Joice Hasselmann - Foto: Kleyton Amorim/UOL/Folhapress
Ricos e encalhados
Mesmo concentrando recursos de seus partidos, vários candidatos "milionários" não foram longe nas eleições municipais
No Brasil, o poder dos caciques sobre as verbas dos partidos é um dos principais fatores para a falta de oxigenação da política. Recursos acabam sendo concentrados em alguns poucos candidatos, capazes assim de montar campanhas mais fortes. Os mesmos poucos nomes recebem incentivos para insistir nas mesmas velhas práticas. Nestas eleições municipais de 2020, contudo, houve exceções. Candidatos ricos não conseguiram sair do lugar em diversas cidades do país. Boa parte deles é do PSL, o partido que cresceu com a eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018, mas, menos de dois anos depois, já era um gigante disforme e esvaziado. Conheça alguns casos de candidatos ricos e encalhados:
São Paulo
A deputada Joice Hasselmann não fez nem um terço dos votos que conquistou na capital paulista dois anos atrás. Na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Hasselmann obteve apenas 98 mil votos, contra 289 mil votos (quase o triplo) recebidos dos eleitores paulistanos em 2018. O estilo lacrador não funcionou desta vez. Um resultado mais do que frustrante, embora a deputada tenha contado com o apoio da cúpula do PSL no estado: sua campanha recebeu 6 milhões de reais, mas amargou o sétimo lugar na disputa pela prefeitura, com 1,84% dos votos válidos. Cada voto “custou” 61,67 reais à campanha. Em 2018, ela se dizia uma legítima herdeira de Bolsonaro, quase uma filha, de tão comprometida com o seu projeto político. Em 2020, já rompida com o presidente, ela encontrou razões de sobra para criticar a família do primeiro mandatário. Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, seu principal adversário no clã, só neste domingo de eleição foi chamado por ela de “picaretinha, preguiçoso; fumador de maconha, surfista de araque, Dudu bananinha e covarde de quinta categoria”.
Manaus
Sem sair do lugar nas pesquisas durante toda a corrida pela Prefeitura de Manaus, o ex-ministro Alfredo Nascimento ressuscitou até o jingle de sua campanha de 2000, que na época fez sucesso. “Ele é de confiança. E é gente como a gente”, canta uma criança. Nada adiantou. Nem os 6 milhões de reais que recebeu de seu partido, o PL, o maior investimento da sigla, foram suficientes. Denunciado por corrupção, Nascimento havia saído pela porta dos fundos do governo Dilma Rousseff, do qual era ministro dos Transportes, em 2011, mas não perdeu ascendência sobre Valdemar da Costa Neto, dono de fato do PL, embora oficialmente não responda pela legenda.
Nascimento terminou em sétimo lugar na capital do Amazonas, com 31.676 votos, só 3,24% do total. Cada voto obtido por ele custou 190 reais. Em Manaus, os dois candidatos que passaram ao segundo turno amealharam menos verba que o veterano. Amazonino Mendes, do Podemos, arrecadou 3,47 milhões de reais (cada voto seu custou 14,82 reais). David Almeida, do Avante, obteve 1,9 milhão de reais (gastando 8,81 reais por voto).
Palmas
Vanda Monteiro, a autointitulada Vanda do Povo, não conquistou o povo. Candidata a prefeita de Palmas, ela era aposta alta do PSL, que dedicou à postulante 3,9 milhões de reais. Saiu caro. Vanda promoveu aglomerações, prometeu hospitais e empregos, e até pôs a filha, uma menina pré-adolescente, para gravar peças publicitárias. Amargou o quinto lugar na disputa, com 11 mil votos (8,7%), ao custo de 355,36 reais cada. A prefeita Cinthia Ribeiro, do PSDB, reelegeu-se com um orçamento de 1,95 milhões de reais, que lhe garantiu 46 mil votos (42,28 reais cada).
Recife
Carlos Andrade Lima, um advogado novato alçado a candidato a prefeito de Recife pelo presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, abocanhou 4,3 milhões de reais do fundo eleitoral de sua sigla. O queridinho de Bivar, porém, não fez nem cócegas na disputada eleição na capital pernambucana. Obteve 13.938 votos (1,74% do total de escrutínios válidos), num longínquo quinto lugar. Cada voto custou 308,53 reais.
Sua campanha foi mais rica até que a da segunda colocada, Marília Arraes, que recebeu 2,55 milhões reais de sua legenda, o PT, e de outras fontes. Cada voto da petista custou 11,45 reais. Os de João Campos (PSB), primo de Marília e primeiro colocado na disputa, saíram a 32,20 reais cada.
Juiz de Fora
Em Juiz de Fora, Margarida Salomão, do PT, foi ao segundo turno com 102.489 votos (39,46% do total válido). Enfrentará Wilson Rezato, do PSB, que conseguiu 59.633 votos (22,96%). Em quarto lugar, com 26.068 votos (10%), estacionou a Delegada Sheila, do PSL. Há dezoito anos na Polícia Civil, “juiz-forana de coração, mãe de quatro filhos e cristã”, como ela se define, a candidata dizia ter “uma missão: não temer os desafios”. Parceira política do deputado federal Charlles Evangelista, que controla o PSL de Minas, ela conseguiu investimento três vezes maior que os favoritos – 3,4 milhões de reais –, sem grandes efeitos sobre o seu desempenho. Salomão “gastou” 10,82 reais por voto. Rezato, mais que o dobro disso: 21,98 reais. Nada que se compare ao dispêndio de Sheila: 130,83 reais por voto.
Belo Horizonte
Desde o começo, a disputa em Belo Horizonte prometia ser liquidada no primeiro turno pelo atual prefeito, Alexandre Kalil, do PSD. Mesmo assim seus adversários decidiram investir milhões de reais na campanha: não apenas porque o jogo só acaba quando termina, mas pela vitrine que é a capital de Minas Gerais, terceiro maior colégio eleitoral do país. Um deles foi mais arrojado. O empresário Fabiano Cazeca, do Pros, não recebeu incentivo nem de seu partido. Tirou do próprio bolso 1,4 milhão de reais e apostou em si mesmo. “Eu me especializei em encontrar soluções para resolver problemas”, propagandeou. Não dessa vez. Cazeca amargou um décimo primeiro lugar, com 0,2% do total de votos. Cada um de seus 2.517 votos custou 556,21 reais. Os de Kalil custaram 7,44 reais cada.
Nova Iguaçu
Até o folclórico ex-candidato a presidente Cabo Daciolo desceu do monte e saiu em campanha por ela. Como se não bastasse, a deputada federal Rosangela Gomes ainda recebeu 1,46 milhão de reais do Republicanos, seu partido. Mas não empolgou a população de Nova Iguaçu. Seus 19.791 votos custaram 74,34 reais cada. O prefeito Rogério Lisboa (Progressistas) se reelegeu com 218 mil votos, a um custo bem menor (5,41 reais cada).
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