?
Lázaro afirmou nunca ter recorrido a métodos como compra de seguidores ou uso de robôs. Para além da dica de evitar tratar de política, ele arrisca uma explicação. “Eu já tinha muita gente no Orkut. Quando criei o Face, veio todo mundo e foi crescendo. Eu faço shows pelo Brasil todo pra 15, 20 mil pessoas. Muita gente segue.”
Ele diz ter contado com a ajuda de um “entendido” em mídias sociais – o seu cunhado, Aldinei Silva. Em 2012, quando Irmão Lázaro lançou o álbum Quem Era Eu, Silva deu-se conta de que havia muitos perfis falsos do artista. Com apoio da Sony Music, realizou um processo com o Facebook para eliminar os fakes e receber os seguidores daqueles perfis. “A gente tinha umas 10 mil curtidas. Com a migração, fomos pra uns 300 mil. Depois disso, foi tudo orgânico”, afirmou Silva.
Líder em popularidade, Irmão Lázaro fica atrás em outros índices da rede. De março de 2015 até 15 de maio deste ano, contou 24,3 milhões de interações dos internautas em seu perfil, entre curtidas (ou outra reação), comentários e compartilhamentos. Muito menos do que seus concorrentes. Bolsonaro, por exemplo, somou cinco vezes mais interações (118,43 milhões). Já o vereador Adilson Barros conta 234,4 milhões de interações em seu perfil. Lázaro usa menos a rede do que os concorrentes – nos últimos três anos, fez cerca de 1 mil postagens, enquanto Bolsonaro publicou 2,6 mil vezes e Barroso 6,8 mil.
O mau desempenho no engajamento na comparação com os principais concorrentes faz de Lázaro um candidato a perder em breve o posto de político mais popular na rede. O vereador Barroso, em crescimento constante desde janeiro de 2016, está em vias de ultrapassá-lo. O deputado afirma não ligar. “Uma coisa que não vou fazer é pagar por curtida. Preferia ter 1 milhão de seguidores se minhas postagens chegassem a todos eles, do que ter 8 milhões e depender do Facebook exibir pra poucas pessoas. E não entro em disputa para ter mais ou menos seguidores, essas coisas são para alimentar a vaidade.”
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