Valdermar Costa Neto FOTO_DIEGO BRESANI
Valdemar Costa Neto, o político que escapou das urnas
Presidente do PL pavimentou seu caminho com muita fé na ideia de que é dando que se recebe
No Brasil, ser presidente de um partido político é um negócio e tanto. A verba para pagar aluguel, remunerar funcionários e outras atividades chega pontualmente todo mês, vinda do contribuinte na forma de fundo partidário, cujo montante varia conforme o tamanho da sigla. Como presidente do PL, Valdemar Costa Neto tem o que pode ser considerado o melhor emprego do Brasil: seu partido receberá da União neste ano o equivalente ao orçamento de uma cidade grande. Dos 5 mil municípios brasileiros, menos de 200 têm orçamento superior a 1 bilhão de reais – a soma que o PL irá embolsar até dezembro, reunidos os fundos partidário e eleitoral.
Para chegar aonde chegou, Valdemar pavimentou seu caminho com método, pragmatismo e uma fé incondicional na ideia de que é dando que se recebe, conta Thaís Oyama na edição deste mês da piauí. Se ele não tem atributos que o eleitor aprecia, é certo que seu estilo agrada a muitos políticos: diz na lata o que quer, manda no seu partido e cumpre acordos.
Filiado ao PL, Jair Bolsonaro trouxe uma penca de problemas para Valdemar, mas lhe deu sobretudo alegrias. Antes dele, o PL tinha 42 deputados. Hoje, tem 99. “O Bolsonaro mudou a minha vida”, costuma dizer Valdemar, que passou a usufruir de uma popularidade que nunca havia experimentado.
Em contrapartida, ele deu a Bolsonaro casa, comida e roupa lavada: o PL paga o salário, os assessores, os advogados e o aluguel da residência do ex-presidente. Até da alimentação o partido cuida. No ano passado, Valdemar, preocupado com o fato de que Bolsonaro “só comia Miojo”, mandou reformar e equipar a cozinha da sede do partido, em Brasília, para deixá-la em condições de providenciar almoços “mais saudáveis”.
Valdemar não demonstra interesse algum por assuntos como a desigualdade social, descriminalização da maconha, desmatamento da Amazônia e outros temas da pauta nacional. A aversão ao debate ideológico e a plasticidade de suas convicções fizeram-no transformar o PL numa exceção nesses tempos de polarização – o raro caso de uma sigla em que cabem, ao mesmo tempo, muito de Jair Bolsonaro e um pouco de Lula.
O partido acomoda bolsonaristas raiz, como Bia Kicis, Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro, e também parlamentares que votam sistematicamente com o governo, como João Carlos Bacelar, Luiz Carlos Motta, Junior Lourenço e Fernando Giacobo. Por serem nomes próximos a Valdemar, eles compõem a ala que bolsonaristas chamam de “pl do V” – o pl do Valdemar. Como esses parlamentares são os que mais receberam emendas individuais no primeiro semestre do governo Lula, também foram apelidados de “emendistas”. Deputados do pl dizem que Valdemar faz votos com os bolsonaristas e pisca para o governo com os emendistas. “A relação de Valdemar com o governo do pt não poderia ser melhor”, afirma um expoente petista com trânsito no Palácio da Alvorada.
Em meados de maio, Valdemar declarou que o pl condicionaria seu apoio nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado à defesa de propostas de uma “anistia” a Bolsonaro, que está inelegível por oito anos. A intenção de Valdemar ao colocar a “proposta” de anistia na mesa foi afagar a fatia bolsonarista do PL e dar uma lustrada na imagem do ex-presidente. Mas o fato é que Bolsonaro serve a Valdemar em qualquer situação, inclusive preso. Um conselheiro, aliás, andou soprando para o presidente do PL que, como cabo eleitoral, Bolsonaro pode valer mais atrás das grades do que solto.
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