Brasileiros esquecem nos bancos um volume considerável de dinheiro, resultante de direitos nunca exercidos. Um exemplo disso são as cotas do PIS/Pasep: a soma de todo o valor esquecido no Brasil permitiria bancar um ano de Bolsa Família para cerca de 3 milhões de famílias. No Banco Central, mais de 7 bilhões de reais ainda podem ser resgatados. Em 2022, o saque extraordinário do FGTS não utilizado chegou a 8,4 bilhões de reais. E a quantidade de trabalhadores que não retiraram esse saldo extraordinário do FGTS equivale a mais que o dobro da população da cidade do Rio de Janeiro. O =igualdades desta semana ilustra o volume de dinheiro que ainda aguarda para ser sacado.
De acordo com a Caixa Econômica, até o dia 5 de agosto deste ano, cerca de 10,4 milhões de trabalhadores ainda podem sacar o dinheiro esquecido nas cotas do Programa de Integração Social (PIS) e o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), os dois principais programas de contribuição social do Brasil. Ao todo, o montante de dinheiro deixado esquecido chega a R$ 25,5 bilhões disponíveis para os trabalhadores. O valor é equivalente a um ano de Bolsa Família destinado a cerca de 3 milhões de famílias que recebem em média R$ 705 mensais do programa de transferência de renda do Governo Federal.
Cerca de 10,4 milhões de trabalhadores que trabalhavam com carteira assinada entre 1971 e 1988, tanto na iniciativa privada quanto como servidores públicos, estavam aptos a sacar as cotas do PIS/Pasep até o dia 5 de agosto deste ano. Essa quantidade de trabalhadores elegíveis para garantir o dinheiro nas cotas do PIS/Pasep é equivalente à população de São Paulo, que soma quase 11,5 milhões de habitantes, segundo o Censo 2022.
Em 2022, uma bolada de R$ 409,1 milhões em prêmios de loterias ficou sem ser resgatado pelos apostadores. Esses valores seriam suficientes para viabilizar 10.997 bolsas de estudo para doutorandos, durante um ano. À piauí, a Caixa informou que, após 90 dias sem resgate, a lei nº 13.756/18 direciona os valores não reclamados para o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES).
Ainda existem cerca de 7,2 bilhões de reais em recursos esquecidos no sistema financeiro, que podem ser resgatados por seus respectivos proprietários, de acordo com o Banco Central. O dinheiro é suficiente para financiar a construção de até quarenta maternidades, com características semelhantes à Maternidade Dona Evangelina Rosa, recentemente inaugurada como a maior maternidade pública do país, no Piauí. Para se ter uma ideia, seria possível que treze estados fossem beneficiados com duas unidades da mesma maternidade e outros doze com pelo menos uma.
De acordo com os dados do mês de junho, mais de 28 milhões de beneficiários estão na faixa para resgatar até R$10 por meio do Sistema de Valores a Receber (SVR). Por outro lado, a quantidade de beneficiários com valores acima de R$ 1 mil é pouquíssima, representando menos de 2% do total de contemplados. Só 802.614 pessoas se enquadram nessa categoria.
Em ano de 2022, foi constatado que o valor não sacado do FGTS atingiu a cifra impressionante de R$ 8,4 bilhões. O montante esquecido pelos trabalhadores chama atenção ao ser comparado aos gastos destinados à construção e reforma dos doze estádios utilizados durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, que totalizaram cerca de R$ 8,3 bilhões.
Em 2022, uma medida provisória instituindo o saque extraordinário do FGTS liberou um valor inicialmente de R$ 32 bilhões para mais de 46 milhões de pessoas. No entanto, 13,3 milhões não sacaram o recurso, equivalente a R$ 8,4 bilhões. Os valores foram disponibilizados através do aplicativo “Caixa Tem”, e para aqueles sem contas digitais, o banco providenciou a abertura automática para agilizar o recebimento. Mesmo assim, 28,9% dos trabalhadores aptos ao recebimento não chegaram a sacar o dinheiro depositado em suas contas.
Jornalista, é autora de Prostituta é comunidade: a história de uma mulher que fez do sexo ganha-pão e luta (Ed. Arisca). Foi estagiária de jornalismo na piauí, repórter no G1 PI e na revista Revestrés
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno