Ponto corrido é o antifutebol
Na última rodada do Brasileirão de 2009, três times entraram em campo com chances de levar a taça: Flamengo, Internacional e São Paulo. No ano seguinte, a mesma coisa aconteceria com outros três clubes: Fluminense, Cruzeiro e Corinthians. O fato de, em dois anos seguidos, seis clubes diferentes chegarem à última rodada podendo ficar com o título é algo que creio jamais ter ocorrido em nenhuma das mais importantes ligas europeias. Sem ufanismo, mesmo porque não se está falando de qualidade, mas de equilíbrio, a gente pode afirmar que começa amanhã o campeonato mais difícil do mundo.
Na última rodada do Brasileirão de 2009, três times entraram em campo com chances de levar a taça: Flamengo, Internacional e São Paulo. No ano seguinte, a mesma coisa aconteceria com outros três clubes: Fluminense, Cruzeiro e Corinthians. O fato de, em dois anos seguidos, seis clubes diferentes chegarem à última rodada podendo ficar com o título é algo que creio jamais ter ocorrido em nenhuma das mais importantes ligas europeias. Sem ufanismo, mesmo porque não se está falando de qualidade, mas de equilíbrio, a gente pode afirmar que começa amanhã o campeonato mais difícil do mundo.
Gosto muito do Campeonato Brasileiro, mas não gosto do sistema de pontos corridos e acho que o principal problema é conceitual. Seus defensores levantam a bandeira de que só os pontos corridos garantem a justiça, por premiar quem se organiza, quem se planeja, quem é mais profissional. E aí é que entra a questão do conceito: não faz sentido querer associar o futebol à justiça.
Você pode ter um time muito melhor, massacrar o seu adversário, chutar trinta bolas na trave. Mas, se no último minuto leva contra-ataque e toma o gol, um abraço.
Futebol não tem nada de justiça ou de merecimento: no futebol, como se diz à beira da praia lá em Rio das Ostras, o negócio é balançar a roseira. O jogo é assim, e quem não gostar que invente outro. Defender os pontos corridos em nome de uma suposta justiça é, portanto, ir contra o preceito básico do futebol. É ir contra uma das características que o fazem ser tão bacana.
Outra coisa: claro que as zebras são sempre divertidas, mas o momento sublime do futebol está mesmo é nos grandes clássicos. Nenhum corintiano vai dizer que o jogo da sua vida foi Corinthians e XV de Piracicaba disputado no Parque São Jorge. Vai ser sempre um Corinthians e São Paulo no Morumbi, um Corinthians e Palmeiras no Pacaembu. Só que, como os grandes costumam se devorar entre si (X ganha de Y que ganha de Z que ganha de X), os campeonatos por pontos corridos acabam decididos pelos jogos contra os pequenos. E quando a gente vai ver, o Cruzeiro não foi campeão brasileiro por ter derrotado o Internacional, o Flamengo e o Fluminense; o Cruzeiro foi campeão brasileiro por não ter perdido pontos para o Ipatinga, o Paysandu e o ABC de Natal.
Campeonato que se preza tem que ter final, com os dois times brigando pelo título. Todo flamenguista com mais de quarenta anos lembra que, na decisão do Brasileiro de 1980, os gols rubro-negros foram feitos por Nunes, Zico e Nunes. Entretanto, pergunte aos flamenguistas quem fez o primeiro gol do time no jogo do título de 2009, há menos de quatro anos. A maioria já esqueceu. O motivo? Em 1980 – contra o Atlético Mineiro de Reinaldo, Toninho Cerezo, Luisinho e Éder – houve uma decisão de verdade, com um timaço do outro lado jogando pelo empate para ser campeão. Já em 2009, o desinteressado adversário foi o Grêmio, que escalou oito reservas e entrou em campo doido para perder. Ano passado, depois da vitória sobre o Palmeiras por três a dois, Fred precisou ser avisado por um repórter que o Fluminense acabara de se tornar campeão brasileiro. Existe algo mais sem graça? Um título importantíssimo, mas frio, com menos de dez mil pessoas num estádio onde cabem quase quarenta mil, lá nos cafundós de Presidente Prudente.
Só o caráter épico de uma decisão pau a pau é capaz de tornar inesquecível um gol de barriga, como o de Renato Gaúcho. De redimir e consagrar jogadores de qualidade discutível e apelidos que não ajudam – Cocada, Adriano Gabiru, Flávio Caça Rato. E de alimentar assuntos como o impedimento de Túlio e a condição legal de Camanducaia na final do Brasileirão de 1995, entre Botafogo e Santos. Não há santista que não coloque o juiz Márcio Rezende de Freitas na condição de inimigo número 1 do clube.
Para que emoções e discussões como essas ocorram nos pontos corridos, é preciso que, depois de 37 rodadas e 111 pontos disputados, dois times cheguem ao capítulo final em igualdade de condições. O que até pode acontecer, como está lá no primeiro parágrafo desse post, mas vamos combinar que não é bolinho.
As duas mais importantes e cultuadas competições futebolísticas que existem são decididas no mata-mata. Quer dizer: pra Copa do Mundo, o mata-mata serve. Pra Champions League, o mata-mata serve. Pro Campeonato Brasileiro, o mata-mata é um retrocesso. Não faz sentido.
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