Por que não acredito na Argentina e na Espanha
O motivo que fez Argentina e Espanha ocuparem um post só é óbvio, e atende pelo nome de Lionel Messi. A seleção espanhola é o Barcelona sem Messi e a seleção argentina é o Messi sem Barcelona. A impressão que se tem ao vê-lo jogar por seu país é a de um peixe fora d’água, morrendo de saudades do Iniesta, do Xavi e, sobretudo, do estilo que o Barça pratica de cor e salteado.
O motivo que fez Argentina e Espanha ocuparem um post só é óbvio, e atende pelo nome de Lionel Messi. A seleção espanhola é o Barcelona sem Messi e a seleção argentina é o Messi sem Barcelona. A impressão que se tem ao vê-lo jogar por seu país é a de um peixe fora d’água, morrendo de saudades do Iniesta, do Xavi e, sobretudo, do estilo que o Barça pratica de cor e salteado.
Isso é o principal, mas há mais coisas. O futebol argentino tem apresentado ao mundo ótimos jogadores do meio pra frente. Tevez (que está fazendo um grande campeonato italiano mas não deve vir à Copa, pois não tem sido convocado por Alejandro Sabella), Aguero, Di Maria, Lavezzi, Palácio, além daqueles que desfrutam de cartaz por aqui embora pouco valorizados na terra natal – D’Alessandro, Conca, Barcos. Mas do meio pra trás tem sido um desastre. Ao contrário do futebol brasileiro, que com o tempo aprendeu a formar bons zagueiros e reconhecer sua importância, os argentinos insistem em desprezá-los.
Capitão do time campeão do mundo em 78, o ídolo Passarela era uma avenida. O último a alcançar certo prestígio, Demichelis, tem muita pose e um excelente empresário, porque está sempre descolando uma vaguinha em grandes times. Até os goleiros, historicamente muito bons, deixaram de ser. Lembro do meu pai afirmando, com indisfarçável inveja: a diferença entre o goleiro argentino e o goleiro brasileiro é que, quando uma bola vem cruzada para a área, o argentino grita “sai que é minha”, enquanto o brasileiro grita “vai que é tua”. Há quanto tempo não vemos um goleiro minimamente confiável na seleção argentina? E é óbvio que não dá para ganhar a copa sem um sistema defensivo firme, a não ser que alguém acredite que a Argentina vá fazer três ou quatro gols na Alemanha, no Brasil, na Itália. Vai nada.
Antes que me acusem de pachequismo, ressalvo: sou fã do futebol argentino. Da ausência de frescura, da malícia, do , do Kempes, do Verón e, claro, do Maradona. Só acho que a derrota por quatro a zero para a Alemanha, na Copa de 2010, deveria ter significado para eles o mesmo que representou para nós a derrota para a Holanda em 74: um choque de realidade, com a certeza de que alguém estava jogando futebol de um jeito bem mais eficiente. Mas não. Apesar da experiência europeia de seus jogadores, a seleção argentina continua atuando de forma estanque e apostando tudo na força de seu ataque. Como são talentosos, costumam fazer boas campanhas; mas enquanto tiverem defesas tão frágeis, dificilmente voltarão a ser campeões.
Os argentinos têm uma tabela favorável. Na tranquila primeira fase, pegam Bósnia-Herzegóvina, Nigéria e Irã, e se fizerem o que deles se espera encontrarão Suíça ou Equador nas oitavas. Mamão. Isso pode ajudar o time a embalar na competição, mas esse embalo não deve ser suficiente para levá-lo ao título.
O problema da Espanha é outro. Rebatendo a frase referente ao Messi, é possível argumentar com a conquista mundial em 2010, além da Eurocopa em 2008 e 2012, mas aqui no Brasil o buraco estará um pouco mais embaixo. A Copa do Mundo talvez seja a competição de futebol em que mais peso tem o fato de jogar em casa. E quando quem joga em casa é um dos grandes, vira favorito automaticamente. A Eurocopa de 2008 foi disputada na Áustria e Suíça. A de 2012, na Polônia e Ucrânia. E a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Não havia grande entre os anfitriões.
Isso não quer dizer que o caneco está no papo e que já podemos começar a beber por conta, mas vai ser difícil ganhar do Brasil aqui. E como não há time que dure para sempre, não vejo exagero em afirmar que começou o declínio do império espanhol. (José Newton já dizia: se subiu, tem que descer.) Xavi ainda joga muito, mas mesmo assim esse muito já é menos. Para um cara que pratica um futebol de aproximação, e por quem passam todas as bolas, chegar aos 34 anos e encarar uma Copa do Mundo logo após a temporada normal não é bolinho.
Ao contrário dos argentinos, o ataque nunca foi o forte dessa geração espanhola, deficiência que eles esperam corrigir com a convocação de Diego Costa. Tenho dúvidas. Passei a acompanhar Diego Costa mais atentamente depois que um leitor do blog, o Marcos, me mandou este link. É um excelente atacante, de movimentação intensa, boa velocidade, muita força físca e que conclui de todos os jeitos. Embora menos técnico do que o Fred, me pareceu mais difícil de ser marcado e bem mais perigoso. Entretanto, o tipo de jogo que Diego Costa faz no Atlético de Madrid não tem nada a ver com o tiki-taka barcelônico adotado pela seleção espanhola. Seria algo possível de resolver, mas não no curto período que as seleções terão para treinar.
O grupo da Espanha é um pouco mais embaçado que o da Argentina, porque tem Holanda e Chile, além da turma australiana – que não joga nada mas bate feito gente grande. Claro que os espanhóis vão passar e é bom que passem em primeiro, porque acho que quem pegar o Brasil nas oitavas não segue adiante.
As principais dificuldades da Argentina estão no gol e na zaga. As da Espanha, nas certidões de nascimento e no enfado que costuma acometer times de futebol que já ganharam tudo. Ambas são muito boas seleções, mas penso que o perigo real, para nós, não está em nenhuma das duas.
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