Seleção mais perto
Logo depois que a nova-velha diretoria da CBF indicou a dupla Felipão e Parreira para o comando técnico da seleção, os dois deram uma entrevista em que foi possível perceber a ideia por trás da escolha: tentar reatar o namoro entre a seleção brasileira e o povão. Faz sentido.
Muita gente boa não concordou com a demissão de Mano Menezes, mas creio que foi no período de Mano que a nossa seleção mais se distanciou dos torcedores. Tiro por mim: lembro que naquele jogo contra o Paraguai pela Copa América, quando fomos eliminados na disputa de pênaltis, minha mulher não entendia as gargalhadas que eu dava com os chutes aos céus de Elano e André Santos. Poderia ser uma deformação, um recalque, um problema qualquer meu, mas no dia seguinte cheguei ao trabalho e percebi que a indiferença era geral. Ninguém estava dando a mínima para a seleção brasileira.
No meu caso, e acredito que no caso de todos que acompanham futebol há mais de três décadas, isso representava uma transformação do vinho para a água: independentemente de ser competição oficial ou partida amistosa, jogo da seleção brasileira sempre foi uma festa. Era a chance que se tinha de ver, no mesmo time, os ídolos por quem você torcia e os adversários mais temíveis. Era a oportunidade rara de ter, jogando juntos, o Pelé do Santos, o Gérson do Botafogo, o Tostão do Cruzeiro, o Rivellino do Corinthians. Íamos aos jogos da seleção brasileira para torcer pelo cara que acompanhávamos todo domingo, ou por aquele que nos deixava preocupados três ou quatro vezes por ano, quando nosso time enfrentava o dele.
Mano não entendeu que, se tínhamos jogadores equivalentes aqui e no exterior, teria sido sempre melhor utilizar os que estão aqui. A não ser que ele conseguisse montar um time empolgante, coisa que jamais esteve perto de acontecer. Que fique bem claro: ninguém está propondo que se abra mão do Thiago Silva e do Oscar, só porque eles jogam na Europa. Os melhores precisam ser chamados. Mas, entre o Rafael e o Jean, que se convoque o Jean. Entre o Kléber (sim, esse mesmo que está disputando a segundona pelo Palmeiras e que na ocasião jogava no Porto) e o Leandro Damião, que seja o Leandro Damião. Faltaram, a Mano Menezes e sua comissão técnica, visão e bom senso para compreender algo simples: é muito mais bacana torcer pelo Paulinho, o Lucas e o Bernard do que pelo Fernandinho, o Dudu e o Ederson. Felipão foi mais esperto e, apesar do trio Filipe Luis, Dante e Luiz Gustavo, convocou uma seleção bem mais conhecida. Falta fazê-la jogar.
Mas aí é que entra a boa notícia: talvez motivada pela reinauguração oficial do novo e belo Maracanã – embora, inexplicavelmente, o projeto de reforma tenha ignorado a importância da antiga acústica para a transformação do estádio em lenda –, ontem a torcida esteve ao lado do time. E o time mostrou avanços.
Ainda temos problemas difíceis para resolver. Não sei se já existe o companheiro de zaga ideal para Thiago Silva: David Luiz nunca me convenceu completamente, Réver tem pose de craque mas é lento e, depois do joelhaço no peito de Marco Reus, na final da Champions League, Dante virou um ponto de interrogação. Fred é o nosso melhor centroavante, mas está longe de ser o centroavante ideal para a seleção brasileira. Faltam, talvez, tempo e coragem para se buscar a solução que João Saldanha bancou em 1969, quando empurrou Tostão para a frente e o escalou ao lado de Pelé. Seria ótimo, desde que estivéssemos em 1969 ou que existisse outro Tostão.
Considero Felipão um técnico ultrapassado e acho que a CBF errou na escolha, o que possivelmente será tema de outro post. Mas é preciso reconhecer que o jogo de ontem deixou a sensação de que há luz no fim do túnel.
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